A CULPA É SEMPRE DOS OUTROS

O governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Manuel Tiago Dias, justificou a estagnação do kwanza dos últimos meses com a forte depreciação que a moeda angolana registou no ano passado, principalmente em Maio e Junho. Quem diria? Depreciação levou à estagnação. É obra!

A resposta tem a ver com “a depreciação que o kwanza registou no ano passado, principalmente nos meses de Maio e Junho. No cômputo geral de 2023, o kwanza registou uma depreciação de 39%, o que acaba por ser bastante significativo”, disse à Lusa o governador, à margem das Reuniões de Primavera 2024 do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial que decorreram esta semana em Washington.

“Pensamos que os operadores do mercado, tendo em conta o que aconteceu no ano passado e as expectativas que têm sobre aquilo que poderá acontecer em 2024, entendem que as transacções devem ser realizadas no patamar actual”, acrescentou.

“Em todo o caso, contrariamente ao que muitos observadores pensam, a taxa de câmbio tem registado ligeiras oscilações, quer para mais, quer para menos, mas não naquela magnitude que nós registamos no ano passado”, observou ainda.

O governador frisou que a determinação da taxa de câmbio não tem qualquer intervenção do Banco Central, dependendo do equilíbrio que possa existir entre a procura e a oferta.

Em relação a projecções para este ano, o BNA mantêm a previsão de uma taxa de inflação à volta de 19%, tendo em conta a evolução dos preços de 20% no ano passado, assim como as condições prevalecentes, principalmente no mês de Março, “quando o Comité de Política Monetária do BNA se reuniu e olhou para os diversos indicadores”, acabando por manter, “para já”, a perspectiva de inflação de 19%.

Manuel Tiago Dias referiu que nessa reunião do Comité de Política Monetária foi efectuada uma alteração às principais taxas de juro, fixando a taxa da facilidade de cedência de liquidez em 19,5%, a taxa da facilidade de absorção de liquidez em 17,5% e a taxa directora (conhecida como taxa BNA) em 18,5%.

O Comité de Política Monetária do BNA voltará a reunir-se em Maio, quando procederá à revisão dos diversos indicadores, quer internos, quer externos.

Relativamente às Reuniões de Primavera do FMI e do Banco Mundial, o governador disse que as expectativas da participação angolana giraram em torno da “missão principal, que tem a ver com a estabilidade dos preços na economia”.

A “estabilidade do sistema financeiro angolano” esteve também no foco da presença da delegação de Angola, em Washington, onde esteve também a ministra das Finanças Vera Daves.

Os responsáveis angolanos tiveram diversos encontros “quer com parceiros internacionais, quer com parceiros bilaterais” (os parceiros bilaterais não são internacionais?), e centraram-se na troca de experiências e informações, referiu o governador do Banco Nacional de Angola.

A grande desvalorização da moeda nacional angolana, o kwanza, deve-se ao facto da economia angolana não ter “fundamentos” para suportar a moeda e não haver produção interna para atender à procura, disseram economistas angolanos.

Em Dezembro do ano passado, o economista e coordenador do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada de Angola, Ula, Heitor Carvalho disse que Angola não produz o suficiente para o consumo interno e isso foi agravado pela proibição de importações.

“Como não há produtos suficientes produzidos em Angola cria-se escassez” disse, explicando que “quando há muita gente à procura de arroz, por exemplo, e não há arroz suficiente o preço sobe, assim aconteceu com todos os outros produtos”.

“Mesmo com a taxa de câmbio oficial fixa e uma enorme taxa de inflação, esse desequilíbrio entre o que produzimos e o que as pessoas procuram para comer mantém-se. Cortar a importação foi péssimo sob todos os pontos de vista”, disse Heitor Carvalho.

Para o investigador da ULA, Angola não deve continuar a depender a sua taxa ao sabor do petróleo, mas na produtividade interna em relação à produtividade externa.

Heitor Carvalho rejeitou acusações de que planos do Fundo Monetário Internacional para Angola são responsáveis pela situação, afirmando que o FMI cumpriu o seu papel. “O FMI não tem culpa de nada”, afirmou.

Por seu turno, Alves da Rocha coordenador de outro centro de investigação, o da Universidade Católica de Angola, pensa que “a grande razão da desvalorização do Kwanza é que a economia angolana não é forte, não é estruturada, não é diversificada”.

“Quando há um abalo no sector dos petróleos, naturalmente isso repercute-se de imediato nas finanças públicas e na própria economia, acrescentou o economista para quem “sendo a economia dependente de importação, quando faltam divisas, para suportar estas importações, as dificuldades de funcionamento da economia nacional aumentam e como o kwanza não tem nenhum suporte estrutural, desvaloriza.”

Quanto ao papel do FMI nesta questão cambial, Alves da Rocha pensa que o problema está na fragilidade da nossa estrutura económica.

“O FMI na altura fez o seu papel com os acordos assinados, só que a economia angolana não tem fundamentos, não tem retaguarda, para interiorizar o que de positivo essas medidas tinham, mas é a nossa economia que não tem retaguarda, logo os efeitos perdem-se, não se verificam”, afirmou.

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