DIA (OU NOITE) DA LÍNGUA PORTUGUESA

Esta sexta-feira, 5 de Maio, é o dia em que governos e sociedade civil celebram (isto é como quem diz…) a relevância do idioma como parte da identidade dos povos lusófonos. O Português é a língua oficial dos nove países da CPLP, sendo também a sétima língua mais falada no Mundo. Aproximadamente 260 milhões de pessoas falam português nos cinco continentes e em 2100, esta língua vai unir mais de 500 milhões, segundo uma estimativa das Nações Unidas.

O 5 de Maio já era oficialmente, desde 2009, o dia da língua portuguesa e da cultura lusófona para a CPLP, com o propósito de, supostamente, promover o sentido de comunidade e o pluralismo dos falantes do português.

Segundo previsões das Nações Unidas, será devido ao crescimento demográfico de Angola, onde o português é língua dita materna, e de Moçambique, que mais 200 milhões falarão português no final do século, do que actualmente.

O português é a língua materna de cerca de 3,7 por cento da população mundial, atrás do mandarim, do espanhol e do inglês, e seguida de perto pelo hindi. É ainda língua oficial ou de trabalho em dezenas de organizações internacionais, como a União Europeia, a UNESCO, a Organização dos Estados Americanos, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, a Comunidade Económica dos Estados da África Central ou a Organização Mundial de Saúde.

Há um ano, Angola reiterou, em Nova Iorque (EUA), a inclusão do Português como língua de trabalho do Instituto Internacional dos Provedores de Justiça (IOI). A reafirmação foi feita pela provedora de Justiça de Angola, Florbela Araújo, durante a reunião dos directores do IOI, Região África, que decorreu no Fórum Cultural Austríaco, orientado pela presidente regional e provedora de Justiça do Quénia, Florence Kajuju.

Em Portugal, o Governo criou um programa específico para os refugiados aprenderem a língua portuguesa. O programa vai ser “essencial para apoiar” os refugiados na “integração e autonomia, seja na escola, no mercado de trabalho ou no dia-a-dia”, defendeu a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes.

A ministra anunciou a criação de um programa de aprendizagem da língua portuguesa específico para refugiados, particularmente os provenientes da Ucrânia, com o propósito de apoiar a integração na comunidade.

Em Outubro de 2021, o Governo do MPLA disse que o processo de harmonização curricular do ensino superior em Angola poderia entrar em vigor no ano académico 2022-2023 em todas as províncias do país.

Harmonizar significa aumentar a qualidade, significa valorizar exclusivamente a competência e banir a bajulação?

O anúncio foi feito no dia 5 de Outubro, pela então ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Maria do Rosário Sambo, no acto solene de abertura do ano académico 2021-2022, presidido pelo Presidente da República, João Lourenço.

De acordo com a ministra, o processo de harmonização curricular deveria estar concluído em 2022 e estava a ser conduzido por professores e especialistas de ordens profissionais que compõem as comissões curriculares nacionais.

No quadro da melhoria da formação de professores, Maria do Rosário Sambo deu então a conhecer que se encontrava em fase de conclusão o primeiro ano de três cursos de mestrado em metodologias de educação nos domínios da infância, ensino primário e ensino da língua portuguesa, e estavam a ser capacitados 66 docentes para se tornarem formadores nos institutos superiores de ciências da educação.

Os estudantes destes cursos de mestrado estavam a ser formados numa universidade portuguesa parceira e iriam frequentar estágios pedagógicos em Angola, com apoio de instituições públicas.

Para o ano académico 2021-2022, estiveram disponíveis cerca de 152 mil vagas em todo o território nacional, estando 58 por cento concentradas na província de Luanda.

A então ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação disse ser necessário reforçar a oferta formativa nas áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática e Saúde.

“Continua a ser manifesta a preponderância das áreas das ciências sociais e humanas, com 53 por cento no seu todo, excluindo a das ciências da educação que contribuiu com 12 por cento das vagas, o que é insuficiente para os desafios da formação de educadores de infância e dos professores do ensino primário e secundário”, referiu.

Se “haver” necessidade, venha o “compromíssio”

Em Janeiro de 2020, a ministra da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Faustina Alves, apelou, em Luanda, aos jornalistas para trabalharem como agentes voluntários junto das comunidades, para extraírem informações concretas que ajudem o Executivo a traçar projectos que vão ao encontro das necessidades da população, em especial as mais vulneráveis.

Se, citando o Presidente do MPLA (João Lourenço), “haver” necessidade, alguns jornalistas (poucos, é certo) poderão também ensinar os membros do governo, bem como outros altos dignitários do poder do MPLA, a escrever (e a falar) português. Poderão também, citando agora a ex-ministra da Educação, Ana Paula Tuavanje Elias, assumir o “compromíssio” de escolarizar alguns.

De acordo com o Jornal de Angola, Faustina Alves, que na altura falava no seminário dirigido a jornalistas sobre o “Novo Paradigma da Acção Social”, disse ser urgente que os jornalistas se capacitem mais em matérias ligadas à acção social e que executem o seu trabalho com brio profissional.

É claro que os jornalistas (alguns) consideram ser urgente que os governantes se capacitem mais em matérias ligadas à acção social e que executem o seu trabalho com brio profissional, o que raramente acontece no nosso país.

Para a ministra, esta acção tinha como objectivo criar uma plataforma de diálogo com os jornalistas e tê-los como actores na abordagem de questões ligadas à missão e prioridades do Governo.

Por sua vez o então secretário de Estado da Comunicação Social, Celso Malavoloneke, reconheceu que para que os jornalistas possam cumprir cabalmente com o seu papel de informar e promover conhecimentos e atitudes que contribuam para os objectivos propostos, as acções de formação frequentes são necessárias.

Se calhar não seria mau dizer que, cada vez mais, são necessárias e urgentes acções de formação frequentes para todos os membros do governo, evitando assim que – entre uma enciclopédia de casos de manifesta incompetência – confundam o corredor de fundo com o fundo do corredor.

“Queremos que esta acção formativa seja o primeiro passo, porque a qualidade das coberturas jornalísticas sobre as actividades do MASFAMU (Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher) vai ser directamente proporcional à quantidade e à qualidade das acções de formação ministradas”, frisou.

Segundo Celso Malavoloneke, era (presumimos que continue a ser) importante que os profissionais de comunicação social sejam especializados sobre assuntos de acção social, para que ao abordarem as matérias possam fazê-lo com eficiência. Por outras palavras, deduz-se, também os governantes deverão ser especializados nos assuntos que estão sob sua jurisdição, o que manifestamente não acontece. É claro que o facto de ser militante do MPLA é, de per si, mais do que suficiente para alguém se tornar perito em tudo, seja no achatamento polar das batatas ou na circulatura do quadrado.

Pois é. Mas onde está a tese de que os jornalistas existem para dar voz a quem a não tem? Essa parece ter morrido em combate.

Como diz Gay Talese, cabe ao jornalista procurar incessantemente a verdade e não se deixar pressionar pelo poder público ou por quem quer que seja. Não interessa se as opiniões são do Secretário-Geral da ONU, da Rainha de Inglaterra, do Presidente da Rússia ou do “dono” de Angola, de seu nome João Lourenço.

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