JOÃO LOURENÇO IRRITA ISRAEL

O embaixador israelita em Angola, Shimon Solomon (foto), manifestou-se esta quinta-feira “profundamente desapontado” com Angola por não ter condenado o ataque do Hamas ao país e acrescentou que os amigos se conhecem em tempos difíceis. O dono do MPLA (e de Angola) resolve bem a questão. Vai dar mais uns milionários negócios a empresas israelitas.

O diplomata hebreu falou aos jornalistas em conferência de imprensa em Luanda, destacando a firme vontade de Israel em destruir o movimento terrorista palestiniano Hamas, bem como a solidariedade manifestada pelos países ocidentais, asiáticos e africanos, lamentando que Angola não tenha tomado posição.

O presidente angolano, general João Lourenço, na sua qualidade de presidente em exercício da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) condenou, na quarta-feira os actos de violência no conflito entre Israel e o Hamas e apelou às partes envolvidas para que pautem pela contenção, mas não o fez enquanto chefe de Estado de Angola.

“Somos bons amigos de Angola, lamentamos que não tenha havido condenação deste ataque”, criticou Shimon Solomon, salientando que outros países africanos como o Gana, o Quénia ou a Republica Democrática do Congo já o fizeram, “mas em Angola, infelizmente ainda não vimos isso”.

“A nossa expectativa, como somos amigos, era que Angola condenasse o ataque. Vemos quem são os amigos em tempos difíceis”, reforçou, afirmando que o comunicado da SADC é apenas uma condenação da violência, em termos gerais e diplomáticos, sem tomar posição.

Questionado sobre de que forma isso irá afectar as relações entre os dois países, que têm sido próximas, disse que é preciso “esperar para ver o que vai acontecer” para saber quais serão os passos futuros. “Claro que estamos profundamente desapontados”, reiterou, salientando que a reacção de Angola (leia-se MPLA) “foi uma grande surpresa”.

O conflito foi desencadeado pelo ataque surpresa, sábado, do grupo terrorista Hamas, que além de mortos fez reféns de diferentes nacionalidades, seguindo-se novos ataques e resposta israelita com um cerco ao enclave palestiniano, e já provocou pelo menos 1.300 mortes em Israel e 1.354 na Faixa de Gaza, segundo fontes oficiais das duas partes.

O embaixador abordou ainda os acontecimento de sábado, 7 de Outubro, dia de feriado judaico, em que Israel sofreu “um ataque terrorista do Hamas”, entidade que comparou ao Estado Islâmico, com o qual partilha “a mesma ideologia”.

Uma ideologia que “não é pela Palestina, nem pelos territórios, nem pelos direitos humanos” e que é contra judeus, cristão e todos os não-muçulmanos, frisou.

“Não foi um combate soldado a soldado, chacinaram mulheres e crianças, comportaram-se como animais”, lamentou, sublinhando que a decisão do Governo é “destruir totalmente o Hamas”.

Em resposta ao ataque, Israel tem bombardeado, nos últimos seis dias, várias instalações do Hamas na Faixa de Gaza, numa operação denominada “Espadas de Ferro”, e impôs um cerco total, cortando o abastecimento de água, combustível e electricidade.

Shimon Solomon lembrou que do ataque resultaram mais de 1.200 mortos, israelitas e estrangeiros, e afirmou que os israelitas valorizam os direitos humanos e não quiseram anteriormente exercer a força contra os palestinianos que estão a ser usados como escudo pelos militantes do Hamas, infiltrados entre a população.

“O Hamas não representa o povo palestiniano”, vincou o diplomata, apresentando Israel como “libertador” dos palestinianos que são também vítimas do Hamas.

O Hamas controla a Faixa de Gaza desde 2007 e é classificado como “grupo terrorista” pela União Europeia (UE), Estados Unidos e Israel.

O embaixador israelita defendeu que os países se devem apoiar mutuamente como forma de vencer o terror e que Israel está a desenvolver “acções muito radicais” porque está em guerra.

“Quem atacou quem? Foi o Hamas que atacou Israel e não foi contra o exército, foi contra inocentes (…) o que pedimos é que condenem o ataque”, exortou, acrescentando: “quem sofreu foi Israel”.

Sobre a situação dos civis na Faixa de Gaza assinalou que Israel visa alvos do Hamas e não mesquitas ou hospitais, mas admitiu que pode haver “erros”, pois, disse, os militantes islamitas estão misturados com a população.

Garantiu ainda que Israel tenta avisar os inocentes “para que saiam das casas” através de panfletos e mensagens, mas salientou que “vai ser uma longa e intensa guerra em Gaza”.

Questionado sobre a ajuda humanitária aos civis que se encontram naquele território, disse que “agora é guerra” e “só Deus sabe” o que virá a seguir. Quanto aos que defendem a causa palestiniana e se manifestam contra Israel, considerou que são “anti-semitas”.

Em 1995, Israel abriu a embaixada em Luanda e, em 2000, Angola abriu uma embaixada em Telavive.

Em 2006, o então Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, realizou a primeira visita oficial a Israel, durante a qual foram discutidas as possibilidades de expandir o comércio recíproco entre os dois países.

Mais recentemente, em Fevereiro deste ano, Angola enviou a Israel uma delegação de alto nível liderada pela ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Maria do Rosário Bragança, para explorar novas oportunidades de cooperação.

Actualmente, a cooperação incide, sobretudo, em actividades nas áreas da Agricultura, Saúde, Educação, Aviação, Construção Civil, Pescas, Diamantes, Segurança e Telecomunicações.

Angola tem também recebido milhões de euros em financiamento israelita canalizado para projectos de infra-estrutura através do grupo Mitrelli, que integra o conglomerado Menomaddin, liderado por Haim Taib.

O grupo MitrelIi está presente em seis países, incluindo Angola, Costa de Marfim, Senegal e Israel, sendo a sua principal operação no mercado angolano, onde o portefólio de empresas inclui, entre outras, a Kora (imobiliário), Owin (eletricidade, gás, água), Promed (saúde), New Cognito (Tecnologias de Informação), Focus Education (educação), etc..

Recorde-se que o Hamas declarou, em 2007, vitória sobre os seus rivais da Fatah, afirmando na altura que “estava garantida a libertação de Gaza e aberto o caminho para a criação de um Estado islâmico”.

As forças leais ao presidente Mahmoud Abbas (a quem a então secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, manifestou a solidariedade norte-americana) garantiam que nada estava decidido, que o Governo palestiniano (liderado na altura por Ismail Haniyeh, do Hamas) seria dissolvido com base numa declaração de estado de emergência e que a solução passaria pelo diálogo.

Sami Abu Zuhri, ministro do Hamas, garantiu que a sua organização estava disposta a dialogar com a Fatah, “embora as estruturas da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), de Mahmoud Abbas, sejam ilegais porque os palestinianos nunca reconheceram os Acordos de Oslo” que em 1993 criaram a ANP.

“Apenas o Governo liderado pelo primeiro-ministro Ismail Haniyeh tem legitimidade democrática para decidir o que deve ser feito”, acrescentou na altura Abu Zuhri. Para além da preocupação geral dos países da região, também os EUA manifestaram a vontade de, segundo George W. Bush, “fazer tudo para acabar com a violência e dar uma oportunidade a uma verdadeira democracia”.

Um porta-voz do Hamas disse que, “a não ser que a democracia seja diferente consoante os intervenientes, o Governo palestiniano foi eleito democraticamente embora contra a vontade dos seus inimigos, EUA e Israel”.

E se em Gaza o Hamas controlava militarmente, noutros pontos a situação era diferente. A Fatah incendiou instalações do Hamas em Nablus, Cisjordânia, enquanto reagrupava as forças de modo a travar os radicais islâmicos. Observadores admitiam que a Fatah estava a receber reforços de alguns países da região, um pouco à semelhança do que terão feito a Síria e o Irão em relação ao Hamas.

Neste conflito, o Hamas revelou uma importante coordenação militar. Depois de 24 horas de combate que fizeram dezenas de mortos, ocupou o quartel-general da Segurança Preventiva, principal símbolo de poder da Fatah na Faixa de Gaza.

O Hamas, para quem o quartel-general era um símbolo de submissão “ao poder sionista”, reivindicou também a morte de Samih al-Madhoune, um dos chefes das Brigadas dos Mártires de al-Aqsa (Fatah), bem como a tomada da rádio ‘Voz da Palestina’, afecta a Mahmoud Abbas.

Na altura Israel informou os seus aliados de que, em caso de um confronto grave, o Hamas dominaria a Fatah, apesar de as duas estarem praticamente “equiparadas quanto a homens e material”. A diferença estaria, segundo Telavive, ao nível da motivação e do apoio popular.

Folha 8 com Lusa

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