“TCHIZÉ” DOS SANTOS CONTINUA A PARTIR A LOIÇA

“Tchizé” dos Santos, uma das filhas do ex-presidente angolano, contratou uma advogada espanhola para impedir que se desliguem as máquinas que servem de suporte de vida a José Eduardo dos Santos e afastar Ana Paula dos Santos, a esposa.

Uma fonte próxima da família confirmou que “Tchizé” dos Santos contratou a advogada para “travar Ana Paula dos Santos”, mulher do antigo Presidente angolano, de quem tem três filhos.

A ex-primeira-dama, que se reaproximou recentemente de José Eduardo dos Santos após alguns anos de afastamento, entrou em rota de colisão com os filhos mais velhos, nomeadamente Tchizé dos Santos, que já disse publicamente que Ana Paula dos Santos “abandonou o marido” e tem contribuído para acelerar a morte do pai.

A família do antigo presidente angolano reuniu-se hoje com a equipa médica do centro Teknon, em Barcelona, onde José Eduardo dos Santos se encontra internado para tomar decisões sobre os próximos passos, tendo entrado agora em jogo a advogada, Carmen Varela, que se dirigiu ao comité de especialistas, afirmando que as filhas Isabel e “Tchizé” dos Santos são as representantes legais do pai e não permitem que se desliguem as máquinas.

Cármen Varela diz ainda que Ana Paula dos Santos não é esposa de José Eduardo dos Santos, já que o casamento não é válido em Espanha e estavam separados de facto, e refere que as filhas se recusam a que as máquinas sejam desligadas, por entenderem que esse procedimento, e o coma induzido, “pode ser provocado por um possível delito”.

“Quem aqui pode decidir são as filhas, que representamos, e que não querem desligar as máquinas do pai”, vinca a advogada, salientando que vai pedir análises sobre “possíveis envenenamentos” e para averiguar os 15 minutos que decorreram entre a queda que José Eduardo dos Santos terá dado e o pedido de socorro à polícia.

“Estamos a falar de um ex-chefe de governo, de um Governo corrupto, e de um tema muito delicado”, sublinhou Cármen Varela, adiantando que vai pedir autorização judicial para que não entrem no quarto nem o médico, “que parece ser enviado pelo Presidente de Angola, nem a que dizem ser sua esposa, e que não é”, mas apenas a filha maior (Isabel) e “Tchizé” dos Santos, que são legalmente quem o representa.

José Eduardo dos Santos, de 79 anos, é pai de oito filhos com cinco mulheres e esteve à frente dos destinos de Angola durante 38 anos.

O antigo Presidente encontra-se há alguns dias nos cuidados intensivos, no Centro Médico Teknon, em Barcelona, Espanha, em coma induzido, sabendo-se que tem problemas de saúde há vários anos e tem sido acompanhado em Barcelona desde 2006.

O estado de saúde de José Eduardo dos Santos de há muito que gera polémica entre a família que se queixa de “abusos” e ingerência externa e a Presidência de João Lourenço.

Já este ano, numa nota divulgada pela Presidência angolana e assinada pelo ex-presidente, José Eduardo dos Santos terá alegado que João Afonso é o seu médico pessoal, que o acompanha há 16 anos, em quem tem “a máxima confiança”, e é “a única entidade autorizada a falar” sobre o seu estado de saúde.

Esta posição surgiu depois de uma das filhas, a ex-deputada Welwitschia “Tchizé” dos Santos, ter denunciado “abusos” e “condicionamento da liberdade” em relação ao seu pai, que reside em Barcelona desde 2019, admitindo que a família lida com “um caso de polícia”, que pode motivar uma queixa às autoridades espanholas.

“Nós, os filhos de José Eduardo dos Santos (…) os que, de facto, estamos a querer zelar pela segurança do nosso pai, pela integridade física e jurídica do nosso pai, estamos a sentir-nos impotentes e só vamos ter uma alternativa que é chamar as autoridades espanholas a intervir porque isto é um caso de polícia. A outra alternativa é levar ao conhecimento de todos os angolanos o que está a acontecer”, disse em declarações enviadas à Lusa.

“Tchizé” dos Santos tinha questionado anteriormente a intervenção do médico angolano, já que este teria dito aos médicos espanhóis que estavam a dar assistência ao ex-presidente “para anularem as consultas e para não aparecerem”.

Na nota divulgada pela Presidência, José Eduardo dos Santos supostamente terá referido que João Afonso “continuará a ser o médico coordenador da equipa multidisciplinar” que garante a sua “assistência médica em Barcelona”.

E Maio passado foi noticiado um agravamento do estado de saúde do antigo chefe de Estado, o que esteve na origem de divergências entre alguns dos seus familiares e o regime angolano.

Tal como a irmã, a empresária Isabel dos Santos, que enfrenta vários processos judiciais, em Angola e no estrangeiro, “Tchizé” dos Santos vive fora de Angola desde que o pai abandonou o poder, sendo substituído na Presidência por João Lourenço (que foi uma escolha pessoal imposta pelo próprio Eduardo dos Santos), em 2017, afirmando ser vítima de perseguição.

“Tchizé” dos Santos, que perdeu o mandato de deputada do MPLA, o partido que governa Angola há 46 anos, em Outubro de 2019, queixou-se de ameaças e acusou João Lourenço de travar “uma campanha de perseguição” contra si.

Em Maio de 2019, “Tchizé” dos Santos disse que o actual chefe de Estado, igualmente Presidente do MPLA, estava a fazer um “golpe de Estado às instituições” em Angola e pediu a destituição de João Lourenço.

Na altura, a ainda deputada do MPLA e membro do seu Comité Central, assumiu que estava “involuntariamente” fora do país devido à doença da filha e que há vários meses estava a ser “intimidada” por dirigentes do partido no poder desde 1975.

Face à realidade – descreveu – em Angola, “Tchizé” dos Santos assumiu que estava à procura de advogados em Luanda para avançar para o Tribunal Constitucional angolano (embora este mais não seja do que uma sucursal do próprio MPLA) com “um pedido de “impeachment” [destituição]” de João Lourenço, e que também procurava o apoio de deputados para uma Comissão de Parlamentar de Inquérito à actuação do chefe de Estado, igualmente Titular do Poder Executivo.

“Tchizé” dos Santos explicou as ameaças de que era alvo – apontando mesmo uma alegada lista de várias figuras angolanas ligadas ao período da governação do pai, José Eduardo dos Santos (1979 — 2017), que as autoridades pretendiam impedir de sair de Angola – por ser uma voz que contestava algumas das orientações de João Lourenço. “O Presidente da República é conivente porque nada faz”, criticou.

“Está a haver um crime contra o Estado. Isto é um caso para ‘impeachment’. Este Presidente da República merece um ‘impeachment’”, afirmou Welwitschea “Tchizé” dos Santos, considerada a filha mais próxima, politicamente, do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.

“Tchizé” dos Santos falava em “abuso de poder” da actual liderança em Angola, como o caso de outro deputado do MPLA, Manuel Rabelais, próximo do anterior chefe de Estado e que foi impedido pelas autoridades de embarcar num voo internacional, em Luanda, apesar da sua imunidade parlamentar.

“É o senhor João Lourenço que me está a fazer a perseguição através do MPLA, porque ninguém no MPLA toma ali uma atitude sem a autorização do Presidente, ou sem a sua orientação”, afirmou.

“Tchizé” dos Santos assumia os receios face aos ecos que recebia do partido e que tem vindo a denunciar publicamente, dizendo sem receios que mesmo fora do país é visada: “Passo a vida a receber ameaças”.

Ainda assim, “Tchizé” dos Santos assumia que o seu partido é o MPLA, e disse acreditar que ainda seria possível “um entendimento” com a actual liderança de João Lourenço, desde que se garanta a separação de poderes, entre o Parlamento, o partido e o Presidente da República.

“Tchizé” afirmou também que além das críticas publicas que faz, através das redes sociais, as suas acções enquanto empreendedora junto da sociedade angolana, como foi a acção de formação de zungueiras que realizou em Luanda, entre outras, estava a “irritar” a actual liderança angolana.

Além disso, disse que estava a ser visada pelas intervenções do Presidente da República e líder do partido, sobre o uso das redes sociais por responsáveis do MPLA.

“Um Presidente que está a subverter o Estado democrático de direito está a tentar dar um golpe de Estado às instituições”, afirmou, sobre João Lourenço.

Folha 8 com Lusa

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