MENOS VINHO DA TUGA
 (XXILA 5 – “GAZELA” 0)

Angola representou menos de 3% das exportações de vinho português em 2021, com as vendas a diminuírem tanto em volume como em valor, apesar da subida do preço médio por litro, refere um estudo de mercado da ViniPortugal.

Em vésperas da Grande Prova de Luanda, que se realiza na quinta-feira, o estudo datado de Abril de 2022, revela que o destino angolano não recuperou a importância que tinha há 10 anos, quando representava cerca de 40% das exportações.

Apenas 2,61% das exportações totais de vinho português tiveram Angola como destino em 2021, atirando o mercado angolano para a 12ª posição na lista dos destinos de exportação, ocupada nos lugares cimeiros por França (1º), Estados Unidos da América (2º) e Reino Unido (3º).

As exportações de vinho para Angola atingiram cerca de 24 milhões de euros entre Janeiro e Dezembro de 2021, totalizando 202.142 hectolitros, o que corresponde a um decréscimo de 7,71% em volume e 7,40% em valor, face ao ano transacto, revela o documento.

Ainda assim, com uma quota de mercado aproximada de 85%, em termos de valor, Portugal viu o preço médio por litro a aumentar 0,34%, face a 2020, para 1,20 euros, ao contrário do que se vinha verificando desde 2018.

No entanto, sem as categorias do vinho do Porto e Madeira, o preço foi inferior ao do ano anterior (-0,21%).

O vinho de mesa foi a categoria mais exportada, quer em volume (87%), quer em valor (64%), num total de 15,6 milhões de euros, seguindo-se os vinhos certificados (DOP — Denominação de Origem Protegida e IGP — Indicação Geográfica Protegida), que cresceram em volume e em valor (20 e 10%, respectivamente).

Alentejo e Douro foram as regiões que exportaram mais vinho, totalizando quase cinco milhões de euros, seguindo-se a Península de Setúbal, Vinho Verde, Lisboa, Dão, Porto, Tejo, Beiras, Bairrada e Madeira/Moscatel.

Em termos percentuais, o vinho do Porto foi a categoria com aumento mais expressivo, tanto em volume (122%) como em valor (116%)

As exportações de vinho ‘bag-in-box’ (em pacote) tiveram uma quebra significativa de 56%, face ao ano precedente, passando de 2,4 milhões de euros para pouco mais de 1 milhão, enquanto o vinho a granel teve um incremento de 11%, passando de 8,4 milhões de euros para 9,3 milhões em 2021.

A Grande Prova de Vinhos de Portugal em Luanda, que se realiza na quinta-feira, conta com cerca de 250 convidados e 33 produtores inscritos. O evento é promovido pela ViniPortugal, entidade gestora da marca ‘Wines of Portugal’, através da qual é feita a promoção internacional do vinho português.

A prova será dividida em dois momentos, um para profissionais e outro para consumidor final, sendo apresentada como um evento de promoção dos vinhos portugueses no mercado angolano, para dinamizar o relacionamento entre profissionais e o reforço do posicionamento dos vinhos portugueses junto dos profissionais e consumidores locais.

Vinho é o que mais falta (nos) faz

Recorde-se que a Lusovini – Vinhos de Portugal anunciou já na era de João Lourenço (14 de Setembro de 2018) que ia montar um campo de ensaio de produção de doze variedades de uvas de mesa na região de Viana, em Angola, ainda durante aquele ano.

Campo de ensaio? Não bastaria ver o que se fazia, nesta matéria, antes da 1975, ou consultar o general Higino Carneiro?

“O campo de ensaios representa um investimento de meio milhão de dólares (427 mil euros) para, ao longo de dois anos, estudarmos o comportamento das videiras que queremos plantar neste ‘terroir’”, explicou na altura o presidente da Lusovini, Casimiro Gomes.

Com sede em Nelas, no distrito de Viseu, este grupo produtor e distribuidor de vinhos portugueses tem empresas próprias nos Estados Unidos da América, em Angola, em Moçambique e no Brasil e um escritório de representações na China (Macau).

“Quando passarmos para a produção em larga escala, e se o mercado da exportação responder bem, o nosso investimento neste projecto agrícola poderá ir até aos dez milhões de dólares (8,5 milhões de euros)”, avançou Casimiro Gomes.

O campo de ensaio foi montado em Kikuxi, uma zona agrícola situada na província de Luanda, e serviu para testar o comportamento das uvas e dos porta-enxertos neste clima subtropical.

Depois de estudadas e apuradas as variedades que dão melhores resultados, a Lusovini “plantará e explorará vinhas em grande escala numa herdade de 800 hectares nas margens do Rio Lwei, afluente do Rio Kwanza”, que é propriedade de um parceiro local.

O grupo português está em Angola desde 2010, através Lusovini Angola, uma empresa distribuidora de direito local.

Segundo Casimiro Gomes, “a Lusovini mantém uma relação de grande estabilidade e confiança com o mercado angolano e com os seus agentes”.

“Nunca parámos de investir, mesmo nos anos difíceis e, sobretudo, estivemos sempre empenhados em criar estruturas e serviços para servir com mais qualidade os clientes de Angola, que são cada vez mais sofisticados e exigentes”, frisou.

A Lusovini manteve o fornecimento normal à distribuição, restauração, hotelaria, cafés e similares em todo o território e, apesar dos anos difíceis, afirmou vários dos seus vinhos junto do público consumidor, destacando-se as marcas Pedra Cancela (Dão) e Sericaia (Alentejo).

No Verão de 2018, criou uma nova empresa, a Lusovini Agro, para desenvolver os investimentos agrícolas do grupo no país.

Com os investimentos agrícolas então anunciados para a província de Luanda, a Lusovini quer produzir uvas de mesa em duas vindimas por ano que ocorram nos meses em que não há uvas nem no hemisfério Norte, nem no hemisfério Sul, ou seja, Maio, Junho e Julho, e Novembro, Dezembro e Janeiro.

“As primeiras produções terão como destino o mercado de Angola, mas, se tudo correr bem, como esperamos, rapidamente passaremos a exportar boa parte na produção”, avançou Casimiro Gomes.

A procura pela oportunidade nos mercados internacionais é, segundo o presidente do grupo, uma das razões para que os investimentos sejam feitos na província de Luanda, “devido às melhores condições logísticas e à proximidade do porto e do aeroporto de Luanda”.

A maior parte das exportações será feita em contentores refrigerados. No entanto, em alturas como, por exemplo, o Natal, o transporte por avião “poderá tornar-se viável e competitivo”.

O vinho sempre foi uma atracção fatal para os angolanos. Recorde-se, por exemplo, que o general Hélder Vieira Dias, “Kopelipa”, na altura também responsável pelos serviços secretos da Angola, pagou um milhão de euros por duas quintas no Douro (Portugal) para produzir vinho e exportar.

E o general também faz… vinho

No final do Fórum Empresarial Angola-Portugal, realizado no dia 23 de Junho de 2015, no Hotel Epic Sana, em Luanda, foi apresentado o primeiro vinho “made in Angola”, o Serras da Xxila, que – como é tradição – é produzido nas “modestas” propriedades de um… general.

Como se calcula e elogia, durante a guerra que quase nos destruiu por completo, houve tempo para os generais do regime se especializarem noutras áreas que não as bélicas. Assim, o general Higino Carneiro não só se preparou para ser ministro e governador provincial como, no intervalo das batalhas, amealhou o necessário para, neste caso, ser dono do chamado Rancho de Santa Maria e aí, a partir da casta Muzondo Menga Ixi, produzir o Serras da Xxila.

Com a marca ‘Feito em Angola’, este é um vinho de 2013, com uma acidez de 4.19 e com um teor alcoólico de 15%. Fez o seu estágio em barrica de carvalho francês e americano durante um ano e é frutado com notas de framboesa, amoras e especiarias.

Num pequeno texto escrito no rótulo da garrafa, Francisco Higino Lopes Carneiro reconhece ter sido um sonho, para si e para a sua família, a produção de um vinho de qualidade em Angola. “Espero que tenham tanto prazer em bebê-lo como tivemos em produzi-lo”, escreveu o general.

O Povo agradeceu enquanto, reconhecido, continua a saborear – quando consegue – um apetitoso manjar que dá pelo nome de pirão.

Mas, como em qualquer batalha, a luta continua e o general prometeu na altura lançar um vinho tinto de reserva 2013, em estágio há três anos, produzido a partir das castas europeias Touriga Nacional, Malvechet, Alicante Bouchet, Pinot Noir e Cavenet Bavignon.

Com um investimento que rondou os 16 milhões de dólares desde 2008, outros produtos vinícolas, produzidos no Rancho de Santa Maria, foram apresentados ao mercado. Deles fazem parte um vinho branco de 2014, aguardentes e licores que, para já, serão de laranja, limão, café e maracujá. Estava prevista também a curto prazo a plantação de oliveiras com o objectivo de produção azeite.

Higino Carneiro, é um dos generais mais ricos, fruto certamente do seu esforço militar, empresarial e político. Foi, com certeza, recompensado pelo esforço e dedicação à causa do regime, mesmo sabendo-se que esta causa nunca levou em consideração a tese do primeiro Presidente da República, Agostinho Neto, que dizia que o importante era resolver os problemas do povo.

Sempre foi visto como um “buldózer” que, certo das suas convicções, levava tudo à frente. Esta qualidade foi bem visível como militar, onde não olhava a meios para atingir os seus fins, mas também como ministro das Obras Públicas, governador provincial e empresário.

No mundo empresarial teve, ou tem, negócios com parceiros nacionais, portugueses, brasileiros e outros. Dos seus negócios privados fazem ou fizeram parte 12 hotéis dispersos pelo país, grandes fazendas (a Cabuta é uma delas), bancos (Keve e Sol), uma companhia de aviação dispondo de uma frota de 14 aeronaves, Air Services.

A realidade de Angola demonstra que o sucesso nos negócios privados é inseparável, mais uma vez, do poder dos generais.

Folha 8 com Lusa

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