EM RELAÇÃO A ANGOLA SÓ AS MOSCAS VÃO MUDAR

A embaixadora de Angola em Lisboa, Maria de Jesus dos Reis Ferreira, destaca a “excelência das relações” com Portugal, e salienta que “as relações económicas e de cooperação económica e empresarial são bases vitais de sustentação dessas relações privilegiadas”.

Maria de Jesus dos Reis Ferreira, que discursava na cerimónia oficial comemorativa dos 48 anos de independência de Angola, acrescentou ser “com satisfação” que o Estado angolano regista “a existência de mais de quatro mil empresas portuguesas desenvolvendo as suas actividades” no seu país.

A diplomata sublinhou que o governo angolano (do MPLA há 48 anos) “vem desenvolvendo esforços porfiados para que o investimento privado directo em Angola tenha um crescimento mais impetuoso, sobretudo nas áreas prioritárias definidas por Angola e em que as empresas portuguesas detêm significativa experiência”.

A este respeito, recordou que a visita que o primeiro-ministro português, António Costa, efectuou em Junho passado a Angola “permitiu aprofundar o diálogo e estreitar as relações de amizade e cooperação” bilaterais, “assim como reforçar parcerias em vários domínios, em particular no domínio económico e financeiro”.

Ainda em relação a essa visita, a embaixadora angolana acrescentou que na ocasião foi anunciado o “reforço do crédito governamental [por parte de Portugal], em mais de 500 milhões de euros, para apoio às empresas portuguesas que operam em Angola”, considerando tratar-se de uma “contribuição tangível para ajudar o reforço da participação dessas empresas, também de acordo com o programa de governo para o desenvolvimento” do seu país.

Maria de Jesus Ferreira recordou ainda que, durante essa visita, “foram assinados importantes instrumentos de cooperação entre os dois países, com destaque para o Programa Estratégico de Cooperação 2023-2027, alinhado com as prioridades estratégicas do governo da República de Angola, delineadas no Programa Nacional de Desenvolvimento, e em áreas onde Portugal detém reconhecida experiência de vantagens comparativas”.

Em Portugal, no actual contexto (queda do Governo de António Costa), todos podemos ficar descansados que em relação ao MPLA o processo de bajulação vai continuar, seja qual for o vencedor das próximas eleições lusas (10 de Março de 2024).

Nunca ninguém ouviu alguma vez António Costa (nunca ninguém vai ouvir Luís Montenegro – PSD, Nuno Pedro Santos ou José Luís Carneiro – PS) dizer que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é das mais altas do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças, ou que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico.

Nunca ninguém ouviu alguma vez António Costa (nunca ninguém vai ouvir Luís Montenegro – PSD, Nuno Pedro Santos ou José Luís Carneiro – PS) dizer que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade. Ou que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.

Nunca ninguém ouviu alguma vez António Costa (nunca ninguém vai ouvir Luís Montenegro – PSD, Nuno Pedro Santos ou José Luís Carneiro – PS) dizer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. Ou que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.

Nunca ninguém ouviu alguma vez António Costa (nunca ninguém vai ouvir Luís Montenegro – PSD, Nuno Pedro Santos ou José Luís Carneiro – PS) dizer que, em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder. Ou que Angola é um dos países mais corruptos do mundo e que tem 20 milhões de pobres.

Ninguém ouviu. Ninguém ouvirá. Dir-se-á, e até é verdade, que esse silêncio é condição “sine qua non” para cair nas graças dos donos do dono do nosso país, até porque todos sabemos que nenhum negócio se faz sem a devida autorização do general João Lourenço.

Portugal consegue assim não o respeito mas a anuência do regime para as suas negociatas. Esquece-se, contudo, de algo que mais cedo ou mais tarde lhes vai sair caro: o regime não é eterno e os angolanos têm memória.

MINTAM, MINTAM SEMPRE

Enquanto ministro da Administração do Território, Marcy Lopes, provavelmente no âmbito do cumprimento das ordens superiores do general João Lourenço, pediu (quem exige é o patrão dele) aos angolanos de primeira residentes em Portugal para não mostrarem “o lado mau” do país sob pena de afugentarem os investidores estrangeiros.

Para o ministro, não se deve mostrar ao mundo que Angola vive problemas de desemprego, que tem 20 milhões de pobres, que vê morrer muita gente (sobretudo crianças) com fome e com malária.

“Nós não podemos mostrar o lado mau ou mostrar ao mundo que o nosso País tem problemas ou que há desemprego. Temos é que mostrar apenas o lado bom porque precisamos de investidores. Precisamos é de divulgar o país com aquilo que é bom. O que é mau guardamos para nós”, disse Marcy Lopes, durante o encontro (Outubro de 2021) com os angolanas (do MPLA) residentes em Lisboa, onde esclareceu questões ligadas ao registo eleitoral no exterior.

Segundo o ministro, os angolanos “devem todos adoptar uma postura de divulgar o país para que os empresários estrangeiros invistam”. Mintam, aconselha o ministro Marcy Lopes. Ou seja, façam como o MPLA.

“Se falarmos do desemprego, logo afugentamos os investidores do País. Necessitamos é de investimentos, porque quem dá emprego são os investidores privados e nunca o Estado”, afirmou o ministro. E acrescentou: “Temos de vender uma boa imagem e não podemos mostrar o lado mau das coisas em Angola”.

Marcy Lopes salientou durante o encontro em Lisboa que os angolanos insatisfeitos devem é reclamar junto das instituições por escrito e nunca verbalmente. Ou seja, os cidadãos não devem fazê-lo em voz alta, mas sim expor as suas indignações num livro de reclamações.

“Críticas mal feitas não resolvem os problemas, críticas feitas fora do tom em nada resolvem, devemos é fazer as críticas em tom certo”, afirmou o ministro.

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