SE A INCOMPETÊNCIA CURASSE…

Angola, Brasil e Moçambique figuram na lista dos 30 países com mais casos de tuberculose em 2021, segundo um relatório hoje divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a doença. Nada de novo. No caso do reino do MPLA, satélites, metropolitanos e similares são muito mais importantes do que investir na saúde. A malária que o diga!

O documento, que analisa a resposta à doença em 215 países ou territórios em 2021, destaca que o Brasil foi, entre os 30 países com mais casos, um dos cinco – Bangladesh, Brasil, China, Uganda e Zâmbia -, que registou os níveis mais elevados de cobertura de tratamento.

No que diz respeito a todos os países e territórios de língua oficial portuguesa, e a partir da aplicação que a OMS disponibilizou, com informação por país, a partir do banco de dados global de tuberculose, é possível comparar a informação de novos casos e de óbitos em 2015 e em 2021.

O Brasil é o país ou território de língua oficial portuguesa onde o número de casos, 88,1 mil, mais aumentou (+14%) assim como o de óbitos (+11%).

A maior diminuição de casos neste conjunto de países ou territórios foi registada em Cabo Verde, com 185 casos (-45%), enquanto nos óbitos declarou menos 10%.

A segunda maior diminuição de casos registou-se na Região Administrativa Especial de Macau, com 340 casos (-18%) e menos 9,5% de óbitos.

Angola vem a seguir com uma incidência de 64 mil casos (-11%) e uma queda de 15% nos óbitos declarados. Em Moçambique não houve alteração no número de casos registados (98,5 mil) e os óbitos diminuíram 49%.

A Guiné-Bissau também não declarou alteração no número de casos registados (2,5 mil), mas os óbitos aumentaram 19%.

São Tomé e Príncipe registou 82 casos (-27%), mas os óbitos aumentaram 6,1%, enquanto na Guiné Equatorial os casos declarados foram 1,9 mil (-0,4%) e os óbitos baixaram 12%.

Timor-Leste teve 3,3 mil casos registados (-2,4%) e o número de óbitos subiu ligeiramente (0,78%).

O relatório apresenta a tuberculose como segunda doença infecciosa mais mortal (depois da Covid-19).

Causada por bactérias `Mycobacterium tuberculosis` que afectam mais frequentemente os pulmões, a doença pode espalhar-se quando pessoas doentes com tuberculose expelem bactérias no ar – por exemplo, tossindo.

A maioria das pessoas que desenvolvem a doença são adultos e em 2021, os homens representavam 56,5%, as mulheres adultas representavam 32,5% e as crianças 11%.

Muitos novos casos são atribuíveis a cinco factores de risco: desnutrição, infecção pelo HIV, transtornos por uso de álcool, tabagismo e diabetes.

A tuberculose é evitável e curável. Cerca de 85% das pessoas que desenvolvem tuberculose podem ser tratadas com sucesso com um regime medicamentoso de quatro a seis meses.

O tratamento tem o benefício adicional de reduzir a transmissão da infecção.

Citado no relatório, o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, considera que se a pandemia de Covid-19 “ensinou alguma coisa, foi que com solidariedade, determinação, inovação e o uso equitativo de ferramentas” é possível “superar graves ameaças à saúde”.

“Vamos aplicar essas lições no combate à tuberculose. Está na hora de acabar com esse assassino de longa data. Trabalhando juntos, podemos acabar com a tuberculose”, sustenta.

Para intensificar o desenvolvimento de vacinas, aproveitando as lições da pandemia de Covid-19, a directora do Programa Mundial da OMS para a doença, Tereza Kasaeva, considera que o relatório “fornece novas e importantes respostas e é um argumento decisivo para a necessidade de unir forças e redobrar urgentemente esforços para colocar a resposta à tuberculose no caminho certo e atingir as metas previamente estabelecidas”.

Nesse sentido, Teresa Kasaeva anuncia que a OMS convocará para os primeiros meses de 2023 uma cimeira de alto nível da ONU.

Mais de 10 milhões de doentes com tuberculose em 2021 e 1,6 milhões de mortos

O relatório à escala global da OMS estima que no ano passado 10,6 milhões de pessoas adoeceram com tuberculose e 1,6 milhões morreram da infecção.

De acordo com o documento, cujas linhas gerais são divulgadas numa nota de imprensa, em 2021 o número de pessoas estimadas com tuberculose aumentou 4,5% face a 2020. Comparativamente a 2020, no ano passado morreram mais 100 mil pessoas com a doença.

A resistência aos antibióticos usados no tratamento aumentou 3% no mesmo período, tendo 2021 registado 450 mil novos casos de resistência ao `rifampicina`, um dos medicamentos antituberculosos mais conhecidos.

Como justificação para o aumento de casos e da resistência a antibióticos, a OMS refere a ruptura dos serviços de saúde durante a pandemia da Covid-19 e conflitos na Europa, em África e no Médio Oriente.

O número de novos casos diagnosticados continuava em 2021 abaixo dos níveis pré-pandemia, totalizando 6,4 milhões (em 2019 tinham sido 7,1 milhões), sugerindo, de acordo com a OMS, que muitos doentes, por falta de acesso aos serviços de saúde devido à pandemia, ficaram por identificar e tratar, levando ao aumento de contágios e mortes por tuberculose.

Segundo a OMS, 26,3 milhões de pessoas receberam tratamento contra a tuberculose entre 2018 e 2021, um número ainda longe da meta dos 40 milhões definidos para o período 2018-2022.

O número de pessoas que iniciaram no ano passado tratamento com o antibiótico rifampicina totalizou 161.746, o correspondente a um terço do universo de doentes com indicação para o fazer.

O relatório realça que a despesa mundial no combate à tuberculose caiu 600 milhões de dólares (598 milhões de euros) entre 2019 e 2021, fixando-se nos 5,4 mil milhões de dólares (5,3 mil milhões de euros).

Tuberculose? Malária? Pois…

Não há muito tempo, o director do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), Filomeno Fortes, disse que doenças como a tuberculose estavam a ficar descontroladas e pediu esforços conjuntos da Europa, União Africana e CPLP na luta contra a sindemia em África.

“Talvez fosse importante que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a União Europeia (UE) e a União Africana (UA) se pudessem juntar, em algum momento, para criarem uma `task force` por causa da situação em África”, disse na altura Filomeno Fortes.

O médico angolano falava, em entrevista à agência Lusa, quando passava um ano desde que a pandemia de Covid-19 foi declarada.

“Isto já não é uma pandemia, é uma sindemia. Os casos de malária têm estado a aumentar, os casos de tuberculose estão a ficar descontrolados, a situação do VIH Sida está bastante complicada, os doentes não fazem tratamento e o confinamento tem estado a favorecer até a transmissão do vírus do VIH Sida”, disse.

A sindemia resulta da acção conjunta de duas ou mais doenças e de um ou mais problemas sociais ou económicos, que provoca o agravamento global do estado de saúde ou da estrutura socioeconómica de determinada população.

Por outro lado, apontou, as coberturas de vacinas “reduziram-se de forma drástica” e o seguimento de grávidas e crianças “está debilitado”.

De acordo com Filomeno Fortes, a isto junta-se a situação social e económica que tem estado a agravar malnutrição e de outros problemas ligados à saúde.

Fazendo um balanço dos impactos da pandemia de Covid-19 nos países africanos lusófonos, o médico angolano mostrou-se satisfeito pelo facto de algumas das preocupações iniciais relacionadas com a fragilidade dos sistemas de saúde e dos mecanismos de vigilância epidemiológica não se terem concretizado.

“À excepção de Moçambique, Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau não tiveram, até ao momento, grande incidência de casos e a letalidade também não foi assim tão elevada”, considerou.

Para isso terão contribuído, segundo o médico, as medidas precoces de fecho de fronteiras e de vigilância epidemiológica, a média etária da população, bem como as temperaturas no continente.

“Todos estes factores fizeram com que os nossos países não tivessem explosões de casos”, disse.

No caso de Moçambique, Filomeno Fortes considerou que o país conseguiu, logo de início, uma boa capacidade de resposta, tendo desenvolvido rapidamente a capacidade de rastreio e de diagnóstico.

A proximidade com a África do Sul e a mobilidade na fronteira, as catástrofes naturais que têm atingido o país e a violência dos grupos armados “fizeram com que Moçambique apresente actualmente um padrão epidemiológico completamente diferente de outros países”, disse.

Os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) contaram com o apoio do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), nomeadamente através de sessões de esclarecimento e discussão científica dos aspectos ligados à pandemia, como o uso de máscaras ou a promoção da segurança dos profissionais de saúde.

O organismo deu igualmente apoio à criação de laboratórios para diagnóstico com PCR, mobilizando equipamento, mas também fazendo formação de técnicos.

Foram também promovidos projectos comuns de investigação, decorrendo actualmente estudos sobre as novas variantes em circulação, bem como testagem de anticorpos em países como Angola, Moçambique e Cabo Verde.

No caso concreto das vacinas destinadas a África, Filomeno Fortes considerou que “do ponto de vista logístico” são “uma insignificância muito grande”.

“Não temos garantido mais de 15 por cento de abastecimento logístico dessas vacinas para os nossos países, o que significa que temos de procurar alternativas quer com a China quer com a Rússia”, disse.

O médico adiantou que “já está comprovado que a vacina da Rússia é eficaz”, inclusive para as novas mutações identificadas na África do Sul, Brasil ou Reino Unido.

“Os 70 por cento de vacinas que estão a ser produzidas neste momento a nível mundial vão cobrir apenas 13 a 16 por cento da população mundial. A população em África, parte do Sudeste Asiático e da América Latina, neste momento, está com promessas entre 10 e 20 por cento de fornecimento de vacinas”, disse.

Folha 8 com Lusa

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