DOENÇA DO SONO “FINANCIA” O MPLA

As estratégias de erradicação da doença do sono em vários países africanos vão ser financiadas com mais 7 milhões de dólares, para prolongar por mais três anos a intervenção e alargá-la a países como Angola, foi hoje anunciado. Venham os dólares que o governo do MPLA (há 47 anos no Poder) não sofre dessa doença e sabe muito bem onde… onde… dá jeito gastá-los.

A parceria que apoia a eliminação da forma gambiana de Tripanossomíase Humana Africana (THA) – reunida no programa Trypa-NO!, liderado pela FIND, associada ao Instituto Nacional Francês de Investigação para o Desenvolvimento Sustentável (IRD) e à Escola de Medicina Tropical de Liverpool (LSTHM)- recebeu 6,8 milhões de dólares (6,28 milhões de euros) da Fundação Bill & Melinda Gates e subsídios do cantão suíço de Genebra, que elevam o montante total de financiamento acima dos 7 milhões de dólares e garantem mais três anos de vida ao projecto, de acordo com comunicado hoje divulgado.

A parceria Trypa-NO!, lançada em 2016, assenta numa combinação de esforços para erradicar a doença do sono através da integração do diagnóstico, tratamento e controlo da mosca tsé-tsé, em países como o Chade, Costa do Marfim, Guiné-Conacri e Uganda, estratégia que será alargada a partir do início deste ano a Angola, República Centro-Africana, Serra Leoa e Sudão do Sul.

“O financiamento adicional do cantão de Genebra permitirá ainda a continuação do apoio aos programas nacionais de eliminação na República Democrática do Congo (RDCongo) e em Angola”, destaca o comunicado da FIND, um grupo global sem fins lucrativos que liga países e financiadores para estimular a inovação diagnóstica no âmbito dos sistemas de saúde nacionais.

Nas últimas duas décadas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) inscreveu a eliminação da THA entre o grupo das suas principais prioridades. A doença, transmitida pela picada da mosca tsé-tsé, pode ser fatal, se for ignorada e não for tratada.

A THA é endémica em 36 países da África subsaariana e afecta principalmente pessoas que vivem em zonas remotas e rurais, o que faz da monitorização da doença um desafio.

As estratégias de erradicação da doença implementadas desde o início do século saldam-se por uma diminuição “drástica” do número de casos, de 30.000 infecções estimadas para menos de 1.000 casos anuais desde 2018, em particular na África Ocidental e Central, onde se encontra a forma gambiana da THA, e tornaram a sua eliminação “um objectivo realista”, de acordo com o comunicado.

O apoio à Trypa-NO!, anunciado hoje, Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas, garantirá que “mais países possam beneficiar de estratégias de eliminação adaptadas que utilizem as mais recentes ferramentas desenvolvidas para diagnóstico, tratamento, controlo vectorial e gestão de dados”, sublinhou o coordenador da parceria, Sylvain Biéler, citado na declaração.

Andrew Hope, director do programa de Alvos Minúsculos na LSTM sublinhou que “a eliminação da doença do sono como um problema de saúde pública na Costa do Marfim e no Uganda foi um enorme sucesso para a parceria” e a fase seguinte “é fundamental para assegurar que estes ganhos sejam sustentados e que continuamos a avançar no sentido da eliminação noutros países afectados”.

Forte combate às doenças tropicais negligenciadas

Abril de 2017. Os líderes mundiais reafirmavam comprometimento de pôr fim às doenças tropicais negligenciadas, citando avanços notáveis desde 2012. Para tal, governos e doadores privados prometiam 812 milhões de dólares numa cimeira que decorreu em Genebra (Suíça).

O encontro coincidiu com o lançamento do Quarto Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN), mostrando progressos visíveis contra estas doenças debilitantes e um compromisso do Reino Unido para duplicar o seu financiamento.

Na altura foi lançada a Declaração de Londres sobre DTN, um compromisso dos sectores público e privado para atingir os objectivos da OMS para controle, eliminação e erradicação de 10 DTN.

As DTN são algumas das doenças mais antigas e mais dolorosas que afligem as comunidades mais pobres do mundo. Uma em cada seis pessoas no mundo sofre de DTN, incluindo mais de meio bilhão de crianças. As DTN incapacitam, debilitam e perpetuam ciclos de pobreza, mantendo crianças fora da escola, pais fora do trabalho, e diminuem a perspectiva de seu desenvolvimento económico.

Um relatório da OMS, intitulado Integração das Doenças Tropicais Negligenciadas na Saúde e Desenvolvimento Globais, revelou que, mais do que nunca, pessoas estão a ser atendidas com as intervenções necessárias para as DTN. Em 2015, cerca de um bilhão de pessoas recebeu tratamentos doados por empresas farmacêuticas para pelo menos uma DTN, representando um aumento de 36% desde 2011, um ano antes do lançamento da Declaração de Londres. À medida que mais países e regiões eliminam as DTN, diminui também o número de pessoas que necessitam de tratamento, de 2 bilhões em 2010 chegou-se a 1,6 bilhão em 2015.

“A OMS tem observado um progresso sem precedentes na história, que colocou de joelhos pragas antigas como a doença do sono e a elefantíase”, disse Margaret Chan, Directora-Geral da OMS: “Nos últimos dez anos, milhões de pessoas foram resgatadas da invalidez e pobreza graças a uma das parcerias globais mais efectivas da saúde pública moderna”.

O relatório detalhava o progresso ante cada doença, citando países e regiões que estavam a alcançar metas de controle e eliminação para DTN específicas.

Os governos e outros doadores anunciaram novos compromissos durante a cimeira para ampliar o alcance e o impacto dos programas de DTN em todo o mundo. A Fundação Bill & Melinda Gates garantiu 335 milhões de dólares de doações nos próximos quatro anos para apoiar um grupo diverso de programas de DTN focados no desenvolvimento e entrega de medicamentos, vigilância de doenças e controle de vectores. O compromisso incluiu 42 milhões de dólares para apoiar a iniciativa de erradicação do verme-da-Guiné do Centro Carter, além de fundos dedicados a acelerar a eliminação da Doença do Sono Africana.

Elefantiase

“As DTN são algumas das doenças mais dolorosas, debilitantes e estigmatizadas que afectam as comunidades mais pobres do mundo. É por isso que ajudamos a lançar a Declaração de Londres, um marco histórico que levou a um progresso significativo no tratamento e redução da disseminação das DTN e demonstrou o impacto que o sector público, o sector privado, as comunidades e as ONG podem ter quando trabalhando juntos”, disse Bill Gates, co-Presidente da Fundação Bill & Melinda Gates.

“Graças a esta parceria, estas doenças negligenciadas estão a receber agora a atenção que merecem, e menos pessoas têm que sofrer com estas condições tratáveis. Houve muito êxito nos últimos cinco anos, mas o trabalho ainda não está terminado. Nós estabelecemos metas ambiciosas para 2020 que exigem o compromisso continuado de empresas farmacêuticas, governos doadores e receptores e dos trabalhadores de saúde de linha de frente para garantir que os medicamentos estejam disponíveis e sejam entregues às pessoas de mais difícil acesso”.

O Governo da Bélgica também prometeu 27 milhões de dólares adicionais, divididos igualmente nos próximos nove anos, para a eliminação da doença do sono no República Democrática do Congo. Este montante será igualado nos próximos três anos pela Fundação Bill & Melinda Gates, estabelecendo uma plataforma para uma maior colaboração entre Bélgica, República Democrática do Congo e a ampla parceria de DTN.

Como parte de seu compromisso em eliminar a Tripanossomíase Africana, a Vestergaard comprometeu-se a doar 20% de seus insecticidas para pequenos alvos usados no controle da mosca tsé-tsé que transmite a doença, aumentando essa quantidade para até 100% nos próximos três anos à medida que a eliminação da doença é alcançada.

Estes compromissos baseiam-se no anúncio do Governo do Reino Unido no início da semana, no qual prometeu quase 450 milhões de dólares ao longo de cinco anos para apoiar os esforços mundiais de controle e eliminação das DTN.

O progresso na luta contra as DTN tem sido possível graças à doação em grande escala de medicamentos por parte de 10 empresas farmacêuticas.

Declaração de Londres

A Declaração de Londres é um exemplo poderoso do impacto de parcerias de sucesso”, disse Haruo Naito, CEO da Eisai e um signatário original dessa Declaração: “Ao aproveitar os nossos recursos e focar um objectivo comum, já estamos a fazer progressos sem precedentes na direcção da eliminação destas doenças terríveis. O trabalho que estamos a fazer hoje é um investimento a longo prazo em um futuro mais saudável e próspero”.

Além das doações, as empresas farmacêuticas estão a trabalhar em parceria e com institutos de pesquisa para descobrir e desenvolver novas ferramentas para prevenir, diagnosticar e tratar DTN. Um relatório publicado pela Federação Internacional de Fabricantes e Associações Farmacêuticas colectou todo o escopo dos investimentos da indústria em P&D de DTN, incluindo:

Sanofi e a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas estão a desenvolver um candidato a novo fármaco oral para a HAT, fexinidazol, que substituirá o actual regime misto oral-intravenoso de fármacos. O fexinidazol poderia representar um avanço terapêutico que apoiará os esforços de eliminação sustentável, segundo o objectivo para 2020 da OMS. Esperava-se que este fármaco fosse submetido a aprovação regulatória até o fim de 2017.

Leishmaniose

Várias empresas estão a trabalhar no desenvolvimento de formulações pediátricas de medicamentos contra as DTN, incluindo a Bayer (nifurtimox, para a doença de Chagas), Merck KGaA (praziquantel, para a esquistossomose) e Elea/Mundo Sano (que estão a trabalhar com DNDi para desenvolver uma segunda fonte pediátrica de beznidazol, para a doença de Chagas), enquanto a Johson & Johnson (mebendazol, para vermes transmitidos pelo solo) desenvolveu uma nova forma mastigável de mebendazol, raprovada pelo FDA, para crianças muito jovens.

AbbVie, Bayer, Eisai, Johnson & Johnson e Merck KGaA fazem parte do Programa de Aceleração de Fármacos Macrofilacida, uma iniciativa focada em identificar e criar novos compostos fármacos que podem matar os vermes adultos que causam Oncocercose e Filariose linfática.

Em 2015, Eisai, Shionogi, Takeda, AstraZeneca e DNDi lançaram o Acelerador de Descoberta de Fármacos DTN, um esforço de várias empresas para acelerar a descoberta de novos fármacos para leishmaniose e doença de Chagas. Em 2016, a Celgene Global Health também se juntou ao projecto e a Merck KGaA anunciou que também se uniu ao consórcio.

Muitas empresas – incluindo AbbVie, AstraZeneca, Bayer, Bristol-Myers Squibb, Celgene, Chemo, Daiichi Sankyo, Eisai, Elea, Eli Lilly, GlaxoSmithKline, Johnson & Johnson, Merck KGaA, MSD, Novartis, Pfizer, Sanofi, Shionogi, e Takeda – deram à DNDi e outras organizações sem fins lucrativos o acesso às suas bibliotecas de compostos e/ou contribuem com seus conhecimentos científicos e técnicos para a DNDi e conduzem estudos clínicos e pré-clínicos para facilitar o desenvolvimento de novos medicamentos para combater várias DTNs.

A Gilead colabora com o Departamento de Defesa dos EUA, Centros de Controle e Prevenção, e Institutos Nacionais de Saúde, assim como, com muitas instituições académicas para descobrir e desenvolver novos antivirais para patogenias muito infecciosas e doenças virais negligenciadas/emergentes, incluindo a dengue. O GS-5734, o agente de pesquisa mais avançado da Gilead, estava a ser actualmente estudado em sobreviventes de Ébola.

As empresas também trabalham com os seus parceiros para resolver os problemas na cadeia de suprimentos, desenvolvendo estratégias de programas e construindo capacidade local nos países para assegurar que os medicamentos, ferramentas e outras intervenções cheguem aqueles que mais necessitam.

Ainda que se tenha alcançado um tremendo progresso na redução da incidência das DTN, os objectivos globais de controle e eliminação não poderão ser alcançados sem um maior apoio financeiro, um maior compromisso político e melhores ferramentas para prevenir, diagnosticar e tratar as doenças.

Apesar de cerca de um bilhão de pessoas terem sido tradas às DTN em 2015, é necessário mais financiamento para garantir que os programas de DTN cheguem a todas as pessoas e comunidades afectadas pelas doenças. A OMS estima que 340 milhões de pessoas na África subsaariana poderiam ser acolhidas com novos investimentos de 150 milhões de dólares anuais até 2020.

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