DEPOIS DE ROMA… PYONGYANG?

O Presidente angolano (não nominalmente eleito), general João Lourenço, destacou hoje os laços de amizade e cooperação com Itália, onde se encontra em visita oficial, salientando que o seu governo está “de portas abertas para o investimento italiano”. Tal como está de portas e janelas (nos casos em que há portas e janelas) abertas a todos quantos queiram tomar conta do reino.

O primeiro acto do programa oficial da visita de Estado de João Lourenço, foi a deslocação ao Palácio de Quirinale, sede da Presidência da República, onde se encontrou com o seu homólogo, Sergio Mattarella.

Segundo a página da Presidência angolana no Facebook, o chefe de Estado italiano elogiou o desempenho de Angola em prol da paz em África, afirmando que João Lourenço é “um actor importante” para a estabilidade no continente africano.

Sergio Mattarella apontou ainda o intercâmbio existente entre os dois países no sector energético – a petrolífera italiana Eni está envolvida em projectos de exploração de petróleo e gás, bem como numa central solar -, manifestando vontade de alargar a parceria a outros domínios, como o ensino superior.

João Lourenço, que recebeu o seu homólogo italiano em Angola em 2019, realçou a vontade de “selar os laços de amizade e de cooperação com a Itália”, afirmando o desejo de receber empresários italianos que pretendam investir no mercado angolano.

O general João Lourenço prestou também homenagem, em Roma, ao Soldado Desconhecido, depositando uma coroa de flores no monumento conhecido como “Altar da Pátria”.

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Relembre-se que o embaixador (extraordinário e plenipotenciário) de Angola naquela que é, para o regime do MPLA, a sua maior referência em matéria de direitos humanos, democracia e pluralismo político, a Coreia do Norte, Garcia Bires, afirmou em Janeiro de 2017, em Pequim, que era intenção do estado angolano manter e alargar a cooperação entre Angola e a Coreia do Norte nos mais diversos domínios.

Em Setembro de 2017, a ONU anunciou que estava a investigar possíveis violações ao embargo e sanções impostas à Coreia do Norte por parte de Angola (que foi membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas).

O diplomata angolano fez a declaração no termo de um encontro com o vice-ministro das Relações Exteriores da República Popular e Democrática da Coreia do Norte, Choe Hui Chol, tendo realçado que o MPLA/Estado pretendia reforçar e ampliar as relações já existentes.

Segundo Garcia Bires, a prioridade seria dada às áreas de saúde e solidariedade pela causa do povo coreano, que luta pela reunificação independente e pacifica da península coreana.

Choe Hui Chol considerou excelentes as relações entre Angola e o seu país, acrescentando que as relações entre Angola e a Coreia do Norte continuam a desenvolver-se conforme desejo e expectativa dos dois povos e governos.

O diplomata norte-coreano agradeceu a postura de Angola durante o mandato no Conselho de Segurança das Nações Unidas, que recomendou uma solução negociada na resolução do problema da península coreana.

Como também não poderia deixar de ser, Choe Hui Chol enalteceu o papel do embaixador João Garcia Bires, que considerou determinante para o fortalecimento das relações entre os dois países.

Garcia Bires, que se fez acompanhar no encontro pelo conselheiro, Virgílio Zulumongo, era embaixador de Angola na Coreia do Norte, com estatuto de não residente.

Recorde-se que uma comissão de inquérito da ONU encontrou provas inequívocas de tortura, execuções e fome na Coreia do Norte, onde entre 80.000 e 120.000 pessoas se encontravam em campos prisionais. Foi uma estimativa que, reconheça-se, ofusca a história do 27 de Maio de 1977 onde o MPLA (pela mão do único herói nacional reconhecido pelo regime angolano, o assassino Agostinho Neto) matou muitos milhares de angolanos. Não havia campos prisionais. Era matar, matar e… matar. Para o MPLA, quem matar um cidadão é um criminoso, mas quem matar milhares (se possível da UNITA) é um herói.

A Assembleia-Geral da ONU (contra a divina vontade do regime do MPLA) encorajou na altura o Conselho de Segurança a denunciar a Coreia do Norte ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para investigação de crimes de guerra, mas a China bloqueou uma tal medida, com o poder de veto que detém, enquanto membro permanente do Conselho.

Consta nos meandros políticos angolanos que o também “querido líder” Kim Jong-un quis estar presente na primeira tomada de posse de João Lourenço mas resolveu continuar a assistir ao lançamento de alguns mísseis e a dizer que Donald Trump parecia um “cão a ladrar”.

O general João Lourenço prometeu ser um reformador ao estilo Deng Xiaoping o que desagradou, com razão, a Kim Jong-un que, no mínimo, esperava que ele dissesse que queria ser um reformador do tipo Kim Il-sung.

Na mensagem de felicitações enviada a João Lourenço, Kim Jong-un não esqueceu a envergadura divina do presidente José Eduardo dos Santos. Prometeu, aliás, instituir o dia 28 de Agosto (nascimento do então dono do reino do MPLA) como “Dia Internacional Eduardo dos Santos”. Mas logo mudou de ideias, substituindo-por João Lourenço.

Kim Jong-un promete igualmente adoptar uma parte do slogan usado pelo MPLA/João Lourenço: “Melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”. O querido líder norte-coreano explica que, no seu país, só é preciso “melhorar o que está bem”, já que (como quase acontece em Angola) nada está mal.

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