SE JOÃO LOURENÇO O DIZ…

Na última noite de 2021, o Chefe de Estado angolano (não nominalmente eleito) e também Presidente do MPLA (partido no Poder há 46 anos) e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, participou, através de uma mensagem endereçada a partir de Luanda, na emissão especial da RTP que assinalou a transição de ano nos países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).

As palavras do Presidente João Lourenço dirigidas aos povos das nações que formam a CPLP foram as que se seguem:

«É com muito prazer que nesta Quadra Festiva me dirijo, através dos respectivos canais públicos de Televisão, a todos os telespectadores de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Portugal, Brasil, Timor Leste e Guiné Equatorial, países unidos não só pela língua e a cultura mas, acima de tudo, por profundos laços de amizade e de solidariedade.

Os homens escolheram sempre o final de cada ano e início de um novo ano para lançarem um olhar retrospectivo ao já vivido e anunciarem as suas esperanças e expectativas para o futuro imediato. Cumprindo essa tradição num espírito fraternal, admitamos que não têm sido fáceis os tempos que vivemos nestes dois últimos anos.

A pandemia que assolou todo o mundo, atravessando fronteiras e continentes, reforçou de forma quase escandalosa a evidência de quão desigual, desequilibrada e egoísta é ainda a actual Ordem Internacional.

Ela teve, por outro lado, o mérito de demonstrar de forma clara e inequívoca que dependemos todos uns dos outros e que só juntos podemos fazer face a todos os desafios que se perfilam no horizonte, na salvaguarda da nossa comum Humanidade e do nosso planeta. É triste e lamentável que tenha sido um vírus a despertar a nossa consciência para essa realidade.

Espero que essa nova consciência seja determinante para uma tomada de posição firme e coordenada de toda a comunidade internacional, face não só à ameaça representada pela expansão do vírus e das suas variantes, mas também face à pobreza e às desigualdades sociais e económicas, à crise climática, ao ressurgimento de regimes extremistas, ao fundamentalismo político e religioso e a todas as formas de opressão e exploração do ser humano.

Saúdo em particular os cidadãos da comunidade de países falantes da língua portuguesa irmanados neste projecto comum, desejando que celebrem a Quadra Festiva num renovado espírito de entreajuda e solidariedade para com os mais necessitados e na certeza de que vamos continuar unidos.

Unidos venceremos mais este desafio da luta contra a pandemia, que ameaça a saúde pública, ameaça nossas economias, nossa existência.»

Ninguém estava à espera que João Lourenço falasse do total de 86% de crianças angolanas dos 0 aos 23 meses que estão privadas de uma alimentação adequada e que, nesta faixa etária, cerca de 75% estão igualmente privadas de uma habitação, 71,8% de cuidados de saúde, 53,8% de água potável.

Estes dados contam de um “Relatório sobre a Pobreza Infantil em Angola – Uma Análise Multidimensional”, apresentado no em 2018, em Luanda, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola, estudo elaborado com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e financiamento da União Europeia (UE).

Segundo o relatório, 60,1% das crianças dos zero aos 23 meses em Angola estão sem acesso ao saneamento e 73,9% sem prevenção da malária.

Depois desta introdução, nada como ler, ouvir e ver na íntegra a mensagem do Presidente em 2018, ou a 2019 (só mudaram as vírgulas), sendo de esperar que cada um tire as suas próprias conclusões. É claro que cerca de 20 milhões de angolanos pobres certamente terão (muito) mais o que fazer. Fica , contudo, a sugestão:

«Mais um ano se aproxima do fim e a tradição leva-nos a invocar, nesta data, que é também a data privilegiada para a reunião das famílias, os valores da paz, da união familiar, da amizade, do perdão e da fraternidade entre os seres humanos.

Desejo, por isso, que todo o povo angolano e aqueles que por diferentes razões escolheram Angola para residir, possam celebrar em paz e harmonia, de acordo com as suas convicções e crenças, as festas que se anunciam e assim iniciar com renovado optimismo o Novo Ano que se avizinha.

O ano que termina destaca-se pelo esforço do Executivo e de outras Instituições do Estado, apoiados pela sociedade civil, na moralização da nossa sociedade, incluindo o combate permanente à corrupção, no resgate dos bons e tradicionais valores da sociedade angolana, através de medidas de educação cívica e patriótica de reposição da autoridade do Estado, entre outras.

Reduziu-se significativamente a criminalidade nas grandes cidades, o garimpo dos nossos recursos naturais como os diamantes, o vandalismo dos bens públicos, a exploração ilegal e desordenada das nossas florestas, o tráfego ilícito de marfim e consequente abate de espécies raras, a venda ilegal de moeda externa.

Porque a batalha não está ainda vencida, temos de ser persistentes na nossa acção. O esforço pela reposição da ordem e da dignidade humana deve ser contínuo.

É, no entanto, no seio das famílias que devem começar a ser transmitidos e aplicados os valores de amor à terra que nos viu nascer, da honestidade das nossas acções, da solidariedade para com o próximo e do respeito pela diferença de opiniões e pela tolerância, que são alguns dos principais fundamentos em que deve assentar qualquer sociedade.

Durante o corrente ano de 2018, foram feitos significativos avanços em matéria da defesa e salvaguarda dos direitos e liberdades fundamentais do cidadão.

Há de facto maior liberdade de pensamento e de expressão, maior liberdade de imprensa, maior respeito pela diversidade de opiniões. A sociedade civil tem mais voz e é mais ouvida e consultada acerca dos principais assuntos da nossa sociedade.

Atenção particular foi dada ao sector social, particularmente à educação e à saúde, com vista a melhorar a qualidade dos serviços públicos prestados ao cidadão neste particular.

Na sequência da tomada de um conjunto de medidas de diferente cariz a favor da criação de um melhor ambiente de negócios, existe um maior diálogo entre o Executivo e a classe empresarial privada.

O objectivo é encontrarmos, em conjunto, os melhores caminhos que nos levem a políticas e acções mais concretas e efectivas a favor da diversificação da nossa economia, ao aumento da produção interna de bens e de serviços essenciais, ao crescimento das exportações e consequente arrecadação de divisas, e a uma maior oferta de emprego, durante o ano que se aproxima.

Confiamos plenamente nas nossas valorosas mulheres e homens de negócios, que vêm demonstrando sua garra, sua capacidade de superar os constrangimentos da actual conjuntura, porque são passageiros, descobrindo neles as oportunidades às vezes escondidas de vencer e se afirmar.

Com eles vamos nos dedicar durante o ano de 2019, a continuar a materializar a agenda do Executivo pelo relançamento e fortalecimento da economia nacional, na satisfação das necessidades e do bem-estar dos angolanos.

Muitos desafios nos esperam, juntos vamos enfrentá-los, determinados a vencê-los, para o bem de Angola e dos angolanos.

Desejo a todos os angolanos e angolanas e a todos os cidadãos residentes no nosso país, Festas Felizes e um Ano Novo pleno de prosperidade e de novas realizações.

Transmito uma mensagem especial de solidariedade a todos aqueles que se encontram afastados das suas famílias, por razões de saúde, de trabalho, ou mesmo privados da liberdade, esperando que encontrem no simbolismo desta data, novas razões para acreditar num futuro melhor.»

Aqui chegados, e em síntese, siga a orgia dos canibais…

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