O programa eleitoral do PSD para as legislativas de 30 de Janeiro defende que África “deve ser cada vez mais uma prioridade para Portugal”. Quanto Angola, não tenhamos dúvidas. PSD, PS e MPLA são (é claro!) todos fuba do mesmo saco. A bajulação ao regime é uma alargada coligação que também inclui o PCP e já uma importante franja do Bloco de Esquerda.
A prioridade não se deve limitar à “África lusófona”, que compreende os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e com os quais os social-democratas defendem o aprofundamento das relações técnicas, económicas e sociais, mas “perceber que há espaço para forte cooperação com outros países da região”.
“O PSD propõe que Portugal continue a apostar de forma decidida num papel de relevo na África Ocidental e Golfo da Guiné, mormente através de acções de capacitação. (…) É também preciso assumir a centralidade do Norte de África e Magrebe, dada a proximidade territorial, os recursos energéticos e o potencial de relações comerciais”, lê-se na sua proposta eleitoral.
Destacando a posição de Portugal, o PSD considera que o país “tem de se assumir cada vez mais como um vértice de um triângulo que ligue a Europa, África, América e a Ásia, fazendo uso da sua posição Atlântica”.
“Há, pois, que apostar numa maior e mais capaz presença na Europa, num reforço da Lusofonia e no estreitar de relações com a América (Brasil, América Latina e EUA). Portugal deve assumir-se com um ‘hub’ na circulação de pessoas e bens entre Europa, América, África e Ásia”, porque, sustenta, trata-se de “uma oportunidade estratégica que não pode ser desperdiçada”.
Mas é a Lusofonia que ressalta das propostas dos social-democratas, que caracterizam como “o pilar que assegura a singularidade portuguesa e distingue o país de todos os outros”, no programa eleitoral apresentado em Lisboa.
Nesse sentido, o PSD destaca nos “quatro objectivos” que considera dever balizar as relações externas de Portugal, a “criação de uma cidadania da comunidade, que poderá ter como embrião o regime de mobilidade da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]”.
Voltando a referir-se à posição geográfica, o PSD considera que “a especificidade de Portugal, situado no extremo ocidental da Europa e tendo o Atlântico como segunda fronteira, faz com que a relação transatlântica” seja para o país “mais importante do que para qualquer outro país europeu”.
O PSD pretende “reforçar os benefícios fiscais relacionados com o investimento e actividade económica que envolva os PALOP e a CPLP, nomeadamente com a criação de um ‘Acordo Multilateral de Fiscalidade’ que transforme Portugal num centro financeiro para os investidores dos países lusófonos, através de um regime especial de isenção nas SGPS [Sociedades Gestoras de Participações Sociais], e nos fundos de investimento, em termos de dividendos, mais-valias, juros, ‘royalties’ e amortização do ‘goodwill'”.
PSD, PS e MPLA são (é claro!) todos fuba do mesmo saco
Rui Rio, presidente do PSD, considerou no dia 19 de Setembro de2018 que a visita oficial do primeiro-ministro português António Costa a Angola abriu portas que “no passado recente estiveram fechadas” e enalteceu “o clima favorável” a Portugal que encontrou quando se deslocou ao país.
Ao que tudo indica, se alguma vez Rui Rio for primeiro-ministro, o PSD vai querer bater o recorde de bajulação estabelecido por António Costa. Provavelmente, enaltecendo a separação de poderes em Portugal, o PSD conseguirá o milagre de o Poder Judicial estar de acordo em que todos os processos que possam, eventualmente, envolver altos dignitários do MPLA (só do MPLA, entenda-se) sejam arquivados à nascença ou, até, que seja proibido apresentar queixas contra qualquer cidadão angolano que se identifique com o cartão do MPLA…
“Aquilo que eu previa, e aquilo que eu próprio desejava e procurei também ajudar [na minha visita], é que a visita oficial do primeiro-ministro a Angola corresse bem e abrisse portas que no passado estiveram abertas, mas que no passado recente estiveram fechadas. Eu penso que isso foi conseguido”, resumiu Rui Rio, em declarações aos jornalistas à margem da reunião do Partido Popular Europeu (PPE), em Salzburgo, na Áustria.
Rui Rio lembrou (claro, claro) que teve oportunidade de estar em Angola em Junho de 2018 e que o clima que encontrou foi “favorável a um bom entendimento com Portugal”, tendo, na altura, procurado ajudar para que a visita oficial do primeiro-ministro, António Costa, fosse bem-sucedida.
“Para Portugal é muito bom que esteja virado para a Europa, mas que não esqueça uma frente atlântica que tem 600 anos de história”, referiu.
Com este texto, lá vamos receber mais uns quantos protestos de amigos do actual líder do PSD que, ao contrário de outros também do PSD, não gostam do que o Folha 8 escreve sobre esta opção (já antiga, registe-se) de o PSD bajular os donos de Angola. É claro que se, e quando, os angolanos tirarem o Poder ao MPLA (que já lá está há 46 anos), todos vão passar João Lourenço de bestial para besta.
Também é antiga esta aversão de Rui Rio aos jornalistas. Convivendo muito mal com a liberdade de se pensar de forma diferente, o líder do PSD – é só um exemplo – responsabilizou em Setembro de 2007 os jornalistas por haver “cada vez menos gente na política” e pediu o fim da impunidade na comunicação social.
Vamos por partes. Como há políticos e políticos, há jornalistas e jornalistas. Há directores e directores, há empresários e empresários. Mas quem foi que fez tudo para transformar os jornalistas em produtores de conteúdos comerciais, em criados de luxo do poder vigente? Quem foi que fez tudo para dar essa impunidade à comunicação social, que não aos jornalistas que o são de facto? Não serão os políticos – tipo Rui Rio – responsáveis por haver cada vez menos jornalistas na comunicação social?
“Muitos jornalistas pensam que eu não penso mas eu penso”, disse nessa altura o então presidente da Câmara Municipal do Porto na II Conferência do Clube de Amigos de Vieira, com o tema “Os jogos do poder na comunicação social”.
Ainda bem que Rui Rio pensava… Pena é que agora, ao que parece, tenha deixado de pensar. Esperamos, mesmo assim, que não se esqueça que no Jornalismo também há, ainda há, gente que pensa e que, exactamente por pensar, foi chutada para as prateleiras ou para o desemprego, sem que isso merecesse qualquer acção dos políticos que dizem que pensam.
Com muitas críticas à forma como “alguns jornalistas” trabalham, Rui Rio defendeu e defende o “fim da impunidade” no jornalismo e o fomento da “auto-regulação na comunicação social”.
Rui Rio, talvez embalado por um tema que lhe permitiu dizer o que pensa, esqueceu-se de pensar no que diz. E assim continua. O Jornalismo não é uma actividade acima da lei e nem goza de impunidade. A impunidade a que se referia, na altura com alguma razão, não respeita ao Jornalismo mas ao comércio jornalístico que, esse sim, está em Portugal nas mãos de autómatos colocados pelos políticos, desde o PSD ao PS, desde o PS ao PSD, nos lugares de decisão e em Angola nas mãos dos autómatos escolhidos pelo MPLA.
“Tem de haver mecanismos de defesa das pessoas perante a difamação ou a insinuação que determinados órgãos de comunicação fazem aos políticos”, afirmou Rui Rio. É claro que sim. Mas não é acabando com a liberdade de expressão, como fez o PS com o Estatuto dos Jornalistas, que se altera a situação. Não é acabando com a liberdade de expressão, como faz o MPLA também através da sua sucursal reguladora da comunicação social (ERCA), que se altera a situação.
Ponham, em Portugal e em Angola, seja na Política ou no Jornalismo, o primado da competência acima do da subserviência e encontrarão um salutar equilíbrio. Até lá teremos mais subservientes do que competentes, até porque a profissão de subserviente é muito mais, mas muito mais, bem paga.
“Cada vez há menos gente disponível para ocupar cargos públicos porque têm medo da comunicação social”, frisou o então presidente da Câmara do Porto. Medo? Os políticos são a única classe que pode mentir todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos sem que nada lhes aconteça e, por isso, não têm legitimidade para falar de medo.
Com algum bom senso, Rui Rio condenou os políticos que “aderiram às regras da comunicação social” e que olham para as pessoas como “espectadores” e não como cidadãos. Ora aí está. Afinal, parecem ser farinha do mesmo saco.
Quanto à existência ou não de liberdade de imprensa em Portugal, Rio disse que não há liberdade de imprensa da forma que entende que deve haver.
“A liberdade de imprensa não respeita as outras liberdades. Assume-se como a única verdade e isso não pode ser”, referiu Rui Rio.
É verdade. Todos os jornalistas sabem que a sua liberdade termina onde começa a dos outros. Também sabem que a dos outros termina onde começa a sua. O problema está em que a Imprensa é cada vez menos feita por jornalistas…
E quando aparecem Jornalistas a dizerem que “Rui Rio confirma que o PSD bajulou, bajula e bajulará” o MPLA, entorna-se o caldo. É a diferença entre políticos e jornalistas. Os primeiros põem as ideias de poder em primeiro lugar, os segundo põem em primeiro o poder das ideias. E isso é uma chatice.
Folha 8 com Lusa