A consultora Fitch Solutions considera que a produção de petróleo em Angola vai cair 20% até 2031 devido à maturação dos poços petrolíferos e à falta de investimento crónico em novas descobertas. Será caso para a PGR do MPLA pedir a intervenção da Interpol ou mandar deter esta consultora por atentar contra a segurança do reino?
A “principal razão para o crescimento medíocre da produção petrolífera é o efeito do legado da maturação dos poços petrolíferos”, diz a Fitch Solutions numa nota de comentário sobre a manutenção da produção abaixo do limite definido pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
“A queda na produção dos poços actuais de Angola significa que é preciso uma taxa maior de crescimento da produção para manter a produção nos níveis actuais; Angola precisa de cerca de mais 36 mil barris por dia de produção para anular o impacto do declínio natural”, dizem os analistas desta consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings.
No comentário, enviado aos clientes, a Fitch Solutions escreve que “Angola tem assistido a uma pequena subida dos níveis de produção, com a entrada em funcionamento de vários pequenos projectos, mas neste trimestre prevemos que a pequena subida de produção estagne, regressando a um crescimento negativo em 2023, com o efeito do declínio dos poços a materializar-se”.
A produção de Angola tem andado em cerca de 1,1 milhões de barris por dia desde o princípio do ano, bem abaixo do limite de cerca de 1,5 milhões de barris por dia imposto pela OPEP.
“O novo limite para Angola ao abrigo da produção total da OPEP está muito acima das capacidades de produção e as taxas de crescimento anteriores indicam que há uma probabilidade muito baixa de Angola se aproximar dos limites da OPEP a curto prazo”, concluem os analistas.
PETRÓLEO, MEMBRO FUNDADOR DO MPLA
A ministra das Finanças de Angola, Vera Daves de Sousa, disse no passado dia 17 de Maio que o Governo reviu em alta a previsão de crescimento económico para este ano, antecipando agora uma expansão de 2,7% devido ao aumento do preço do petróleo.
“Sim, revimos a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano para 2,7%, considerando o mesmo ritmo de 1,14 milhões de barris de petróleo por dia e um preço a rondar os 100 dólares”, disse Vera Daves de Sousa, quando questionada durante a conferência da Bloomberg sobre África, que decorreu a partir de Londres.
Angola saiu da recessão que durava desde 2016 no ano passado, registando um crescimento de 0,7%, e previa aprofundar a recuperação, com uma expansão económica de 2,4% este ano.
Na entrevista concedida durante a conferência ‘Bloomberg Invest: Focus on Africa’, a ministra das Finanças foi também questionada sobre a possibilidade de Angola aumentar as exportações de petróleo e gás para a Europa, compensando a quebra nas vendas à Rússia.
“Sim, temos a vontade política e abertura para o fazer, mas precisamos de muito trabalho de casa para conseguir dar resposta a essa necessidade da União Europeia”, respondeu Vera Daves de Sousa, salientando que entre o investimento e o retorno passam anos.
“Nós viemos de um cenário de queda da produção, estamos a motivar as companhias a fazerem mais investimentos, através de reformas, e estamos a ver os primeiros resultados, mas demora tempo, entre os investimentos que começam agora e os resultados, demora entre dois e cinco anos, por isso sim, queremos e estamos preparados [para aumentar as exportações para a Europa] mas vai demorar tempo para conseguirmos corresponder às expectativas”, explicou a governante.
Novidade? Nenhuma. Em Dezembro passado, o FMI referiu que Angola deveria acelerar o crescimento económico para 2,9% em 2022, o que representava uma revisão em alta face aos 2,6% anteriormente previstos pelo Fundo Monetário Internacional, e registar um crescimento médio de longo prazo em torno dos 4%, disse o FMI, sustentando a previsão “na implementação das reformas estruturais”, que roubam aos milhões que têm pouco, ou nada, para dar aos poucos que têm milhões.
Ainda segundo o FMI, na análise – repita-se – do final de 2021, a inflação “deverá começar gradualmente a abrandar em 2022”, enquanto o rácio da dívida pública deverá cair para 78,9% em 2022, ajudada não só pelo regresso ao crescimento económico, mas também pela valorização do kwanza durante este ano.
“As políticas prudentes das autoridades angolanas contribuíram para fortalecer a estabilidade e a sustentabilidade ao abrigo do programa, apesar das difíceis condições económicas; ajudadas pela recente subida dos preços do petróleo, esta disciplina nas políticas e o compromisso com as reformas também começaram a melhorar o desempenho económico, colocando Angola no caminho da recuperação dos múltiplos choques e da recessão plurianual que sofreu”, conclui o FMI.
Como é para matumbos…
Em Outubro de 2021, o mesmo FMI piorou a previsão de crescimento para Angola, antecipando uma recessão de 0,7%, a sexta queda anual consecutiva da riqueza do país, que deveria crescer 2,4% em 2022.
De acordo com essas Previsões Económicas Mundiais, divulgadas no âmbito dos Encontros Anuais do FMI e do Banco Mundial, o segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana iria registar o sexto ano consecutivo de recessão. Mas como era Natal…
Angola tem enfrentado crescimentos negativos do Produto Interno Bruto desde 2016, na sequência da descida dos preços do petróleo, que afectou a receita do Estado, e do abrandamento da produção de petróleo devido à falta de investimento e ao declínio natural das reservas.
As previsões (de Outubro de 2021) do FMI surgiram poucos dias depois de o Governo de Luanda ter actualizado o cenário macroeconómico, no qual estimavam uma estagnação (crescimento zero) este ano, apesar de a ministra das Finanças, numa entrevista à Bloomberg, ter admitido que a recessão era ainda uma possibilidade.
Por sua vez, o ministro de Estado para a Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior, disse na altura que a redução da actividade petrolífera, a par dos efeitos da pandemia, foi um dos principais motivos dos crescimentos negativos dos últimos anos.
“Devido ao grande peso que o sector ainda tem na nossa economia, o crescimento negativo deste sector tem afectado negativamente o crescimento global do país”, disse, lembrando que a estimativa do Governo apontava para um crescimento nulo em 2021, depois de cinco anos de recessão, mas já com a economia não petrolífera a crescer significativamente.
“Para 2021, prevemos um crescimento global nulo, mas devemos realçar que para este ano a previsão de crescimento do sector não petrolífero é de 5,9%, enquanto o sector petrolífero deverá registar uma taxa de crescimento negativa em 11,6%”, disse o governante, num discurso feito no seminário sobre a economia de Angola, promovido pelo Instituto Real de Estudos Internacionais do Reino Unido (Chatham House).
Para 2022, o Governo previa uma expansão económica de 2,4%, sustentada num crescimento do sector não petrolífero de 3,1%, “o que é de grande importância porque este é o sector que cria mais postos de trabalho e está em melhores condições de contribuir para o bem-estar dos angolanos”, concluiu o responsável.
Deficiência ou (deliberado) gozo?
No dia 10 de Dezembro de 2019, Marcos Rietti Souto (representante do FMI em Angola), disse que as reformas em curso no país “são do Governo angolano e não da instituição financeira”, defendendo que “apesar de difíceis”, estas trarão “resultados positivos”. Por outras palavras, como faziam os coloniais maus “chefes de posto”, a culpa do que eles mandavam fazer era sempre dos sipaios.
“Reconhecemos que muitas dessas reformas, essas medidas, não são medidas fáceis, elas são para a economia e para a população, mas elas são reformas do Governo angolano, não são medidas do FMI, nós estamos aqui, simplesmente, para darmos o nosso contributo do ponto de vista da experiência”, afirmou nesse dia Marcos Rietti Souto, passando aos angolanos um enorme atestado de menoridade intelectual e de matumbez.
Segundo o responsável, o FMI iria continuar a dar o suporte técnico ao Governo angolano para implementar essas reformas “que na nossa visão pensamos que no médio e longo prazo terão resultados bastantes positivos para a economia angolana”.
No âmbito do programa de ajustamento financeiro, aprovado em Dezembro de 2018, e no domínio económico, financeiro e fiscal estão em curso em Angola (por ordem directa e sine qua non do FMI) com vista à estabilidade macroeconómica e da gestão das finanças públicas.
“Todas essas medidas, elas vêm sendo discutidas dentro do contexto desse programa de assistência ao Governo angolano que já vem inclusive sendo apresentado nos relatórios anteriores”, recordou o representante do FMI, em declarações aos jornalistas.
O responsável falava na altura na sede do Ministério das Finanças, em Luanda, no final de cerimónia de assinatura do Projecto de Apoio à Gestão das Finanças Públicas de Angola entre o Governo angolano, a União Europeia e o departamento de Assuntos Fiscais do FMI.
“Existem algumas iniciativas em curso, inclusive as transferências monetárias para as populações mais carentes é uma iniciativa em coordenação com o Banco Mundial e a intenção é que este mecanismo esteja disponível antes de se começar qualquer remoção de subsídios do petróleo”, explicou.
Em relação à, na altura recente aprovação da revisão da Lei de Branqueamento de Capitais e Financiamento ao Terrorismo, com observações sobre pessoas politicamente expostas, o representante do FMI classificou com um “passo importante”, aguardando pela sua efectivação.
“Esperamos pela efectivação da aplicação da lei, e da nossa parte o que vemos é que há um compromisso muito forte por parte das autoridades angolanas e enfatizo que essa como tantas outras são iniciativas do Governo angolano”, concluiu.
Folha 8 com Lusa