PEDOFILIA POLÍTICA E REAL

Na edição impressa da semana passada (replicada aqui na edição digital diária) iniciamos uma incursão sobre um dos maiores erros históricos da elite dirigente do MPLA, ao rejeitar a bicefalia, que seria capaz de libertar o líder das correntes do autoritarismo e da ditadura. O apego às mordomias e cegueira mental impediu-os de ver para lá do horizonte, em direcção a uma verdadeira revolução mental capaz de desembocar em práticas de democraticidade interna.

Por William Tonet

Hoje o quadro é de um partido onde o presidente, não é o primeiro interpares, mas um órgão, concentrador de supra-poderes, capaz de transformar, pelo controlo que tem das Forças Armadas, Órgãos de Segurança e Polícia Nacional, os demais dirigentes, individuais e colectivos em vassalos, sem poder de, em liberdade, expressar e pleitear, pela pluralidade funcional do partido. Actualmente, o presidente do MPLA tem mais poderes do que todos os seus antecessores, incluindo na República, com a alteração da Constituição, Lei da Segurança Nacional e Lei Orgânica das Eleições. É um verdadeiro perigo a democracia participativa.

Outro marco a escrutinar estes cinco anos de João Lourenço é a banalização e infantilização dos órgãos do MPLA, com o emergir de dois blocos, cada vez mais antagónicos: eduardistas e lourencistas, ou antigos e novos, este integrado por “meninos yes man”, sem experiência, passado e humildade política, um autêntico exército “mirin” obcecado pelo poder.

O VIII congresso de Dezembro 2021, pese o descomunal aumento para 700, o número de membros do Comité Central, tornando-o no maior órgão de direcção partidário do mundo, suplantando o do partido comunista da China, não constituiu uma mais-valia, pelo contrário, João Lourenço e o seu MPLA saíram mais fragilizados, principalmente, ao prescindir a qualidade pela “quantidade infantil”.

Ademais poderá, o partido no poder, um dia vir a ser criminalizado pela promoção e prática da pedofilia; política e real. A Constituição em Angola consagra, no art.º 24.º, a maioridade, dos cidadãos aos 18 anos, logo, não pode, um menor, sem autorização paternal e “procuração juditia”, publicitada em editais, exercer actividades, que a lei proíba de forma explícita.

Como um partido político, com responsabilidades governativas, obriga menores de idade a participar em acções políticas partidárias, no meio de mais velhos, muitos com barba rija, contrariando a Carta Magna e a Lei dos Partidos Políticos?

Onde anda a higiene jurídico-intelectual dos dirigentes do MPLA, tão ciosos em arremessar pedras para os telhados dos outros?

Em tempos, não muito longínquos, muito boa gente, com competência, que o diga Ângela Bragança, por exemplo, para chegar aos órgãos superiores do MPLA; comité central e bureau político, tinha de galgar os carreiros da maioridade política e profissional, na JMPLA.

Hoje, a banalidade é um critério de ascensão, transformado que está, em jardim infantil, o órgão mais importante, do único partido que governa Angola desde 1975.

E se a nível partidário é assim; vulgaridade, não espanta, os contornos da engenharia, que alavancou a anónima menininha, Daniela Tatiana da Silva Gerado, de dezoito aninhos, natural da Huíla, a ter sofá de ressonar, no comité central do MPLA…

Pelos vistos o órgão de tão vulgar, anda aos saldos, de tal monta que os critérios da verticalidade e horizontalidade se confundem, por ser um crime colocar, no meio de reuniões de “porras e outros quejandos”, de mais velhos, uma menininha desde os seus 15 anos de idade…

O traquejo político ganha-se na prática de segurar o batente e, no caso vertente, existe a suspeição de ter imperado muita sarrabulhada, até à saída do cartão branco dos kotas, nesta ascensão meteórica.

Verdade ou mentira tudo incrimina…

O MPLA e João Lourenço, pela queima de etapas, podem ter levado uma criança ao cometimento de crimes, quer políticos como económicos, antes de atingir a maioridade: 18 anos! Uma clara pedofilia política, que tal como a pedofilia real é um crime…

E a pergunta que não se quer calar é esta: Se o MPLA não respeita a Constituição, utilizando menores, para práticas lesivas, respeitará a lei eleitoral, a transparência, as liberdades e a democracia?

Outrossim, a recondução de uma equipa com suspeições desabonatórias, Luísa Damião (vice-presidente), casada com empresário/evangélico(?) brasileiro, Paulo Pombolo, secretário-geral, cujo cadastro de incompetência, má gestão e corrupção, navega na mente de muitos, principalmente, na província do Uíge, onde foi governador, e Rui Falcão, visto como um dirigente, arrogante, racista, prepotente, carcereiro de jornalistas e acusado também (não é o único) de crimes de corrupção, abuso de poder e passionais, no Namibe e Benguela, não emprestam credibilidade a gestão de João Lourenço.

Por outro lado, a humilhação de muitos quadros como Isaac dos Anjos, Pitra Neto, Nandó, Dino Matross, Kussumua, Boavida Neto, João Teta, Irene Neto, Bornito de Sousa (muito provavelmente, será escorraçado por Carolina Cerqueira) e outros, retira capacidade operacional eleitoral ao MPLA, por ser o próprio chefe a acusá-los de serem parte da quadrilha de “Ali Babá e os 40 ladrões”, agora ampliados…

De tal monta que na estratégia lourenciana, Carlos São Vicente veio destapar o véu, que cobria Agostinho Neto como impoluto, juntando agora ao seu tenebroso currículo de genocida a de corrupto, cuja família, mulher, filhos e genro, agora preso geria e tinha uma fortuna de mais de 100 milhões de dólares, fruto de pensões, vantagens indevidas, porquanto a Procuradoria-Geral da República tem ciência de 800 milhões serem pertença de resseguros de petrolíferas, terem saído, licitamente, do país, confirmado pelo Ministério Público e geridos pelo economista. A banalização de Neto e de todos os dirigentes do MPLA nunca foi tão profunda vinda de dentro.

As acções lourencianas demonstram, de forma ostensiva, ao vivo e a cores, ser o MPLA, o centro da corrupção, o cancro dos angolanos, a causa da desgraça colectiva.

Transformado no partido mais rico de África e entre os três do mundo, por José Eduardo dos Santos, não conseguirá nunca provar a licitude dos bens imóveis (adquiridos sem concurso, logo “furtados” ao Estado), como as sedes nacionais, provinciais e municipais, bem como outras, na maioria dos bens móveis, igualmente, assim como no tocante as empresas, acções em sociedades comerciais, financeiras, etc..

A lógica de atacar tudo e todos, sem filtros, e fazer da política partidocrata uma terra queimada para consolidação do poder, assassinando o carácter dos adversários internos e perseguindo a céu aberto, com recurso aos órgãos judiciais, os principais líderes da oposição, sem uma agenda alternativa, capaz de garantir a diminuição do desemprego, fome, miséria e dos 20 milhões de pobres. Assim, abriu-se a “Caixa de Pandora” e o aumento da contestação e repulsa, por falta de tacto político, contra João Lourenço, ameaçado de não ser reconduzido a um segundo mandato, percepção que o arreda dos carreiros da democracia. A fraude, a batota eleitoral, a ditadura, são a única escapatória para a manutenção do poder.

Hoje, a maioria dos que apunhalaram, covardemente, pelas mordomias, JES, devem estar arrependidos e a comungar da posição, sempre defendida pelo Folha 8, de que a bicefalia: um corpo com duas cabeças, se adoptada em 2017, seria a melhor tábua de salvação para a sobrevivência mais higiénica e civilizada do partido no poder e, concomitantemente, para Angola, porque obrigaria à sua democratização interna e a um esmero do seu cabeça de lista na Presidência da República.

João Lourenço ficaria compenetrado, exclusivamente, com a Presidência da República e José Eduardo dos Santos, Fernando da Piedade, Pitra Neto ou outro, responderia, com independência à liderança do MPLA. Haveria uma espécie de semi-revolução legislativa, com os deputados da bancada maioritária a pressionar o Executivo a ter visão diferente, sobre a penúria social, económica e financeira, a exigirem a fiscalização dos actos do Titular do Poder Executivo, coagindo-o ainda a não “vender” o país ao Fundo Monetário Internacional, nem aumentar os impostos, o desemprego e a não entregar o comércio alimentar e industrial aos representantes fundamentalistas do regime islâmico.

Com a bicefalia o MPLA poderia recuperar algum fôlego para polir a sua tão desgastada imagem. Agora, desmascarados pelo novo líder, aos olhos da maioria é visto como um antro de bandidos e corruptos, sem um projecto de sociedade! Mais grave, ainda é o de ter transformado os deputados em meros robots e capachos submissos, ao Presidente da República, indiferentes ao sofrimento popular.

Daí crescer, nos cidadãos com higiene intelectual, o sentimento de a não bicefalia, ter sido uma obsessão, mais para enfraquecer José Eduardo e a sua clique (caricatamente, todos do MPLA), do que melhorar o desempenho do partido e actual presidente, que munido de todos os poderes; partido e Estado, os triplicou, arremessando para os cidadãos, políticas económicas neoliberais assassinas, como nunca antes (nem no tempo da guerra), que levam milhões ao desemprego, e aos contentores de lixo.

O caldo trungungueiro é a causa mais forte do aumento actual da rejeição do MPLA, uma vez, os actos do actual presidente, serem contrários a postura de um líder, porque próxima a de um vulgar, autoritário, arrogante, não dialogante, chefe de posto, com muitos poderes, mas sem capacidade de os gerir.

Artigos Relacionados

Leave a Comment