SAÚDE EM SISTEMA MINÚSCULO

As políticas da saúde reflectem a saúde dos políticos que dirigem os povos, com os seus poderes e nos seus espaços; e vice-versa, para começo de conversa. Sempre que os níveis de bem-estar espiritual, físico e mental dos governantes não se pautam pelo equilíbrio, atingindo, acima de tudo, baixas pontuações, recusando-se a reflectir sobre as saúdes alheias e próprias, ostentam um inquietante diagnóstico.

Por Fernando Kawendimba
Escritor

Passe a redundância subsequente: as políticas da saúde têm de ser saudáveis. Os governantes adoecem a saúde pública, descuidando dos mais desiguais perante a lei, dos mais aos menos empobrecidos.

As altíssimas taxas de mortalidade por privação de saúde, quiçá pela privatização da saúde, são um importante indicativo do descaso que os políticos protagonizam, candidato após candidato, mandato após mandato. Segundo a voz do povo, “saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”. Seguindo a voz do povo, era salutar que esta frase fosse a legenda da realidade.

Naquele tempo em que eu era a criança que nesse momento se mantém viva em mim, os meus pares e eu entendíamos que os hospitais públicos eram lugares tão inóspitos que lhes podíamos encarar com o mesmo pavor que tributávamos ao escuro, ao futuro, ao futuro escuro. Agora que somos adultos, esse idêntico medo é extensivo aos hospitais privados, sobretudo porque sobe tudo que é preço de consultas médicas, análises clínicas, exames e testes, tratamento farmacológico, marcando assim as diferenças entre os estratos socio-económicos.

Que ninguém impeça ninguém do acesso aos serviços de saúde e aos necessários cuidados. Aliás, as comunidades têm de participar das políticas da saúde desde a sua concepção, constantes avaliações, até à sua implementação. Falamos do cuidar dos doentes, dos seus familiares e profissionais da saúde. Precisamos de promover a saúde em todos os becos da sociedade.

A convocatória para a criação e cultivo de hábitos saudáveis tem de emitida sem ser omitida a relevância da entrega de uns e outros, independentemente das confissões de religião, partido, género, etnia, classes sociais, económicas ou académicas. Quando os poderosos e seus familiares têm de viajar para o exterior do seu país para usufruírem de cuidados de saúde primários, cientes de que, para muitos indivíduos e famílias, tal é difícil ou impossível, anunciam que o sistema de saúde do seu governo é minúsculo, de um tamanho microscópico, facilitador da mortalidade.

Abram-se alas para os académicos, estudiosos, investigadores, mulheres e homens de ciências da saúde para poderem integrar e dinamizar programas de promoção do bem-estar. Os trabalhadores da saúde e cuidadores vêm-se adoentados e impotentes quando lhes falta instrumentos para pautarem o seu desempenho pela excelência. Muitas vezes, têm de ser super-humanos, heróis, deuses para puderem prestar serviços humanizados nos hospitais.

A pandemia do coronavírus chegou uivando mais alto do que certos lobos de outros homens, acerca da ineficiência e ineficácia internadas numas e noutras unidades hospitalares. Precisamos de trabalhar-nos para desenvolver o país, desenvolver o humano em nós para o trabalho. Porém, sem saúde para todas as partes, não será atingível o tão ambicionado desenvolvimento.

O sistema de saúde tem de ser administrado por profissionais que trabalhem com responsabilidade e amem ao próximo, bem como aos mais distantes com quem não partilhem laços de sangue, suor e lágrimas.

Dois mil e vinte e um foi anunciado como o Ano Internacional dos Trabalhadores de Saúde e Cuidadores pelos participantes da septuagésima terceira Assembleia Mundial da Saúde, que ocorreu em Genebra. Doravante seja assim: honrar aqueles que escolheram acolher e cuidar dos desprovidos de saúde. Os profissionais da saúde têm de viver a vida pessoal, profissional e social com dignidade.

Os pacientes, familiares e profissionais de saúde sabem o que está em falta e o que tem de ser feito para que o sistema de saúde não exale um mal-estar geral. As autoridades, se competentes, devem perguntar e responder com atitude de tudo orientar para soluções. Como depositar confiança nas pessoas de um governo que não dá primazia ao bem-estar social, físico e emocional de quem e para quem se propõe servir?!

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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