NOBEL PARA NETO SE MARCELO AJUDAR

O Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, atribuiu (e muito bem) a Ordem da Liberdade ao “homem grande” Amílcar Cabral, o líder histórico da independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, que foi assassinado em 1973. Só falta mesmo o Prémio Nobel da Paz para Agostinho Neto. Não poderá Marcelo dar uma ajuda?

Com oportunidade, Marcelo Rebelo de Sousa, ao intervir, na ilha cabo-verdiana de São Vicente, na outorga do grau de Doutor Honoris Causa a Amílcar Cabral (1924-1973) pela Universidade do Mindelo, questionou: “Como esperar um dia mais para prestar uma homenagem por tanto tempo adiada”?

“Apesar de ter sido um pioneiro, e de entre os pioneiros porventura o mais conhecido a nível universal por aquilo que era, por aquilo que simbolizava, por aquilo que simboliza hoje e simbolizará amanhã: O ‘homem grande’ Amílcar Cabral”, disse ainda o chefe de Estado, ao anunciar a entrega à família do Grande Colar da Ordem da Liberdade “em nome de Portugal”.

Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que Portugal se junta a “este instante tão rico de futuro” e declarou que todos os seus antecessores, António Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio, Aníbal Cavaco Silva, haviam prestado por diversas vezes “o tributo ao `homem grande´” e condecorado os “chefes de Estado das pátrias nascidas das lutas dos anos 60 e 70”, mas, assinalou, “faltava condecorar quem não chegou a chefe de Estado por uns meses”.

A Universidade do Mindelo, ilha cabo-verdiana de São Vicente, atribuiu o grau de Doutor Honoris Causa a Amílcar Cabral, cerimónia na qual participaram os chefes de Estado de Cabo Verde e de Portugal, José Maria Neves e Marcelo Rebelo de Sousa, e o presidente da Fundação Amílcar Cabral (FAC) e ex-Presidente cabo-verdiano Pedro Pires.

A cerimónia marcou igualmente o 20.º aniversário da Universidade do Mindelo e antecede os 50 anos da morte de Amílcar Cabral (2023) e o centenário do seu nascimento (2024).

Fundador do então Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que em Cabo Verde deu lugar ao Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), e líder dos movimentos independentistas nos dois países, Amílcar Cabral nasceu em 12 de Setembro de 1924 e foi assassinado em 20 de Janeiro de 1973, em Conacri, aos 49 anos.

Filho de Juvenal Cabral e Iva Pinhel Évora, o líder histórico nasceu na Guiné-Bissau e partiu com oito anos, acompanhando a sua família, para Cabo Verde, onde viveu parte da infância e adolescência, antes de se licenciar em Agronomia, em Portugal, em 1950.

O ideólogo das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde, Amílcar Cabral, foi considerado em 2020 o segundo maior líder mundial de todos os tempos, numa lista elaborada por historiadores para a BBC e com a votação dos leitores.

A lista é da “BBC World Histories Magazine” e foi feita por historiadores, que nomearam aquele que consideraram o maior líder, alguém que exerceu poder e teve um impacto positivo na humanidade.

NOBEL DA PAZ PARA AGOSTINHO NETO

O MPLA está, e muito bem, a fazer tudo para que (embora a título póstumo) seja atribuído o Prémio Nobel da Paz ao seu herói António Agostinho Neto. Mais do que dar o seu nome ao novo aeroporto de Luanda ou, eventualmente, mudar o nome de República (Popular) de Angola para República Agostinho Neto, vinha mesmo a calhar o Nobel, até porque do seu curriculum já consta o Prémio Lenine da Paz. Daí que que o MPLA espere que Marcelo Rebelo de Sousa dê uma ajuda. Será desta?

A educação de Agostinho Neto conduziu-o à literatura e começou a escrever poesia de elevadíssima qualidade a ponto de – segundo muitos especialistas do MPLA – se superiorizar a Luís de Camões ou Fernando Pessoa. Devido à polícia colonial, a escrita em prosa era um perigo para autores com aspirações nacionalistas.

Em Setembro de 2020, a vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, desafiou as universidades do país (desde logo a Universidade da qual é patrono) a promoverem a elaboração de projectos de estudos no âmbito do centenário de Agostinho Neto. A caminho, presume-se, de uma série de galardões internacionais, caso do Nobel da Paz… A Faculdade de Letras da Universidade do Porto já deu o seu contributo, criando a cátedra Agostinho Neto…

Luísa Damião, que falava na abertura de uma mesa-redonda sobre “A dimensão política e cultural de Neto”, propôs à Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto a criação de um departamento ou estudos sobre a vida e obra de Agostinho Neto, à semelhança de algumas academias do mundo. A vice-presidente do MPLA defendeu que não se pode diminuir ou denegrir a imagem ou reduzir a dimensão de Agostinho Neto. Tem razão. Para além de ter “desnazificado” o MPLA dando a vida eterna a milhares e milhares de angolanos no 27 de Maio de 1977, a dimensão extraterrestre de Agostinho Neto tem outras variantes dignas de estudo.

“O seu sentido humanista e de liderança do país fica expresso na necessidade da formação do homem novo por via da educação e dos valores e ideias do povo angolano”, disse a oradora.

No colóquio, que decorreu sob o lema “Reforçar a Unidade Nacional com o Legado de Neto”, Luísa Damião defendeu que Agostinho Neto deve ser sempre promovido, para o conhecimento e estudo das novas gerações. Tem razão. Do ponto de vista do MPLA, e aqui a mensagem não é subliminar (pelo contrário), importa que os angolanos se lembrem de que o 27 de Maio de 1977 “made in” Agostinho Neto não foi caso único e pode ser repetido sempre que o partido quiser.

Luísa Damião lembrou que Agostinho Neto é reconhecido internacionalmente e os seus feitos ultrapassam fronteiras (em breve serão assinados com uma lápide em… Marte). No seu percurso histórico, acrescentou, além da dimensão humanista, tem as suas impressões digitais em vários domínios da vida do país. Modéstia. Na verdade as impressões digitais de Agostinho Neto estão em todos os domínios da vida e da morte dos angolanos.

A vice de João Lourenço afirmou também que Agostinho Neto é dos autores dos PALOP e da CPLP (dir-se-ia de todo o planeta) mais traduzido no mundo, além de ser estudado em quasetodas as universidades.

A historiadora Rosa Cruz e Silva afirmou que Agostinho Neto fez da poesia uma poderosa arma para reivindicação dos direitos dos povos oprimidos. A estatura e grandeza de Agostinho Neto, disse, obriga, necessariamente, ao estudo e ao aprofundamento da sua obra.

“O seu legado deve ser a fonte primacial de inspiração para os desafios que se colocam no dia-a-dia”, sublinhou. Membro do Conselho da República, Rosa Cruz e Silva lembrou que Agostinho Neto, desde muito cedo, manifestou-se defensor das ideias de justiça social, tendo-se envolvido em causas que apelam à luta pela liberdade do povo… nem que para isso seja necessário dar ao povo a vida no além.

Por sua vez o escritor e deputado Roberto de Almeida disse que Agostinho Neto é o elo e símbolo que representa Angola de Cabinda ao Cunene. Lembrou que Neto assumiu, desde muito novo, uma postura de pessoa simples, sóbria e respeitadora do semelhante (os milhares de mortos no 27 de Maio não eram “semelhantes”). Roberto de Almeida falou sobre o contexto africano e internacional em que Agostinho Neto começou a afirmar-se depois de publicar artigos e poemas, proferir palestras em círculos estudantis, em Lisboa.

O historiador Cornélio Caley disse que, para perpetuar o pensamento de Agostinho Neto, é preciso que “se transborde para fora do MPLA datas como o 17 de Setembro, 4 de Fevereiro e 15 de Abril, para tornarem-se inclusivas e abrangentes na sociedade”. Para Cornélio Caley há uma necessidade de explicar à sociedade que Agostinho Neto “trouxe a liberdade de decidirmos, nós mesmos, o nosso futuro”.

Maria Eugénia Neto, presidente da Fundação António Agostinho Neto (FAAN), assinou no dia 10 de Setembro de 2019, com a FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal), um protocolo que cria a Cátedra Agostinho Neto nesta instituição de ensino (dito) superior.

O acto representou uma homenagem da Universidade do Porto ao 40º aniversário da morte do maior dos maiores poetas de língua portuguesa. Estiveram presentes o embaixador de Angola em Portugal, Carlos Alberto Fonseca, que caucionou o acordo rubricado entre a viúva do primeiro Presidente angolano e a directora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Fernanda Ribeiro.

Maria Eugénia Neto salientou, na ocasião, “as renovadas perspectivas e investigações sobre Agostinho Neto, enquanto poeta, homem de cultura e político”, destacando que o Prémio Camões tem um significado de grande alcance para o conjunto de países que tornou sua a língua de Camões.

O reitor da Universidade do Porto, João Veloso, considerou o acto um feito internacional, tendo saudado muito entusiasticamente a assinatura do protocolo que homenageia a mais famosa figura da História e da cultura angolana e lusófona que, pelo seu papel de poeta e homem de cultura, todos procuram dizer que é um dos maiores escritores da língua portuguesa.

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