“TÊTE-À-TÊTE” COM TÉTE ANTÓNIO

O ministro das Relações Exteriores angolano, Téte António, admitiu hoje que a questão da mobilidade e promoções na carreira diplomática especial têm causado “profundo descontentamento” no seio dos funcionários e garantiu ultrapassar “brevemente” este impasse de maneira “abrangente e inclusiva”.

Téte António disse estar “ciente dos inúmeros problemas” que têm causado um “profundo descontentamento” no seio dos funcionários, principalmente no que diz respeito à mobilidade e às promoções na carreira especial.

Com base nas conclusões apresentadas pela comissão criada para o efeito, frisou, o Governo vai “ultrapassar este impasse muito brevemente de maneira paulatina, abrangente e inclusiva”.

O governante angolano, que falava hoje por ocasião da cerimónia de cumprimentos de ano novo, disse igualmente acreditar que o novo estatuto orgânico do órgão ministerial deve proporcionar “mais pistas para a harmonização e regularização da situação administrativa colectiva”.

“Muito concretamente, a direcção do ministério trabalhará dentro do melhor prazo na regularização e normalização do processo de rotatividade, na implementação do Plano de Formação, na implementação do seguro de saúde para os funcionários e os seus dependentes”, realçou.

A reabertura do refeitório para todos os funcionários, extensão da rede de supermercados para os cartões de compras e no melhoramento da assiduidade dos funcionários faz também parte das acções a serem desenvolvidas.

As referidas temáticas, que visam a melhoria das condições sociais e laborais dos funcionários do Ministério das Relações Exteriores angolano, “serão abordadas em consultivo alargado no primeiro trimestre deste ano”.

O embaixador Téte António enalteceu a recém-nomeada secretária de Estado para a Administração, Finanças e Património acreditando no seu trabalho para a “melhoria substancial das condições de trabalho, quer da situação administrativa como financeira dos funcionários”.

Sobre as acções desenvolvidas em 2022, o ministro angolano destacou a presença de observadores internacionais nas “eleições” de Agosto, que “louvaram de forma unânime as condições organizacionais postas à disposição pelas autoridades competentes”.

Salientou que os observadores internacionais enalteceram também a “maturidade e o sentido patriótico” demonstrados pelo conjunto da classe política nacional ao longo do processo eleitoral.

“Esses indicadores positivos concorrem sem sombra de dúvida para o reforço da posição da República de Angola no contexto internacional”, assinalou, referindo que 2022 foi ainda marcado por uma actividade diplomática “intensa” no plano bilateral e multilateral.

Segundo Téte António, as acções diplomáticas foram lideradas pelo Presidente angolano, João Lourenço, um exercício que “tem contribuído não só para consolidar o papel de Angola enquanto actor incontornável em África, mas também para abrir novos horizontes de cooperação”.

“Queremos aqui lembrar que ao nível continental, sob proposta da República de Angola, a União Africana realizou, em Maio passado, a 16.ª Conferência Extraordinária dos Chefes de Estado e de Governo dedicada ao Terrorismo e às Mudanças Inconstitucionais de Regime em África”, notou.

Com base na “experiência” de Angola em “matéria de paz e segurança” e na qualidade de presidente da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos, a cimeira “decidiu confiar ao Presidente angolano a missão de mediar a situação de tensão política existente entre a República Democrática do Congo e a República do Ruanda”, recordou.

O chefe da diplomacia angolana, na sua intervenção, disse ainda que Angola, em 2022, “aproveitou a oportunidade para reafirmar, numa das mais importantes tribunas a nível internacional, o compromisso com a causa das alterações climáticas”.

Angola assumiu em Dezembro passado a presidência rotativa da Organização dos Estados da África, Caraíbas e Pacífico (OEACP), por um período de três anos, após realizar em Luanda a 10.ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da organização.

Téte destacou o momento considerando que a presidência angolana da OEACP irá contribuir para “maior visibilidade e elevação do país ao nível mundial, pelo facto de ser uma importante plataforma congregando 79 países oriundos de três continentes diferentes”, rematou o governante angolano.

Propaganda não faz o café crescer

No dia 23 de Novembro de… 2015, o director do Instituto Nacional do Café defendeu – qual navegador que descobriu a pedra filosofal – a aposta de Angola no modelo agro-exportador, nomeadamente do café, que considerou ser o único nesse momento com hipótese de competir rapidamente no mercado internacional, tal como aconteceu no passado.

Na altura, o embaixador da missão permanente de observação da União Africana junto da ONU, o angolano Téte António (hoje ministro das Relações Exteriores), disse que “todos os dirigentes africanos estão cientes de que é preciso diversificar as economias”, explicando que o atraso se devia aos resquícios do colonialismo, pelo que “não podemos negar que o legado colonial ainda tem um grande peso nos nossos países”.

Estaria a referir-se ao que o colonizador fez em prol do café angolano e que, 47 anos depois, ainda está muitíssimo longe de ser atingido pelos peritos do MPLA, tipo Téte António?

O director do Instituto Nacional do Café, João Ferreira, falava à imprensa, à margem da reunião de peritos, que antecedeu a 11ª Assembleia-geral da Rede de Pesquisa de Café Africana, que decorreu em Luanda, envolvendo 500 especialistas de 25 países.

Segundo o responsável, numa altura que Angola realizava esforços para diversificar a sua economia, face à crise petrolífera, o Governo tem que pensar no modelo agro-exportador para ganhar “alguma divisa na produção agrícola”, sendo que no passado já foi um dos maiores produtores mundiais de café. Estávamos em 2015.

“Não me parece que as outras culturas consigam impor-se no mercado internacional, até porque a competitividade de países tem custos de produção muito mais inferiores”, disse João Ferreira.

O responsável referiu que Angola tinha então (2015) uma “fraquíssima” produção de café, de cerca de 12 mil toneladas por hectare, e registava igualmente níveis baixos de industrialização. Tudo por culpa dos colonialistas portugueses, segundo Téte António.

De acordo com o responsável, um dos desafios era munir o continente africano de tecnologia de ponta, para se passar da “cultura do café intensiva em mão-de-obra para uma cultura intensiva em capitais”. Será na defesa desta tese que hoje se incentiva a produção familiar?

“África precisa mecanizar a cultura do café, é preciso utilizar alguns agro-químicos, é preciso revermos o nosso sector do café, para torná-lo mais competitivo. O que estamos a discutir do ponto de vista da investigação é um pouco isto: que projectos fazer, que tipo de tecnologias abordar, que tipos de laboratórios termos, se vamos para o tipo de reprodução do café, por sistema de produção generativa vegetativa, que tipos de variedades conservar”, explicou João Ferreira.

África representava em 2015 cerca de 5% da produção mundial de café, tendo uma baixa competitividade, fracas produções por hectare, que variam entre as 300 e os 500 quilogramas por hectare, enquanto os outros países apresentam produções de cerca 3.000 quilogramas por hectare.

Enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia. Não tenhamos receio de aprender com quem sabe mais e fez melhor, muito melhor. Só assim poderemos ensinar a quem sabe menos.

Angola era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.

Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.

Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.

Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.

Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.

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