O (CRA)VINHO DOS DITADORES… BONS

O ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, ex-ministro da Defesa, inimigo assumido da UNITA (disse que Jonas Savimbi era um Hitler africano), vê na próxima reunião da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Luanda, uma oportunidade de partilhar, “num clima de confiança”, diferentes visões sobre a guerra na Ucrânia.

Em declarações à Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) luso manifestou expectativas positivas para a XXVII Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da CPLP: “Vai ser muito útil porque eu vou poder explicar a visão portuguesa e vou ter oportunidade de ouvir, da parte dos meus colegas, num clima de confiança, aquilo que são as suas maneiras de ver esta situação”.

João Gomes Cravinho relembra que não será adoptada “nem foi alguma vez proposto” que se adopte “uma resolução”, mas confirmou que irá trocar impressões com os homólogos lusófonos sobre a invasão russa da Ucrânia, destacando “as suas consequências em termos de segurança alimentar”, pois “obviamente que é algo que preocupa a todos”.

Para o ministro, Portugal não é “uma voz isolada”, referindo que basta olhar “as posições adoptadas por Timor-Leste e por São Tomé e Príncipe, para se ver uma convergência absoluta”.

Em relação a outros países, Gomes Cravinho admitiu que há “diferentes perspectivas, mas a CPLP é uma comunidade em que há grande confiança, proximidade e diria mesmo intimidade entre as partes e, tal como em famílias, permitem-se divergências de opinião, sem que isso ponha em causa a essência do relacionamento”.

A presidente do Conselho da Federação Russa (Senado), Valentina Matvienko, está em Moçambique a convite da presidente da Assembleia da República moçambicana, Esperança Bias, tendo assinado, na terça-feira, um acordo de cooperação entre os dois parlamentos, incidindo na troca de experiências e partilha de informações.

Após receber a terceira figura do Estado russo, o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, elogiou Moscovo por “fazer um esforço para evitar o pior”, uma vez que poderia “terminar a guerra em dois dias ou três, mas isso implicaria enormes [perdas de] vidas”.

Além disso, Moçambique foi um dos 38 países que se absteve na votação da Assembleia Geral das Nações Unidas, onde uma esmagadora maioria aprovou uma resolução responsabilizando a Rússia pela crise humanitária gerada pela guerra na Ucrânia.

A Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde a independência, tal como o MPLA em Angola) foi um aliado de Moscovo durante o tempo da ex-URSS, de quem recebeu apoio militar na luta contra o colonialismo português e ajuda económica depois da independência, em 1975.

A XXVII Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da CPLP vai decorrer em Luanda, no Hotel Epic Sana, na sexta-feira.

No debate geral, os MNE e das Relações Exteriores dos Estados-membros vão intervir sobre o tema “Cooperação Económica na CPLP”, proposto por Angola, que assumiu a presidência da organização depois da XIII Conferência de Chefes de Estado e de Governo, realizada em Julho de 2021.

João Gomes Cravinho avançou que será feito “um levantamento daquilo que são os instrumentos possíveis, do que está a funcionar e do que está menos bem” e de como é que se pode “trabalhar melhor no plano económico”, prevendo-se também uma reunião das “agências nacionais dedicadas à promoção do comércio externo”, no caso português “a AICEP, para ver como é que se podem entrosar melhor”.

Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os nove Estados-membros da CPLP.

E por falar em Gomes Cravinho, recordam-se que ele afirmou no dia 4 de Dezembro de 2007 que a União Europeia devia libertar-se da “bagagem colonial” na relação com África, reconhecendo que o continente “é hoje um igual” com “progressos notáveis” nos últimos anos?

E por falar em Gomes Cravinho, recordam-se que ele comparou em Novembro de 2005, numa entrevista ao Expresso, Jonas Savimbi (que tinha morrido três anos antes) a Hitler?

E por falar em Gomes Cravinho, é de crer que um dia destes irá dizer que “Nino” Vieira foi outro Hitler africano. Isto porque o então secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal, hoje ministro dos Negócios Estrangeiros e ontem ministro da Defesa, tem coragem suficiente para fazer destas afirmações sobre pessoas depois de eles terem morrido.

Sobre os vivos, por muito mais que eles se assemelhem a Hitler, Cravinho apenas sabe estar calado.

No dia 18 de Janeiro de 2010, João Gomes Cravinho afirmou que o Governo português acompanhava com a «atenção normal» a situação em Cabinda, defendendo que o importante é a detenção de responsáveis de ataques criminosos.

Não está nada mal. Até parece que, para os donos do reino lusitano, falar de Cabinda ou de Zoundwéogo é exactamente a mesma coisa. Lisboa esqueceu-se, continua a esquecer-se, que os cabindas, tal como os angolanos, não têm culpa que as autoridades portugueses (grande parte delas do Partido Socialista) tenham, em 1975, varrido a porcaria para debaixo do tapete.

Quando interrogado sobre se o Governo português considerava preocupantes as notícias de detenções de figuras alegadamente ligadas ao movimento independentista na província de Cabinda, João Gomes Cravinho – hoje, corrobore-se, ex-ministro da Defesa e novo ministro dos Negócios Estrangeiros – afirmou que «preocupante é quando há instabilidade e violência, como aconteceu com o ataque ao autocarro da equipa do Togo» a 8 de Janeiro de 2010.

Sim, é isso aí. Portanto, o MPLA pode prender quem muito bem quiser (e quer, continua a querer, prender ou matar todos aqueles que pensam de maneira diferente) que terá, como é óbvio, o apoio e a solidariedade das autoridades portuguesas.

Tal como fez em relação a Jonas Savimbi depois de este ter morrido, Gomes Cravinho não tardará (provavelmente só está à espera que eles morram) a chamar Hitler, entre outros, a Raul Tati, Francisco Luemba, Belchior Lanso Tati, Jorge Casimiro Congo, Agostinho Chicaia, Martinho Nombo, Marcos Mavungo ou Raul Danda (a este já pode, infelizmente, chamar).

João Gomes Cravinho explicou na altura que, «em relação ao mais» Lisboa acompanha o que se passa «pelas vias normais», isto é, pela comunicação social e pelos relatos feitos pela embaixada portuguesa.

Ou seja, Portugal está-se nas tintas. E quando Cravinho diz que Lisboa acompanha o que se passa pelos relatos feitos pela embaixada portuguesa estava a esquecer-se que a embaixada lusa se limitava, como se limita hoje, a ampliar a versão oficial do regime angolano.

Como se já não bastasse a bajulação de Lisboa ao regime do MPLA, ainda temos de assistir à constante passagem de atestados de menoridade e estupidez aos portugueses e aos angolanos por parte de alguém que, depois do desastroso papel como secretário de Estado, chegou a ministro da Defesa e agora aos Negócios Estrangeiros.

Folha 8 com Lusa

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