PORTUGUESES, VOLTEM E FAÇAM O QUE FIZERAM ANTES DA INDEPENDÊNCIA

O ministro de Estado para a Coordenação Económica de Angola, Manuel Nunes Júnior, afirmou hoje, no Porto, que Angola está aberta ao investimento em praticamente todos os sectores da sociedade, defendendo parcerias entre empresários dos dois países. Tese comum a todos os encontros similares realizados noutros países.

Manuel Nunes Júnior, que falava na abertura do Fórum Económico Portugal-Angola, considerou que “as parcerias de empresas angolanas com empresas portuguesas em certos sectores podem oferecer às empresas de Angola boas oportunidades para terem uma boa prestação em outros mercados e contribuir para a diversificação das exportações do país”.

“Por isso, nós precisamos que Portugal nos ajude a edificar uma economia cada vez menos dependente do petróleo e convidamos os empresários portugueses a investir nos nossos solos férteis, de modo a que, numa primeira fase, Angola possa tornar-se auto-suficiente na produção de alimentos”, disse o ministro angolano. Recorde-se que, até à tomada do Poder pelo MPLA, os portugueses (até então detentores do Poder na província) tinham conseguido que Angola fosse auto-suficiente – e até exportadora – em matéria agrícola e pecuária.

Manuel Nunes Júnior convidou os empresários portugueses a investir “na agro-indústria, na indústria têxtil e de vestuário, na indústria farmacêutica, no turismo, na educação, na saúde, nas pescas, na construção e em todos os sectores que possam contribuir para diversificação da economia angolana”. Grande parte destes sectores referidos pelo ministro angolano tinham, em 1973/74, unidades fabris em pleno funcionamento em Angola.

“Angola é um país aberto ao investimento em praticamente todos os sectores da nossa vida em sociedade”, disse o governante angolano, acrescentando: “O nosso desejo é ver Portugal a ajudar-nos na edificação em Angola de uma economia cada vez mais diversificada, uma economia que seja capaz de transformar os enormes recursos naturais de Angola em riqueza tangível para o país e para o povo angolano”.

Em síntese, bastaria ao ministro de Estado para a Coordenação Económica de Angola, Manuel Nunes Júnior, dizer que o desejo de Angola é que os portugueses ajudem o país a ser o foi até 11 de Novembro de… 1975.

O ministro de Estado para a Cooperação Económica considerou “importante” que os empresários angolanos “estabeleçam relações de parcerias estratégicas com empresários de outros países, possuidores de ‘know-how’ e de tecnologia avançada” para que o país “possa rapidamente ter acesso ao que de melhor o mundo nos pode proporcionar nos domínios empresarial e da tecnologia”.

“Para Angola, o investimento privado estrangeiro será sempre muito bem-vindo com vista a aportar ao nosso país não só o capital financeiro, mas sobretudo o ‘know-how’ e a tecnologia necessária aos processos de crescimento e desenvolvimento”, disse.

“Tendo em conta o conhecimento amplo que as empresas portuguesas têm do mercado angolano, tendo igualmente em conta o prestígio a qualidade e a aceitação dos produtos portugueses em Angola, estamos convencidos que Portugal pode desempenhar um papel particularmente relevante neste domínio”, frisou.

Manuel Nunes Júnior lembrou que quando, em 2017, o Presidente João Lourenço assumiu funções, “a economia angolana era caracterizada por elevados e sistemáticos défices orçamentais, taxa de inflação muito alta, uma taxa de câmbio com uma trajectória altamente desvalorizante e imprevisível e com uma economia real a exibir taxas de crescimento negativas”, o que gerou uma quebra da confiança dos agentes económicos e menos investimentos.

“Restaurar a confiança no mercado, por parte dos agentes económicos, constituiu e constituiu um factor crucial da acção governativa do executivo de Angola nos últimos cinco anos”, sublinhou.

Com as reformas fiscais implementadas a partir de 2018, no âmbito do programa de estabilização macroeconómica, Angola “saiu de défices sistemáticos das suas contas fiscais e passou a apresentar superávites” orçamentais todos os anos, com excepção de 2020, devido ao impacto da Covid-19.

“Com saldos orçamentais superavitários foi possível inverter a tendência de endividamento do país. O rácio de stock da dívida pública em relação ao produto interno bruto saiu de 134% em 2020 para 65% em 2022, muito próximo do patamar de 60%, que é a meta que pretendemos atingir”, afirmou o ministro.

Em seu entender, esta tendência de diminuição da dívida pública é “um factor essencial para diminuição gradual das taxas de juro de mercado, que já está a acontecer, mesmo, numa altura em que no mundo se assiste a uma tendência contrária”.

As taxas de inflação “têm conhecido igualmente uma trajectória nitidamente decrescente”: após um pico de cerca de 42% em 2016, foi reduzida para 13,8% em 2022.

“O nosso mercado cambial está a funcionar normalmente. Com a introdução de um regime de taxa de câmbio flexível que permitiu ajustar o valor da moeda nacional às condições de mercado, as transacções cambiais do país tornaram-se mais seguras e também mais previsíveis e aqueles que investem em Angola têm podido expatriar os seus dividendos livremente e, mais importante, em tempo oportuno”, acrescentou.

“Estamos a trabalhar para continuar nesta trajectória de crescimento económico, para que os grandes problemas sociais do país possam ser resolvidos, com especial realce para os níveis de desemprego, que actualmente se situam muito elevados”, salientou, considerando “um imperativo” o aumento da produção doméstica de bens e serviços.

O petróleo constitui hoje “mais de 95% dos recursos de exportação e mais de 60% das receitas tributárias do país”, indicou, reiterando que Angola quer diversificar a sua economia.

“Nós queremos acabar com esta grande dependência de petróleo e edificar em Angola uma economia mais forte e mais sustentada”, sustentou.

Considerou ainda que Portugal é “um país com uma economia cada vez mais diversificada, com uma economia orientada para o exterior” e, por isso, “as parcerias de empresas angolanas com empresas portuguesas em certos sectores podem oferecer as empresas de Angola boas oportunidades para terem uma boa prestação em outros mercados e contribuir para a diversificação das exportações do nosso país”, acrescentou.

Manuel Nunes Júnior falava na abertura do Fórum Económico Portugal-Angola, este ano dedicado ao tema “Construímos relações sólidas”.

O objectivo foi debater e analisar o desempenho e perspectivas sobre o futuro da economia angolana, para tornar as relações com Portugal, do ponto de vista empresarial, “mais operacionais e profundas”.

A sessão de abertura contou também com a presença do ministro da Economia e do Mar de Portugal, o angolano António Costa e Silva, que considerou Angola “um parceiro comercial e económico de muito significado para Portugal”, apontando que “em 2022 as exportações de Portugal para Angola passaram os 1.400 milhões de euros”.

“Temos mais de 4.500 empresas em Portugal que exportam para Angola, é um número muito significativo, e temos mais de 1.200 empresas portuguesas que operam em Angola em múltiplos domínios”, lembrou o ministro português.

Por mera curiosidade pedagógica e em síntese, o Folha 8 recorda que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1973, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia.

Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e Sã Tomé e Príncipe.

Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.

Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.

Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.

Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.

Assim, Angola em 1974 era o terceiro maior produtor mundial de café; o quarto maior produtor mundial de algodão; era o primeiro exportador africano de carne bovina; era o segundo exportador africano de sisal; era o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe; por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África;

Assim, Angola em 1974 tinha o CFB – Caminho de Ferro de Benguela, do Lobito ao Dilolo-RDC, o CFM – Caminho de Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue, o CFA – Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA – Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela;

Angola em 1974 tinha no Lobito estaleiros de construção naval da SOREFAME; tinha pelo menos três fábricas de salsicharia; tinha quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietários diferentes; tinha pelo menos quatro fábricas diferentes de tintas; tinha pelo menos duas fábricas independentes de fabricação ou montagem de motorizadas e bicicletas; tinha pelo menos seis fábricas independentes de refrigerantes, nomeadamente da Coca-Cola, Pepsi-Cola e Canada-Dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituosas do Lobito;

Angola em 1974 tinha a fábrica de pneus da Mabor; tinha três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande; era o maior exportador mundial de banana, graças ao Vale do Cavaco.

E falta falar da linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentares da Algodoeira Agrícola de Angola, e da portentosa indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e da EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum, e…, e….

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