ÍNDIA AZUCRINA CONTAS DA ENDIAMA

José Ganga Júnior, presidente do Conselho de Administração da Endiama, empresa pública (do MPLA) vocacionada para a prospecção, reconhecimento, exploração, lapidação e comercialização de diamantes, criada a 15 de Janeiro de 1981, considerou hoje “muito mau” o presente ano para os diamantes angolanos, devido o facto de o mercado da Índia, receptor de mais de 90% da produção nacional, estar encerrado até Dezembro.

Segundo José Ganga Júnior, “é um ano complicado. Este ano de 2023 para o mundo dos diamantes é muito mau. Devo dizer que, só a título de exemplo, o mercado que recebe hoje mais de 90% da produção de Angola, que é o mercado da Índia, está encerrado, não recebe diamantes de parte nenhuma, até ao dia 15 de Dezembro, quer dizer que as empresas estão com dificuldade neste momento”, explicando que as empresas continuam a produzir, mas não conseguem comercializar os diamantes.

“Esta é a nossa realidade, estamos a produzir, não parámos, não estamos a vender conforme devíamos, mas temos que ser resilientes e aguentar, por isso é que os resultados este ano não vão ser muito bons”, vincou.

José Ganga Júnior participou hoje num ‘workshop’ promovido pela Endiama e o Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN) para a utilização pela diamantífera angolana, dos serviços de comunicação do satélite Angosat-2 e da aplicação espacial TECH-Minas – solução que visam fornecer produtos e serviços de observação da terra para o sector mineiro angolano.

A TECH-Minas é uma ferramenta inédita criada em Angola, para monitorizar a actividade mineira e o “alarmante” problema do garimpo.

José Ganga Júnior referiu que, com a TECH-Minas, fica facilitado o acompanhamento e monitorização da actividade mineira, dos níveis de desempenho, bem como do problema da segurança das áreas.

“O garimpo, que é alarmante, problemático mesmo, os problemas ambientais, os desastres ecológicos (…), nós podemos ver a partir do nosso gabinete, praticamente em tempo real, o que é que está a acontecer, se as nossas áreas estão a ser invadidas, por quem, como, e sermos mais assertivos nas nossas decisões”, disse.

Segundo o PCA da Endiama, o garimpo tem de ser combatido “e esta é uma ferramenta que permite, mesmo sentado no gabinete, ver onde há garimpo, qual é a incidência e sermos mais incisivos no seu combate”.

O responsável salientou que a ferramenta, criada pelo Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN), órgão do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, com apoio de parceiros locais, como a Endiama, e instituições internacionais, “vai permitir crescer, fazer mais, melhor, com menos custo”.

José Ganga Júnior sublinhou que a Endiama vai continuar a usar avionetas e helicópteros na sua actividade geofísica aérea, sendo a TECH-Minas apenas uma actividade complementar, que melhora a eficácia do trabalho.

“Nós, no início da actividade mineira, na fase de investigação, devemos primeiro utilizar informação que é cedida pelos satélites, para dar a estrutura tectónica dos locais onde pretendemos trabalhar, depois disso, acto subsequente, vão os aviões para fazer o levantamento aerogeofísico, a seguir vão as pessoas para o campo, com a geofísica terrestre”, acrescentou, realçando ainda a redução do custo.

O PCA da Endiama avançou que algumas empresas subcontratam esse tipo de serviços no exterior, por exemplo a Rússia, regozijando-se com a facilidade de a partir de agora o fazer localmente e na moeda nacional.

“Além de podermos pagar em kwanzas, temos disponibilidade mais imediata, mas de qualquer forma cada caso é um caso, em função da dimensão da tarefa, etc., é que nós podemos ter proposta comerciais, mas não tenho dúvidas que sairá muito mais barato e com economia de cambiais também”, observou.

A Endiama já está a utilizar a ferramenta nos projectos de Samacanda, uma área de prospecção 100% da Endiama, e de Luaximo, igualmente área de prospecção, que brevemente entra em operações. “São actividades que estamos a fazer no sentido de metermos a Endiama também como operadora mineira”, disse.

O sector conta actualmente com 16 empresas já em fase de produção e cerca de 40 projectos em prospecção, disse José Ganga Júnior, considerando o número ainda insignificativo tendo em conta o potencial que Angola possui.

A directora-adjunta para a área técnica e científica do GGPEN, Vangiliya Pereira, disse que o TECH-Minas usa inteligência artificial, como o ChatGPT, para permitir melhorar a experiência dos utilizadores no uso de ferramentas web de Sistema de Informação Geográfico (WebGIS).

Sobre a ferramenta hoje apresentada publicamente, Vangiliya Pereira destacou que qualquer empresa do sector diamantífero pode usufruir e que já está disponível.

Recorde-se, entretanto, que uma delegação de alto nível do subsector diamantífero de Angola, chefiada por José Manuel Augusto Ganga Júnior, visitou este mês o Secretariado Permanente do Fórum de Macau com o objectivo de trocar impressões sobre o mercado de Macau e o seu papel de plataforma para a cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Durante o encontro de trabalho, o Secretário-geral do Secretariado Permanente, Ji Xianzheng, procedeu à apresentação do mecanismo Fórum de Macau e o importante papel que joga no reforço da cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa e mostrou total disponibilidade em cooperar com a Endiama na sua pretensão de melhor conhecer Macau enquanto mercado de diamante e pedras preciosas.

Por sua vez, em Maio, a Empresa Nacional de Comercialização de Diamantes de Angola (Sodiam) informou que arrecadou 21,7 milhões de dólares (19,7 milhões de euros) com o leilão de 1.206,91 quilates de pedras especiais.

Uma nota da Sodiam refere que as pedras especiais de diamantes brutos das Sociedades Mineiras de Catoca, Chitotolo, Kaipexa, Lulo, Luminas, Lunhinga, Uari e Cooperativa Moquita foram vendidas em leilão no dia 19 de Maio de 2023.

A Sodiam realçou que o valor arrecadado ocorreu num ambiente em que a situação actual do mercado é caracterizada por elevados stocks de diamantes lapidados e escassez de liquidez.

Como era antes da independência

Angola foi, até ao início dos anos 60 do século passado, essencialmente um reservatório de matérias-primas por explorar, como um diamante em bruto que esperava pela lapidação. Mas em 1961 as coisas mudaram e as indústrias até aí adormecidas começam a acordar para o mercado. Com o território aberto para os investimentos nacionais e estrangeiros o caminho começou a desenhar-se. As primeiras indústrias a ganhar relevo – ainda que progressivamente – foram as do ferro e do petróleo, que conseguiram um lugar de destaque junto dos chamados produtos tradicionais, como o café e os diamantes.

O ferro principalmente, uma vez que se começou a investir em novas infra-estruturas, nomeadamente transportes (como os caminhos-de-ferro), indústrias extractivas e transformadoras. Foi no início dos anos 60 do século XX que o Planeamento Mineiro deu os seus primeiros passos em Angola, sob o impulso do engenheiro José Quintino Rogado, Catedrático de Preparação de Minérios do Instituto Superior Técnico e Director Técnico da Companhia Mineira do Lobito.

Nessa época surgem as primeiras tentativas de modelização matemática dos recursos minerais metálicos a partir da geo-estatística. A importância da Companhia Mineira do Lobito na economia de Angola era extremamente significativa: o valor médio anual da produção de minério de ferro no período 1968/1973 correspondia a 22.8 % da indústria extractiva e a 9.4% do total das exportações, o que levava a que este produto se posicionasse em terceiro lugar (a seguir ao café e aos diamantes) no ranking da economia de Angola, durante a derradeira fase colonial, em que a produção dos concentrados de ferro cresceu ao ritmo de 23% ao ano.

A Companhia Mineira do Lobito foi fundada em 1957 e logo assumiu a extracção de ferro na Jamba, Kassinga e Chamutete. Esta companhia cedeu depois as actividades à Krupp alemã, que também funcionava com capitais da Greg-Europe Belga e do Japão.

Referem ainda os dados disponíveis que a quantidade de exploração anual, incluindo a produção geral nas províncias de Malange, Bié, Huambo e Huíla, atingia a média de 5,7 milhões de toneladas em 1974. A maior parte do mineral era exportado para o Japão, Alemanha e Grã-Bretanha, que pagavam a Angola 50 milhões de dólares norte-americanos ao ano, a preços constantes.

O potencial mineiro do Moxico também alimentava nesta altura a indústria extractiva do país. Cobre, ouro, volfrâmio, diamantes, manganês e urânio eram transportados pelos Caminhos-Ferro-de Benguela para o porto de Lobito.

O Moxico nasceu à sombra do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) e cresceu como entreposto comercial até se tornar no mais importante centro da região. Na época colonial, a capital da província, conhecida por Luso (Luena) albergava uma das estações principais do CFB. As locomotivas, que transportavam milhares de toneladas de materiais, metais preciosos e produtos agrícolas entre o porto do Lobito, na costa Atlântica, e povoação fronteiriça de Luau, na parte oriental do país, faziam escala no Luso para se abastecer e depositar mercadorias. Ao mesmo tempo, Kassinga, na província de Huíla, era a jóia da coroa da metrópole na época colonial. As minas desta cidade abasteceram a Siderurgia Nacional com 985 mil toneladas de minérios para transformação.

Rica em ferro e manganês, os minerais eram transportados pelo ramal ferroviário até ao porto do Saco-Mar. E daqui seguiam para a Siderurgia Nacional, no Seixal, nos arredores de Lisboa. O Porto do Saco-Mar, concluído em 1967, possuía uma ponte constituída por betão assente sob fiadas de estacas. Mais tarde, seguiu-se a construção de um local com profundidade suficiente para receber navios de grande porte.

A Siderurgia Nacional era quase sempre o destino dos minerais angolanos. Inaugurado em Agosto de 1961, o complexo industrial produzia 230 mil toneladas de gusa (produto resultante do minério de ferro pelo carvão ou calcário num alto forno), 140 mil de escória, usada em aplicações como balastro de estradas, construção civil e fabrico de cimentos. Na área da aciaria, a produção anual era de 300 mil toneladas de aço bruto, e na laminagem, onde era transformado o aço, produzia-se 150 mil toneladas de aço para betão.

Sem os minérios de Kassinga a produção em Lisboa nunca teria atingido estes valores. Quase dez anos depois, no início da década de 70, a taxa de crescimento da economia angolana atingia níveis elevados fruto das modificações verificadas entre 1960 e 1972, a progressão da produção das indústrias extractivas nos dez anos anteriores. Esse crescimento foi particularmente visível – entre 1960 e 1972 – nos diamantes, ferro e petróleo, sendo que entre 1962 e 1968, a taxa de crescimento das indústrias extractivas foi de mais de 170% (cerca de 28% por ano) com preponderância para o ferro.

E mais: em 1968 e 1969 as vendas de ferro duplicaram. Foi neste sector — onde se encontrava o essencial dos investimentos estrangeiros multinacionais — que houve a maior expansão no período de 1960-72. Por exemplo, entre 1960 e 1972 a produção de minério de ferro passou, em números redondos, de 660 mil toneladas para 4.830 mil toneladas. O ferro estava em alta: durante esse período o minério era o principal produto exportado de Angola sendo que um importante conjunto de minas de ferro estava localizado nas Províncias do Huambo e Huíla, dentro da bacia do rio Cunene.

A última mina em exploração situava-se em Kassinga, Huíla, tendo cessado a extracção durante a guerra civil. Nessa altura as plantações existiam sobretudo na parte noroeste de Angola com especial destaque para a produção do café, seguida do algodão e do açúcar. As minas existiam sobretudo na parte noroeste de Angola, para a extracção de diamantes, e na parte sul de Angola – planalto de Huíla e Cuando-Cubango – para a extracção de minério de ferro.

Em 1973 as principais exportações eram ainda o petróleo (30%), café (27%), diamantes (10%), minérios de ferro (6%), algodão (3%) e sisal (2%).

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