PARA MAU ELEITOR, MEIA PROMESSA BASTA

Emocionar-se é humano. A emoção é vital, vitalícia e a sua expressão não é necessariamente por mal ou malícia. Acusar alguém de “ser emocionado” pode ser, meu caro emocionado, elogiá-lo. Entretanto, a razão deve iniciar, manter e reiniciar o controlo sobre a emoção, sem excepção, para evitar excessos e consequências negativas.

Por Fernando Kawendimba
Escritor

Ora, o poder de controlo que a razão exerce sobre a emoção não é absoluto. Quem votar, neste ano eleitoral, há-de conferir. Votar ou não votar é uma questão emocional.

Os anos eleitorais são ocasiões peculiares de avaliação da capacidade de controlo da emoção. Nos últimos anos, certos cidadãos nacionais têm consolidado certezas quanto ao partido em que hão-de depositar o seu voto de desconfiança mínima possível. Se a boa governação é oculta aos cidadãos, há, de parte destes, intenções de votos ostensivas.

Vale a pena o voto consciente, todavia é pena que os cidadãos não tenham controlo total sobre a eleição política de um partido ou sobre a sua escolha do partido de eleição.

Os meios de comunicação públicos nacionais com frequência pintam os partidos na oposição de tons maliciosos, enquanto líderes destes são maquilhados de infâmia. Ainda bem que redes sociais e internet, alguns jornais e revistas, rádios e livros fazem a diversidade da informação. Quando só se comunica má notícia de um político, a memória a ser feita deste no acto eleitoral é preferencialmente negativa.

Alguém ostracizado persistentemente será lembrado tendenciosamente com os adjectivos contra-indicados que lhe são atribuídos. Os políticos em campanha eleitoral sabem-no: para mau eleitor, meia promessa basta.

Há, no aparelho psíquico do cidadão eleitor, uma zona de passagem de conteúdos rejeitados pela consciência: o subconsciente. Um cidadão eleitor, ciente porque coberto e preenchido de razão, pode negar-se a votar nalguns candidatos e partidos políticos de quem e de que só se comunicam más notícias. A memória de que destes se faz, a ponto de influenciar na sua repulsa, é condicionada por rancor, raiva, nojo, medo, ira, indignação, decepção, arrependimento ou outras emoções negativas.

O cidadão eleitor pode votar na lista do candidato vali não porque a aceita; o cidadão eleitor pode votar na lista do candidato vali porque rejeita a lista do candidato mosi.

Para um político em campanha eleitoral, sobretudo o demagogo, mentir é basicamente uma necessidade e omitir é uma necessidade básica. Para executar o poder em nome do povo cuja maioria, apesar da terra, não goza de segurança razoável, saúde integral, repouso necessário, estabilidade financeira, alimento nutritivo, água potável, ar puro, abrigo digno, o discurso político tem estado acentuado e pontuado de acusações a ponto de instigar o medo de permanecer doente, pobre, morto.

Um cidadão nacional comum, a quem lhe toque estar doente, pode imaginar-se mais pobre e mais envelhecido. Não importa o diagnóstico: estar doente num país como o nosso é estar económica, emocional, espiritual, física e socialmente mal. O governante que tem de tratar da sua saúde primária e da dos seus em territórios alheios ao povo e ao dos hospitais públicos é um pregador do medo.

Um dos medos mais notáveis é o da pobreza… extrema. A pobreza converte os humildes em humilhados. Humanamente, não existe coragem de ser pobre. O domínio do poder político, discriminadamente por cá, também tem significado o assumir do poder económico. Quem manda anda a ter mais do que ser. Quem manda pode ter dinheiro de edificar laboratórios de ensaios de compras de bens de ordem imaterial ou virtudes como temperança, prudência, justiça, fé, esperança, coragem, caridade. Sim, até amor.

Sendo que, enquanto humanos, normalmente temos medo de perder até o pouco que julgamos ter, então uns apressam-se em acumular poderes políticos e económicos. Os políticos percebem que quanto mais espalharem o medo, mais virão recolher votos de alguns eleitores para si. Em campanha eleitoral, o político pode até lavar os pés do cidadão eleitor, mas para o resto tempo as lavar as mãos, frente aos problemas do povo.

E o medo de morrer de malária, tuberculose, outras doenças, causas diversas e dispersas por todo o país? Não é, o medo de morrer, o maior de todos? Sobre o cenário após a morte não há verdades que descansem em paz no cenário da razão. O candidato político carente de reconhecimento, prestígio e poder suscita, sem medo, o medo no eleitor mais sensível.

Há quinhentas mil realizações prometidas que não podem ser cumpridas até ao pleito eleitoral seguinte. Há compromissos que os políticos fizeram que eles mesmos não farão acontecer ainda que a sua vida na terra seja eterna ou o seu poder político se perpetue. O cidadão eleitor, decepcionado, ou não vota ninguém ou vai às urnas para punir quem tenha frustrado as suas esperanças motivadas por um discurso político. O procedimento inconsciente e involuntariamente punido tende a ser reduzido ou anulado, de facto.

Em Angola, não há histórico de debates entre os candidatos políticos. Alguns candidatos políticos investem surdez, mudez, ignorância e cegueira quanto à necessidade de trocar opiniões sobre saúde, educação, economia dos povos de Angola. Quando se fala do Programa Eleitoral promovem-se ruídos para que o cidadão eleitor não ouça e não seja leitor do documento. Assim, o inconsciente predomina e ao cidadão eleitor resta votar num candidato político que reúna qualidades e defeitos naturais ou culturais com os quais se identifique.

Lembre-se: as eleições são um acto emocional; as escolhas são sobretudo não conscientes.

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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