O MPLA MATAVA TUDO E TODOS

O presidente da UNITA, o maior partido da oposição angolana que o MPLA (ainda) permite, enalteceu hoje o “grande exemplo de coragem” dos políticos Adolosi Mango Alicerces e Elias Salupeto Pena, assassinados durante o conflito pós-eleitoral de 1992, considerando-os “mártires pelo brioso empenho pela luta da paz”.

Adalberto da Costa Júnior, que apresentava o elogio fúnebre dos dois ex-dirigentes da UNITA, realçou que ambos foram “homens de coragem” e “possuíam características nobres”.

A cerimónia fúnebre oficial de Adolosi Mango Alicerces, ex-secretário-geral da UNITA, e de Elias Salupeto Pena, ex-chefe da delegação da UNITA na Comissão Conjunta Político-Militar (CCPM), decorreu hoje no complexo SOVISMO, município de Viana, em Luanda.

As ossadas destes dois ex-dirigentes da UNITA foram entregues pelo Governo do MPLA em Novembro de 2021, pela Comissão Interministerial para a Memória das Vítimas dos Conflitos Armados em Angola, criada pelo Presidente João Lourenço.

Filhos, viúvas, familiares, amigos, dirigentes da UNITA e de outros partidos, convidados e demais pessoas, compadecidos com a presença das urnas contendo os restos mortais dos antigos dirigentes do “galo negro”, lotaram o complexo SOVISMO.

Cânticos, declamação de poemas, mensagens e testemunhos preencheram o programa de cerimónia, onde familiares e ex-companheiros recordaram a memória destes políticos considerando que os mesmos foram “exemplo de luta e coragem para o alcance da paz”.

O líder da UNITA assinalou, na sua intervenção, as qualidades “intelectuais e de coragem” de Adolosi Mango Alicerces referindo que o político era “exigente consigo mesmo e gozava de muita estima, consideração e respeito”.

Elias Salupeto Pena, recordou Adalberto da Costa Júnior, “gostava de partilhar os sólidos conhecimentos que detinha e era um homem de trato fácil”.

“Neste momento solene em homenagem aos nossos heróis e mártires, a UNITA agradece o vosso brioso empenho até ao derramamento do vosso sangue pela esperança dos angolanos”, realçou o presidente da UNITA.

O deputado Lukamba Paulo “Gato” e o político Abel Chivukuvuku apresentaram, na ocasião, mensagens e testemunhos de convívio com os homenageados, sobretudo a nível do partido e da CPPM.

Os restos mortais de Adolosi Mango Alicerces vão a enterrar na sexta-feira, no município do Bailundo, na província do Huambo, e de Elias Salupeto Pena vão a enterrar no sábado no município do Andulo, província do Bié.

O MPLA mata(va) tudo e todos

O regime do MPLA está morto, só ainda não sabe. E, convenhamos, como ainda não sabe não terá problemas em completar o que deixou a meio em 1992: o massacre de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, onde morreram 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.

O massacre ocorreu depois de uma fase de paz que se seguiu aos acordos do Alto Kauango e de Bicesse, celebrados em Maio de 1991. A guerra civil entrou então numa nova fase e prolongou-se por mais dez anos.

“Foi naturalmente um dia horrível. Estava-se a discutir a paz”, recordou em Outubro de 2012 à DW Filomeno Vieira Lopes, líder do Bloco Democrático. Ele lembrava-se bem da data que interrompeu o processo de paz em Angola.

Filomeno Vieira Lopes estava fora de casa quando começaram os bombardeamentos. Foi apanhado de surpresa, sobretudo numa altura em que se tentava encontrar soluções políticas para o problema. “Matava-se tudo. Matavam-se todos os que tivessem alguma ligação com a oposição.”

Milhares de apoiantes e até dirigentes da UNITA foram assassinados em Luanda e em outras localidades do país, mas a sanha do MPLA, cujo ADN assassino já mostrara todo o seu potencial em 1977 (nos massacres de 27 de Maio), também não poupou a FNLA.

“Foi a primeira vez, na história da guerra civil angolana, que políticos morrem em combate”, escreveu o jornalista Emídio Fernando no livro “Jonas Savimbi: No lado errado da História”.

Até hoje, permanece por esclarecer quem ordenou o massacre. O número de vítimas também nunca foi confirmado, mas estima-se que tenham morrido cerca 50 mil pessoas. Números que os sipaios do MPLA, contestam:

“Acho que, às vezes, a comunidade internacional empola. Houve uma manipulação desses resultados. Eventualmente fala-se das pessoas que morreram pela UNITA, mas também morreu muita gente pelo lado do governo. A UNITA quando ocupou o Uíge matou muita gente do MPLA e quando ocupou o Huambo, fez o mesmo,” justifica Mário Pinto de Andrade.

Os assassinatos ocorreram após as eleições presidenciais e legislativas de 1992, as primeiras na história do país. Nem o candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos (que esteve no Poder durante 38 anos), nem o seu adversário, Jonas Savimbi, da UNITA, conseguiram maioria absoluta nas presidenciais.

Mas a segunda volta nunca se realizou. A guerra civil reacendeu-se com o massacre e prolonga-se até 4 de Abril de 2002. O massacre também dizimou muitos membros dos grupos étnicos Ovimbundu e Bakongo, historicamente tidos como adversários do MPLA.

De facto, como antes, como agora, como no futuro, o MPLA quis neutralizar todos os que pensavam de maneira diferente do regime.

Foi uma tentativa de decapitar a UNITA. Tanto que fala-se em milhares de mortos, eventualmente até em cerca de 50 mil. É certo que também o próprio vice-presidente da UNITA, Jeremias Chitunda, tal como Mango Alicerces [secretário-geral da UNITA] e Elias Salupeto Pena [sobrinho do líder do partido, Jonas Savimbi] foram mortos nesse massacre. Na história do MPLA, os massacres, ou as purgas, ou o que se lhe quiser chamar, são uma regra estratégica do regime, mesmo até para os próprios simpatizantes do MPLA que, eventualmente, se atrevam a pensar de forma diferente dos líderes.

O tema, como outros, ainda é tabu em Angola e desconhecido pelas novas gerações, embrutecidas, formatadas e manipuladas pelo MPLA.

Estes massacres, quer o de 27 de Maio de 1977, quer o de 1992, são os mais visíveis pelo número de vítimas, mas o MPLA tem muitas outras histórias porque ao longo da guerra – embora a UNITA obviamente também tenha cometido grandes erros – o MPLA, até pelo poder militar que tinha, massacrou muita gente inocente. A paz e reconciliação em Angola nunca se conseguirá com base na mentira.

Um dia destes o MPLA vai provar que o massacre do Pica-Pau em que, no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados no Comité de Paz da UNITA em Luanda… foram obra da UNITA.

Como irá provar que o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção, foi obra da UNITA.

Ou de, entre 1978 e 1986, centenas de angolanos terem sido fuzilados publicamente, nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda.

Ou de, em Junho de 1994, a Força Aérea ter bombardeado a Escola de Waku Kungo (Província do Cuanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores, bem como entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994 ter bombardeado indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Caluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.

É verdade, reconhecemos, que tudo o que de mal se passou, passa ou passará em Angola é sempre culpa da UNITA. Desde logo porque as balas das FALA (Galo Negro) matavam apenas civis e as das FAPLA/FAA (MPLA) só acertavam nos militares inimigos. Além disso, como também é sabido, as bombas lançadas pela Força Aérea do MPLA só atingiam alvos inimigos e nunca estruturas civis.

Como dizia um outro sipaio do MPLA, que para ser director do Pravda do regime (Jornal de Angola) teve de ser operado e passar a ter o cérebro para o intestino, de seu nome José Ribeiro, “quem viveu tantos anos sob o regime de Jonas Savimbi e agora prospera à sombra do mundo da mentira elevada ao nível mundial, jamais consegue perceber o sentido da liberdade nem respeitar os direitos dos outros”.

Terá sido, aliás, por influência desta tese de José Ribeiro que o actual ministro da Defesa de Portugal, João Gomes Cravinho, disse, em entrevista ao jornal português Expresso, que Jonas Savimbi era um “Hitler africano”.

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