O MPLA (partido que só está no Poder há… 47 anos) decidiu criar um Departamento de Tecnologias de Informação e Comunicação, que vai fazer todo o trabalho da base de dados do partido. A criação foi aprovada em reunião do Bureau Político, orientada pelo Presidente do partido, João Lourenço. Também presentes (ou não fosse Angola uma democracia topo de gama) estiveram o Presidente da República e o Titular do Poder Executivo…
Segundo Rui Falcão, secretário para a Informação e Propaganda do MPLA, quando estiver em funcionamento o novo departamento vai “proporcionar outro nível de intervenção”. Eis mais um exemplo dessa democracia topo de gama: 2Informação e Propaganda”.
Em declarações à imprensa (sim, é verdade, Rui Falcão também consegue falar), no final da reunião, o secretário informou que a sessão aprovou, igualmente, os relatórios de actividade e financeiro do ano de 2022, bem como a estratégia de quadros do partido.
Julho de 2022. O MPLA, a virgem das virgens, “não tomou conhecimento” nem forneceu material de propaganda ou meios financeiros para a passeata então realizada em Luanda, com actos de vandalismo e violência, garantia na altura Rui Falcão. Aliás, nesse dia, o MPLA nem sequer estava em Angola, portanto…
Recorde-se, cerca de 14 mil motoqueiros desfilaram no passado em Luanda numa passeata “em louvor dos feitos” do Presidente João Lourenço, organizada pela Associação de Jovens Unidos e Solidários (AJUS), cujos dirigentes são militantes de uma seita desconhecida em Angola e que se chama Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
A iniciativa, realizada no mesmo dia em que João Lourenço presidiu a um megacomício que marcou o arranque da campanha eleitoral, terminou com distúrbios e actos de vandalismo, alegadamente devido ao facto de a organização ter falhado nos pagamentos aos jovens participantes, o que a AJUS desmentiu.
Além de uma viatura incendiada, na Ilha de Luanda, os motoqueiros queimaram também (que é um crime contra o mais soberano do mundo) material de propaganda política com a efígie de João Lourenço.
O porta-voz do MPLA, Rui Falcão, negou que o partido tenha fornecido materiais, sublinhando que “os meios de campanha não têm qualquer semelhança com os usados na dita passeata”.
Em resposta às questões colocadas pela Lusa, Rui Falcão garantiu que o secretariado do Bureau Político “não fez qualquer contacto” com os envolvidos e que a estrutura de coordenação da campanha “não tomou conhecimento de qualquer passeata”.
“Não faria qualquer sentido autorizar a sua realização no preciso momento em que estávamos a preparar o lançamento da nossa campanha com um comício gigantesco” presidido pelo candidato do MPLA, comentou e onde o partido que terá, ao que tudo indica, juntado mais de 20 milhões de pessoas, pelo que não sobraria nenhum angolano para participar na dita passeata…
A polícia angolana nunca se pronunciou oficialmente sobre a ocorrência, porque – compreende-se – se o MPLA não estava em Angola, a Polícia Nacional (do MPLA) também não estava.
Dizia o ex-ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria… do MPLA, na altura governador do Huambo, Kundi Paihama (já falecido), que a história de Angola era rica em exemplos e actos indeléveis de heroísmo e valentia protagonizados por milhares de patriotas angolanos, e pelo sacrifício dos melhores filhos desta pátria.
Sim, era o mesmo Kundi Paihama que disse: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”. Sim, era o mesmo Kundi Paihama que afirmou: “Eu semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”. Sim, era o mesmo Kundi Paihama que aconselhou os angolanos de segunda a comer farelo porque “os porcos também comem e não morrem”.
Como sempre fazia quando falava do aniversário do início da luta armada de libertação nacional, em representação do então “querido líder” José Eduardo dos Santos, Kundi Paihama disse que “é graças a este heroísmo que da luta armada de libertação nacional contra o regime colonial português que hoje honoramos a memória dos nossos heróis preservando a paz e democracia”.
De acordo com o ex-ministro do farelo, foi a partir da inspiração e coragem e determinação desta acção que se considerou que a via armada era a única solução para derrubar o regime colonial, generalizando-se aos poucos em todo o território nacional, gerando um amplo movimento de libertação nacional.
Talvez tenha sido a partir dessa inspiração que o MPLA também resolveu matar milhares e milhares de outros angolanos, como fez Agostinho Neto nos massacres de 27 de Maio de 1977.
Pouco antes das eleições de 2012, em várias províncias, nomeadamente Benguela e Cuanza Sul, a população começou a debandar para as matas temendo, como diziam, o regresso da guerra.
Mas, afinal, quem falava em guerra? O próprio regime que estava então a movimentar as Forças Armadas Angolanas (FAA) por todo o país, justificando com uma normal movimentação de efectivos. A população não acreditava. E era isso mesmo que o MPLA pretendia.
Na capital mas com repercussão nacional, Bento Bento, pedia aos militantes do seu partido para que controlassem “milimetricamente” todas as acções da oposição, em especial da UNITA, para não serem “surpreendidos”. Mais recentemente o general Francisco Furtado, ministro de Estado e chefe da Casa Militar de João Lourenço, avisava que quem criticar o MPLA “vai levar no focinho”.
De acordo com o então primeiro secretário de Luanda do MPLA, a oposição liderada pela UNITA decidira enveredar por “manifestações violentas e hostis, provocando vítimas, inventando vítimas, incentivando à desobediência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e paus”.
Era caso para dizer: Que bandidos são estes tipos da oposição. E na altura (como hoje) Francisco Furtado ou Rui Falcão ainda não tinham descoberto que os principais dirigentes da UNITA têm em casa um arsenal bélico que, apesar de antigo, ainda pode fazer estragos: Kalashnikov, mísseis Stinguer e Avenger, órgãos Staline, katyushas, tanques Merkava e muito mais…
Dizia Bento Bento que a direcção do MPLA “tinha dados da inteligência (informações) nas suas mãos que apontam que a UNITA estava prestes a levar a cabo um plano B”. Tinha? Será que agora não tem? Francisco Furtado sabe, com certeza. E Rui Falcão também.
Este plano previa, segundo os etílicos delírios de Bento Bento, “uma insurreição a nível nacional, tipo Líbia, Egipto e Tunísia”, sendo as províncias de Luanda, Huambo, Huíla, Benguela e Uíge as visadas. Aí estava o espírito da guerra, tão querido ao MPLA.
Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, ténue e embrionária, a possibilidade de alguma mudança, o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de perder o controlo sobre a fraude eleitoral.
Para além do domínio total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o MPLA sempre apostou forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação.
No início de 2008, recorde-se, circularam notícias convenientemente plantadas que, no Moxico, “indivíduos alegadamente nativos criaram um corpo militar que diz lutar pela independência”. Então agora que viram as semelhanças entre Gangsta e Savimbi…
Na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime, são isso sim inimigos, o MPLA pode sempre jogar a cartada, tão do agrado das potências internacionais que incendeiam muitos países africanos, de que há o perigo de terrorismo ou do regresso à guerra civil.