Na manhã desse 11 de Setembro de 2001, 19 terroristas maus (sim, também há terroristas “bons”) sequestraram quatro aviões comerciais de passageiros, levando-os a colidir dois deles contra as Torres Gémeas do complexo empresarial do World Trade Center, na cidade de Nova Iorque, nos EUA.
O terceiro avião de passageiros colidiu contra o Pentágono, a sede do Departamento de Defesa dos EUA, no Condado de Arlington, Virgínia, nos arredores de Washington, D.C. O quarto avião caiu num campo aberto próximo de Shanksville, na Pensilvânia, depois de alguns de seus passageiros e tripulantes terem tentado retomar o controlo do avião que seguia para a capital dos EUA.
Quase três mil pessoas morreram durante os ataques, incluindo os 227 civis e os 19 sequestradores a bordo dos aviões. A esmagadora maioria das vítimas eram civis, incluindo cidadãos de mais de 70 países.
Nós, ou – pelo menos – alguns de nós, somos filhos e agentes de uma civilização milenária que tem vindo a supostamente elevar e converter os povos à concepção superior da própria vida, a fazer homens pelo domínio do espírito sobre a matéria, pelos domínios da razão sobre os instintos.
Passadas as portas da globalização, das moedas únicas e, quiçá, de um modelo federal de estados, é no mínimo razoável pensar que são cada vez mais os instintos e cada vez menos as razões. É cada vez mais a razão da força do que a força da razão, é cada vez mais as ideias de poder do que o poder das ideias, como ainda agora se verifica em Angola.
De um lado e do outro residem argumentos válidos, tão válidos quanto se sabe (é da História) que para os senhores do poder (hoje terroristas, amanhã heróis – ou ao contrário) o importante é a sociedade que tem de ser destruída e não aquela que tem de ser criada. Veja-se, entre outros exemplos, o caso do Daesh ou, num âmbito mais específico, do MPLA.
Era isso que pensavam, por exemplo, George W. Bush e Osama bin Laden. Aliás, G. Geffroy dizia pura e simplesmente que o importante é avançar por avançar, agir por agir, pois em qualquer dos casos alguns resultados hão-de aparecer.
Os EUA avançaram, avançam, feridos que foram e são no seu orgulho de polícias e donos do Mundo, como aconteceu no Afeganistão. Com eles estiveram e estão uma série de países, nem todos de forma sincera. Não será o caso dos europeus mas é, com certeza, o caso de muitos estados árabes que, com medo do cão raivoso, aceitaram (mesmo que contrariados) a ajuda do leão.
Quando se aperceberem (alguns já se aperceberam), o leão terá derrotado o cão e preparar-se-á para os comer a eles. O leão, como mais uma vez se confirma, não terá necessariamente de ter nacionalidade norte-americana.
Aliás, os homens do tio Sam são especialistas em criar leões onde mais lhes convém. Em certa medida Osama bin Laden, tal como Saddam Hussein, foram leões “made in USA”. Ao contrário do que pensam os ilustres operacionais da NATO, do FBI da CIA ou de qualquer coisa desse tipo, ninguém tem neste planeta (pelo menos neste) autoridade e poder ilimitados.
O mesmo se aplica em relação aos agora chamados de terroristas. Mas, como os instintos ultrapassam a razão, todos estão convencidos que são donos e senhores da verdade absoluta. O confronto foi, é e será, por isso, inevitável.
Os agora terroristas (segundo a terminologia ocidental, que já usou igual epíteto – entre outros – para Yasser Arafat, recordam-se?) poderão não ter a mesma capacidade bélica do que os EUA e seus aliados. Foram humilhados, sobretudo pelo número dos mortos que o único erro que cometeram foi terem nascido. O caso da Síria é um inequívoco exemplo. Provavelmente mais de 500 mil mortos.
São as leis da razão? Não. São as leis dos instintos. Instintos que vão muito além das leis da sobrevivência. Entram claramente (tal como entrou Bin Laden ou Muammar Kadhafi) na lei da selva em que o mais forte é, durante algum tempo mas nunca durante todo o tempo, o grande vencedor.
Seja como for, o Mundo Árabe (e grande parte de África) só está do lado dos EUA por questões estratégicas, por opções instintivas. Bem ou mal, em matéria de razão os árabes estão com os seus… e esses não são americanos, europeus ou africanos.
É claro que, transitoriamente, alguns admitiram aliar-se aos EUA. Foi a opção, neste exacto contexto, pelo mal menor. Mesmo assim, avisaram que não admitirão ataques a outros países árabes.
Pelo menos desde a Guerra dos Seis Dias (conflito armado que opôs Israel a uma frente de países árabes – Egipto, Jordânia e Síria, apoiados pelo Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Argélia e Sudão, em 1967) a aprendizagem dos árabes tem sido notável. Aceitam o que os EUA definem como inimigos, enforcam até os seus pares com a corda fornecida pelos norte-americanos mas, na melhor oportunidade, enforcam americanos com a corda enviada de Nova Iorque.
Até agora os atentados são a resposta mais visível, já não só nos EUA mas em vários países do mundo. Com bombas, aviões, antrax, bombistas-suicidas, vão preparando o terreno. Tal como fizeram com os soviéticos no Afeganistão, utilizam o próprio armamento do Ocidente. E, quando entenderem, também poderão fazer uso de armamento nuclear.
Note-se que, por exemplo, um “ministro da guerra” do Estado Islâmico, Gulmurod Khalimov, foi treinado pelas forças especiais dos EUA quando era líder da polícia do Tajiquistão.
Então? Então é preciso ir em frente. Sem medo. Olho por olho, dente por dente. No fim, o último a sair – cego e desdentado – que feche a porta e apague a luz…