NÃO BASTA ESTAR TRISTE E TER GRATIDÃO

A Igreja Católica angolana manifesta “tristeza e gratidão a Deus” pela vida e o ministério do papa emérito Bento XVI, que morreu no sábado, e realiza missas, em Luanda, pelo seu “eterno descanso”. E depois? Bom, depois (no caso de Angola) vamos continuar a aprender a viver sem… comer!

A arquidiocese de Luanda, em comunicado, agradece a Deus pela vida e ministério de Bento XVI e “em comunhão com toda a Igreja” convida as paróquias, casas de formação e comunidades religiosas a celebrar na quinta-feira a primeira missa em sua memória.

Segundo a nota, será realizada igualmente na sexta-feira uma solene celebração arquidiocesana, que deve congregar as dioceses de Luanda, Caxito e Bengo, na Igreja Sagrada Família, em Luanda, em sufrágio pela alma do papa emérito Bento XVI (Papa que visitou Angola em 2009).

“A província eclesiástica de Luanda, de modo particular as dioceses de Viana, Caxito e Luanda, vão juntar-se à Nunciatura Apostólica para celebrar na sexta-feira uma missa em sufrágio à alma do papa emérito Bento XVI”, disse o bispo de Caxito, Maurício Camuto, citado pela emissora católica angolana.

Maurício Camuto, também secretário-geral da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), recorda que Bento XVI deixou “gratas recordações e mensagens que continuam actuais” para a meditação e “enriquecimento espiritual”.

“Então, serão para nós também, não só um momento de manifestarmos a nossa dor e tristeza, a nossa acção de graças, mas também a nossa gratidão ao Senhor por nos ter concedido esse papa e também por ter passado pela nossa terra, por nos ter visitado”, realçou o prelado católico.

Um livro de condolências pela morte do papa emérito está aberto na Nunciatura Apostólica em Luanda.

Joseph Ratzinger, que foi papa entre 2005 e 2013, nasceu em 1927 em Marktl am Inn, na diocese alemã de Passau, tornando-se no primeiro alemão a chefiar a Igreja Católica em muitos séculos e um representante da linha mais dogmática da Igreja.

Os abusos sexuais a menores por padres e o “Vatileaks”, caso em que se revelaram documentos confidenciais do papa, foram temas que agitaram o seu pontificado. Bento XVI classificou os abusos como um “crime hediondo” e pediu desculpa às vítimas.

“Muitos governantes têm grandes carros,
numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo,
são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”

O Papa Bento XVI convidou, estávamos em Novembro de 2011, os africanos (nos quais, presumimos, se incluem os angolanos) a não idolatrar o poder do dinheiro e a tomar conta “daqueles que são postos de lado”. Os nossos 20 milhões de pobres indiciam que, pelo reino do MPLA, ninguém (incluindo a Igreja Católica) ouviu a mensagem do Papa.

Bento XVI, que falava durante a celebração da missa “O estado da amizade” em Cotonu, no último dia de sua visita ao Benin, disse, perante 30 mil fiéis e 200 bispos do continente africano, que a “realeza” de Jesus é diferente.

“Sem dúvida, pode parecer desconcertante para nós, mas hoje, como há dois mil anos, estamos acostumados a ver sinais de “realeza” em sucesso, poder e dinheiro e temos dificuldade em aceitar um rei que é o servo dos humildes”, disse.

O Papa aproveitou para pedir aos africanos para ajudar todos “aqueles que são postos de lado”, principalmente “todos aqueles que sofrem, os doentes, as pessoas afectadas pela Sida e outras doenças e todos aqueles que são esquecidos pela sociedade”.

“Mantenham a coragem”, disse o Papa, acrescentando que muitos em África “cuja fé é fraca têm uma mentalidade e o hábito de ignorar a realidade do Evangelho, acreditando que a busca da felicidade egoísta, fácil de ganhar, é o objectivo final da vida”.

E por falar em Igreja, em Angola a administração da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais. Não, ao contrário do que dirão de imediato os arautos do regime, não é o Folha 8 quem afirma tal coisa.

Quem o disse em 2009 (nada de substancial mudou até agora), no mais elementar cumprimento do seu dever, foi o arcebispo da cidade do Huambo, D. José de Queirós Alves, em conversa com o então Procurador-Geral da República do regime, João Maria Moreira de Sousa.

D. José de Queirós Alves admitia também que ainda subsistia no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça. Assim continua.

O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras.

“O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”, disse D. José de Queirós Alves.

Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão, que numa entrevista ao jornal português “O Diabo”, em 21 de Março de 2006, D. José de Queirós Alves já dizia (e assim continua) que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.

Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerava a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.

D. Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.

E, já agora, citemos Frei João Domingos que afirmou que em Angola “muitos governantes têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”.

Folha 8 com Lusa

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