SÓ IMPORTA COMO FORAM CONTADOS OS VOTOS

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, felicitou hoje o Presidente do MPLA, João Lourenço, pela reeleição, comprometendo-se a reforçar a “relação vital” entre os dois países. Margaret Thatcher (primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990 ) proibiu em 1979 o seu enviado especial à então Rodésia de se encontrar com Robert Mugabe. O argumento era o de que “não se discute com terroristas antes de serem primeiros-ministros”…

Numa nota a propósito das eleições (não presidenciais mas legislativas) em Angola, que se realizaram a 24 de Agosto e deram a vitória por maioria absoluta ao MPLA (no Poder há 47 anos), Antony Blinken (que certamente nem sabe que é eleito presidente o cabeça-de-lista do partido vencedor) elogiou “os milhões de eleitores angolanos que votaram nestas eleições e, ao fazê-lo, demonstraram o seu empenho no fortalecimento da democracia”.

Recorde-se que também Barack Obama elogiou o então “querido líder” José Eduardo dos Santos, ou, ainda, o facto de Sarah Palin, na altura governadora do Alaska e candidata derrotada à vice-presidência dos EUA, ter dito que África era um… país.

“Esperamos trabalhar em parceria com os líderes eleitos de Angola para forjar um amanhã melhor para todos os angolanos e americanos”, referiu o secretário de Estado norte-americano na missiva.

E acrescentou: “Continuaremos a colaborar estreitamente com o governo angolano e o povo angolano para promover os nossos objectivos comuns, à medida que trabalhamos em conjunto para promover um futuro mais sustentável, seguro, inclusivo e próspero”.

Em tempos também o Conselho de Segurança das Nações Unidas impôs sanções contra a UNITA, justificando que o fazia porque os homens de Jonas Savimbi eram os maus da fita, ou seja, terroristas.

Ainda no uso da memória, recorde-se que em 2001 o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, justificou as sanções com os “ataques da UNITA que, nos últimos meses, mataram milhares de civis”. Curiosamente, poucos dias antes, Eduardo dos Santos afirmara que a UNITA só tinha forças residuais e que só um milagre a salvaria.

Nessa altura, como hoje, a ONU mostrou que é apenas o porta-voz dos donos mundo, pelo que em vez de trabalhar para os milhões de angolanos – por exemplo – que têm pouco (ou nada), prefere lamber as botas (tal como faz Portugal) aos poucos que têm milhões, caso hoje do clã dirigente do MPLA, dirigido por João Lourenço.

Durante a guerra, e segundo a rapaziada então comandada por Kofi Annan, a UNITA só matava civis e as forças armadas de Luanda só matavam militares. Pelos vistos o MPLA tinha armas que distinguiam os alvos: se fossem militares do Galo Negro… acertavam, se não fossem… desviavam.

Nessa altura, numa reunião do Conselho de Segurança sobre Angola, o sub-secretário-geral das Nações Unidas, Ibrahim Gambari, sustentou que o movimento de Jonas Savimbi era o “primeiro responsável pela continuação do conflito” em Angola.

Nessa altura, se não fosse a determinação de Jonas Savimbi (entre muitos outros, refira-se) e Angola seria, tal como era Luanda, um pantanal de políticos corruptos onde imperava a ditadura dos senhores todo-poderosos do MPLA. Tal como hoje.

Morreu Savimbi e, como era previsível, o pantanal de políticos corruptos estendeu-se a todo o país e internacionalizou-se. Já há extensas e crescentes ramificações em Portugal.

Ou seja, ontem como hoje e certamente amanhã, a ONU tem dois pesos e duas medidas. O regime do MPLA pode fazer o que muito bem entende e, por isso, praticar o terrorismo que melhor se enquadra nos seus objectivos. É o que, com certeza, as Nações Unidas consideram um terrorismo bom.

Já a UNITA, ontem como hoje e certamente amanhã, não pode reagir, não pode defender-se. Porquê? Porque teve o exclusivo do terrorismo mau e por muito que o tenha abandonado terá de transportar sempre essa carga.

Aliás, todos sabem que o MPLA sempre praticou terrorismo bom. O que se passou depois do dia 27 de Maio de 1977 (milhares e milhares de mortos) é prova disso.

O terrorismo é qualificado em função do número de vítimas e de os seus dirigentes serem, ou não, primeiros-ministros ou presidentes. Por ser responsável por três mil desaparecidos, Augusto Pinochet e o seu governo foram uns monstros. Já por ter morto Nito Alves e mais muitos milhares de compatriotas, o MPLA é um exemplo para a humanidade.

Exemplo onde pontificaram ou pontificam, entre outros, Lúcio Lara, Iko Carreira, Costa Andrade (Ndunduma), Henriques Santos (Onanbwe), Luís dos Passos da Silva Cardoso, Ludy Kissassunda, Luís Neto (Xietu), Manuel Pacavira, Beto Van-Dunem, Beto Caputo, Carlos Jorge, Tito Peliganga, Eduardo Veloso, Tony Marta, José Eduardo dos Santos.

E, já agora, do lado dos terroristas maus, a UNITA, importa recordar os que morreram para dar voz aos que a não tinham. Entre outros, Jeremias Kalandula Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces, Elias Salupeto Pena, Eliseu Sapitango Chimbili, Jonas Savimbi, António Dembo e Arlindo Pena “Ben Ben”.

Antony Blinken esquece-se que, como dizia Lenine e como demonstrou João Lourenço, de forma clara e inequívoca em 24 de Agosto, “não importa como os eleitores votam, só importa como serão contados os votos”.

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