MESTRES DA BANHA DA COBRA ENSINAM GOVERNADORES

O MPLA vai promover, no mês de Outubro, conferências extraordinárias em oito províncias angolanas, para as quais foram nomeados novos governadores, informou o partido num comunicado.

As conferências extraordinárias nas províncias de Luanda, Moxico, Bengo, Malanje, Zaire, Cabinda, Lunda Norte e Cuanza Norte foram hoje aprovadas numa reunião extraordinária do Bureau Político do MPLA, presidida por João Lourenço, que tomou posse, pela segunda vez, como Presidente da República na quinta-feira, “eleito” pelas suas sucursais CNE e Tribunal Constitucional.

Os membros do Bureau Político do Comité Central do MPLA congratularam-se com a tomada de posse de João Lourenço e o executivo nomeado para o quinquénio 2022-2027, reafirmando “total e incondicional apoio” à implementação do programa de governo sufragado no simulacro eleitoral de 24 de Agosto, “em que o povo angolano participou com elevado sentido cívico e patriótico”.

Expressaram ainda “apoio total ao Presidente da República na implementação das medidas de políticas que resultem numa governação com fundamento em trabalhar mais e comunicar melhor”.

O Bureau Político congratulou-se também com a celebração do “centenário natalício do fundador da nação e herói nacional, Doutor António Agostinho Neto, tendo reiterado o compromisso de preservar, de forma incondicional, o pensamento político-ideológico que norteou a sua acção e abnegado empenho na Luta de Libertação Nacional, que culminou com a proclamação da Independência de Angola, no dia 11 de Novembro de 1975”.

Quem assiste às avulsas intervenções do Presidente do MPLA, ou do seu Bureau Político, na maioria das vezes não tem como não se emocionar, pensando estar na presença de um ex-militante de base, vindo do Longonjo ou do exterior do país. As boas intenções estão lá todas, por regra no papel que suporta as suas intervenções.

A corrupção, embora na sua génese um cancro gerado e multiplicado pela direcção MPLA, tem fortes ramificações a nível dos governadores provinciais e obriga (dada a sua dimensão) a que a solução passe por todos.

A corrupção é (também) uma questão jurídica que deve ser combatida com leis e não com visões partidocratas, cuja eficácia morre na cumplicidade interna, toda ela sedimentada ao longo de 47 anos de manifesta e total impunidade.

No actual contexto, tudo é difuso, tudo confunde, porquanto, paradoxalmente, o partido líder da bagunça institucional, desde 11 de Novembro de 1975, tentou e conseguiu crucificar uma pessoa, José Eduardo dos Santos, ou um grupo, filhos e próximos, antes idolatrados até à exaustão (até mesmo por João Lourenço), para agora permitir à nova autoridade isentar-se de qualquer responsabilidade no desvario e descaracterização do Estado, atolado numa profunda falência técnica e financeira.

Seria bom (embora seja um sonho) que os novos actores assumissem, em uníssono, os malefícios da “acumulação primitiva do capital” e da privatização partidocrata da economia, reconhecendo, por exemplo, a forma ilícita da aquisição de património imobiliário do Estado, bem como a percentagem de cerca de 2 dólares por barril de petróleo exportado, a favor do MPLA (e, convenhamos, MPLA há só um), colocando-o como um dos partidos mais ricos, financeira e patrimonialmente, em África e no mundo.

Uma mudança séria poderia e deveria passar por um verdadeiro “Pacto de Regime, com a participação de todas as forças vivas do país, unidas numa espécie de Assembleia Constituinte (que Angola nunca teve), para elaboração de novas normas jurídico constitucionais e legais e não o abocanhar exclusivo do MPLA, dando a sensação de competência, quando os 47 anos de poder ininterrupto, mostram precisamente o contrário.

Essa tendência é perigosa e impossível de resultar numa transfusão de sangue perfeita, por não haver virgens inocentes no reino governativo.

Todos foram ao pote do mel, todos, absolutamente todos, com a diferença de uns terem abocanhado mais, do que outros. E tanto assim é que a prova mais evidente é a de ninguém, absolutamente ninguém, integrante do Executivo, incluindo o Titular, ter apresentado publicamente o património móvel, imóvel e financeiro e a forma como o adquiriu.

E quando assim é, fica provado ser o MPLA o partido com mais agentes de ilicitude por metro quadrado, em Angola, sendo por isso impossível, acreditar, que quem também, tem as mãos cobertas de sangue, tenha capacidade de julgar de forma imparcial e isenta, o outro, pelo risco de não sobrar ninguém, no final.

Folha 8 com Lusa

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