O Presidente brasileiro, Lula da Silva, fez hoje “um compromisso de honra” de acabar com a fome no país até ao fim do seu mandato, em 2026. Não dará para Lula “emprestar” a estratégia ao seu querido amigo general João Lourenço, para ele fazer o mesmo em Angola?
Lula da Silva, que falava no Palácio do Planalto, em Brasília, durante uma reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, disse peremptoriamente: “É um compromisso de honra, de fé, de vida, a gente acabar com essa maldita doença chamada fome que não deveria existir”.
“Ao terminar o meu mandato, no dia 31 de Dezembro de 2026, a gente não vai ter mais ninguém passando fome por falta de comida neste país”, garantiu. Parafraseando Lula da Silva, será que, em Angola, os 20 milhões de pobres passam fome sem ser “por falta de comida”?
Dirigindo-se ao seu Governo, o chefe de Estado brasileiro disse que este objectivo só não será cumprindo “se a gente virar preguiçoso e a gente não trabalhar”. Boa!. Não se aplica em Angola. Ser preguiçoso e não trabalhar é, há 50 anos, a pedra de toque dos governos do MPLA.
“Nós temos todos os instrumentos para acabar com a fome no país”, sublinhou, referindo-se ao facto de o país ser um dos principais produtores e exportadores de agro-pecuária do mundo.
De acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em Julho de 2023, mais de 70 milhões de brasileiros sofria de insegurança alimentar moderada ou severa em 2020 e 2022. Esta situação atinge 32,8% da população do maior país da América Latina, equivalente a 70,3 milhões de brasileiros.
De acordo com a ONU, um em cada dez brasileiros passou por situação de insegurança alimentar severa entre 2020 e 2022.
Por outro lado, 10,1 milhões de pessoas no Brasil passaram pelo nível mais elevado de insegurança alimentar, subalimentação crónica, representando 4,7% da população do país.
FALEMOS DE NÓS, OS ANGOLANOS
A província do Namibe acolheu recentemente a 8ª Reunião do Comité Directivo do Programa Fresa, financiado pela União Europeia. A iniciativa apoia a redução da fome, pobreza e vulnerabilidade à insegurança alimentar e nutricional na área do sul que está entre as mais afectadas pelas alterações do clima, tal como as de Cunene e Huíla.
Instituições do Governo de Angola (do MPLA há 49 anos), agências da ONU e parceiros de implementação e desenvolvimento analisaram a situação dos projectos actuais e a acção associada ao programa que é financiado pela União Europeia.
A representante em Angola do Programa da ONU para o Desenvolvimento, PNUD, Denise António, saudou as autoridades por reconhecerem a urgência de melhorar a capacidade nacional em se preparar para desafios e situações imprevistas. Relembre-se que a fome em Angola não é uma “situação” tão imprevista quanto diz a propaganda oficial. Basta, aliás, comparar a situação do país na altura em que se trocou a colonização portuguesa pela colonização do MPLA.
Denise António destacou que, pela primeira vez, o Governo de Angola criou um plano estratégico (certamente com um animado “power point”) para a prevenção e redução do risco de desastres. A chefe do PNUD no país reafirmou o compromisso em apoiar o desenvolvimento para que sejam alcançados os objectivos do Plano Nacional de Desenvolvimento e da Agenda 2030.
No Fresan, o PNUD contribui para a componente que defende o reforço institucional e a gestão multissectorial da informação, em particular o resultado sobre a implementação da Estratégia de Gestão do Risco de Desastres e os mecanismos de coordenação interinstitucional pelas autoridades de tutela.
Já a actuação cobrindo a redução do risco de desastres, RRD, informa sobre as ameaças e o desenvolvimento, segundo metas do Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS, e do Quadro de Sendai para a Redução do Risco de Desastres.
Com parceiros nacionais, o PNU apoia o reforço dos quadros políticos, jurídicos e institucionais em diferentes níveis nacionais, na promoção de uma maior coordenação dos esforços de RRD e de adaptação às alterações climáticas.
Outras medidas incluem promover o acesso a informações sobre os riscos e os sistemas de alerta precoce, além de reforçar as medidas de preparação e recuperação.
O programa financiado pela União Europeia em Angola apoia a gestão do risco de desastres, o fortalecimento da resiliência e a adaptação às alterações climáticas na região sul com a assistência do PNUD.
A agência também tem intervenções com o Ministério do Interior, a Comissão Nacional de Protecção Civil, o Serviço de Protecção Civil e Bombeiros para a redução de risco de desastres desde 2019, quando foi lançado o projecto Fresan. Até ao momento foram formados 157 técnicos de diferentes instituições em Sistemas de Informação Geográfica e Gestão de Risco de Desastres.
As iniciativas apoiam áreas como formação de formadores, capacitação executiva em gestão de redução de riscos e desenvolvimento, sistemas provinciais de informação de risco e recolha de dados.
O técnico de Protecção Civil da Província do Cunene, Victor Pedro Júnior, lembrou a relevância do Curso Regional sobre Formulário de Avaliação Rápida Multissectorial tendo em conta que “o sul de Angola é ciclicamente afectado por cheias e secas severas que requerem intervenções estruturais”.
Falando após participar na experiência, ele acrescentou que aumentou “a capacidade de recolher dados e inseri-los no sistema de modo a analisar os eventos de desastres e seus impactos de forma sistemática”. Entre os ganhos da iniciativa estão “melhorar as medidas de prevenção, mitigação e preparação para reduzir o impacto dos desastres nas comunidades”.
Autoridades presentes no evento incluíram o governador do Namibe, Acher Mangueira, a ministra do Ambiente, Ana Paula de Carvalho, e o secretário de Estado da Saúde para a Área Hospitalar, Leonardo Europeu Inocêncio.
A comunidade internacional esteve representada no evento pela União Europeia, pelo Camões – Instituto da Língua Portuguesa e Cooperação, e por agências da ONU em Angola.
E enquanto isso os angolanos continuam a ser gerados com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com… fome. No Brasil o Presidente quer resolver a fome dizendo aos seus ministros que deixem de ser preguiçosos e que trabalhem. Em Angola o Presidente continua a defender que os seus assalariados ganhem bem para de manhã nada fazerem, para à tarde descansarem e para que – depois de um árduo dia de trabalho – à noite irem dormir…
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