MPLA FALA, PORTUGAL AJOELHA E SUBSCREVE

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho (que em Novembro de 2005, em entrevista ao jornal português Expresso, comparou Jonas Savimbi a Hitler), disse hoje que a reclamação apresentada pela UNITA relativamente aos resultados das eleições em Angola está prevista na lei angolana, pelo que o processo corre “dentro da normalidade institucional”.

Esqueceu-se, como é habitual nos servos portugueses, de dizer que a lei angolana também diz (entre muitas outras relevantes coisas) que a CNE e o Tribunal Constitucional devem ser organismos independentes do governo (MPLA), o que manifestamente não acontece.

“A Comissão Nacional de Eleições publicou os resultados, a UNITA contesta, a lei angolana tem mecanismos que permitem que quem não esteja satisfeito possa recorrer, e o meu entendimento é que é precisamente isso que a UNITA está a fazer”, disse João Gomes Cravinho, em declarações à chegada a Praga, para participar numa reunião informal de ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia.

“Portanto, há um processo a correr dentro da normalidade institucional”, completou o chefe da diplomacia portuguesa, que regressou recentemente de Luanda, onde acompanhou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na representação de Portugal no funeral do ex-presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

A UNITA anunciou hoje que vai entregar uma reclamação com efeitos suspensivos dos resultados das eleições anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE, sucursal do MPLA), que proclamaram a vitória do MPLA, e afirmou não ter sido notificada da decisão.

Num comunicado do Secretariado Executivo do Comité Permanente da Comissão Política, a UNITA afirma ter tomado conhecimento dos resultados anunciados na segunda-feira pelo nervoso presidente da CNE, Manuel Pereira da Silva “Manico”, por intermédio dos órgãos de comunicação social públicos.

Depois de o resultado ser aprovado pelo MPLA, a CNE anunciou na segunda-feira que o MPLA venceu as eleições em Angola com 51,17% dos votos contra 43,95% da UNITA. O MPLA terá supostamente arrecadado 3.209.429 de votos, elegendo 124 deputados, e a UNITA 2.756.786 votos, garantindo 90 deputados.

O plenário da CNE proclamou assim Presidente da República de Angola, João Lourenço, cabeça-de-lista do MPLA, o partido mais votado, e vice-presidente, Esperança da Costa, segunda da lista do MPLA.

No discurso de vitória, João Lourenço congratulou-se com a vitória, a quinta, coincidindo com as eleições realizadas em Angola, apesar do partido ter perdido um milhão de votos, no pior resultado de sempre.

A diplomacia da União Europeia saudou o “ambiente pacífico” das eleições em Angola, mas pediu “todos esforços possíveis” às autoridades eleitorais para responder à contestação.

“A União Europeia toma nota dos resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições sobre as eleições gerais angolanas, que […] foram conduzidas num ambiente pacífico”, reagiu a porta-voz da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, numa declaração.

Ainda assim, “a UE está ciente das queixas da oposição e da sociedade civil sobre algumas deficiências no processo eleitoral e convida as partes interessadas a utilizarem todas as vias legais de recurso para responder às suas preocupações”, vincou.

Em nome do alto representante da UE, a porta-voz instou “as autoridades eleitorais a fazerem todos os esforços possíveis para lhes dar resposta [às contestações] de uma forma justa e transparente”.

“A UE encoraja um diálogo aberto, construtivo e inclusivo entre o Governo de Angola, os partidos políticos da oposição e a sociedade civil e reconhece as expressões pacíficas de opinião como essenciais para a democracia”, acrescentou.

Na nota, a diplomacia comunitária referiu que “a União espera trabalhar com as autoridades eleitas assim que o processo eleitoral esteja concluído, a fim de reforçar ainda mais a parceria UE-Angola”.

E por falar em João Gomes Cravinho, recordam-se que ele afirmou no dia 4 de Dezembro de 2007 que a União Europeia devia libertar-se da “bagagem colonial” na relação com África, reconhecendo que o continente “é hoje um igual” com “progressos notáveis” nos últimos anos?

E por falar em João Gomes Cravinho, recordam-se que ele comparou em Novembro de 2005, numa entrevista ao Expresso, Jonas Savimbi (que tinha morrido três anos antes) a Hitler?

E por falar em João Gomes Cravinho, é de crer que um dia destes irá dizer que “Nino” Vieira foi outro Hitler africano. Isto porque o então secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal, hoje ministro dos Negócios Estrangeiros e ontem ministro da Defesa, tem coragem suficiente para fazer destas afirmações sobre pessoas depois de eles terem morrido.

Sobre os vivos, por muito mais que eles se assemelhem a Hitler, João Gomes Cravinho apenas sabe estar calado.

No dia 18 de Janeiro de 2010, João Gomes Cravinho afirmou que o Governo português acompanhava com a «atenção normal» a situação na província angolana de Cabinda, defendendo que o importante era a detenção de responsáveis de ataques criminosos.

Não esteve nada mal. Até parece que, para os donos do reino lusitano, falar de Cabinda ou de Zoundwéogo é exactamente a mesma coisa. Lisboa esqueceu-se, continua a esquecer-se, que os cabindas, tal como os angolanos, não têm culpa que as autoridades portugueses (grande parte delas do Partido Socialista) tenham, em 1975, varrido a porcaria para debaixo do tapete.

Quando interrogado sobre se o Governo português considerava preocupantes as notícias de detenções de figuras alegadamente ligadas ao movimento independentista na província de Cabinda, João Gomes Cravinho – hoje, corrobore-se, ex-ministro da Defesa e actual ministro dos Negócios Estrangeiros – afirmou que «preocupante é quando há instabilidade e violência, como aconteceu com o ataque ao autocarro da equipa do Togo» a 8 de Janeiro de 2010.

Sim, é isso aí. Portanto, o MPLA pode prender quem muito bem quiser (e quer, continua a querer, todos aqueles que pensam de maneira diferente) que terá, como é óbvio, o apoio e a solidariedade das autoridades portuguesas.

Tal como fez em relação a Jonas Savimbi depois de este ter morrido, João Gomes Cravinho não tardará (provavelmente só está à espera que eles morram) a chamar Hitler, entre outros, a Raul Tati, Francisco Luemba, Belchior Lanso Tati, Jorge Casimiro Congo, Agostinho Chicaia, Martinho Nombo, Marcos Mavungo ou Raul Danda (a este já pode, infelizmente, chamar).

João Gomes Cravinho explicou na altura que, «em relação ao mais» Lisboa acompanha o que se passa «pelas vias normais», isto é, pela comunicação social e pelos relatos feitos pela embaixada portuguesa.

Ou seja, Portugal está-se nas tintas. E quando João Gomes Cravinho diz que Lisboa acompanha o que se passa pelos relatos feitos pela embaixada portuguesa está (mais uma vez) a esquecer-se que a embaixada lusa se limitava, como se limita hoje, a ampliar a versão oficial do regime angolano que há 47 anos é do MPLA.

Como se já não bastasse a bajulação de Lisboa ao regime do MPLA, ainda temos de assistir à constante passagem de atestados de menoridade e estupidez aos portugueses e aos angolanos por parte de alguém que, depois do desastroso papel como secretário de Estado, chegou a ministro da Defesa e agora aos Negócios Estrangeiros.

Folha 8 com Lusa

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