UNITA FORMALIZOU CANDIDATURA

A UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, submeteu esta terça-feira ao Tribunal Constitucional a candidatura às eleições gerais de Agosto, com Adalberto da Costa Júnior como cabeça-de-lista e candidato a Presidente da República, e Abel Chivukuvuku para vice-presidente.

Em declarações à imprensa, o secretário-geral da UNITA, Álvaro Daniel, disse que foram apresentados os documentos requeridos por lei tanto para os candidatos a Presidente e vice-presidente da República, como para deputados à Assembleia Nacional, numa lista de 130 efectivos e 45 suplentes.

“Esta é uma candidatura de vitória, de inclusão, nela reflectimos a vontade congregada dos angolanos operarem a mudança e a alternância”, referiu Álvaro Daniel.

O secretário-geral do partido sublinhou que a candidatura apresentada, com um total de 21.675 assinaturas, representa “uma transição de geração no seio do partido”, com a ausência de “importantes figuras do partido”.

“Importantes figuras do partido preferiram deixar voluntariamente o seu espaço para novas gerações, permitindo que essas ganhem experiência e, sobretudo, permitindo que entrem para o Parlamento quadros jovens com competência técnico-profissional para poderem incrementar a qualidade do debate parlamentar”, sublinhou.

A entrega da candidatura da UNITA às eleições de 24 de Agosto ao Tribunal Constitucional ficou marcada por um protesto de algumas dezenas de pessoas, alegadamente militantes do partido, que se manifestaram descontentes com a lista de candidatos submetida às eleições gerais.

O grupo, que se manifestou em frente às instalações do Tribunal Constitucional, empunhava cartazes nos quais apelavam ao respeito pelo “Sacrifício dos Heróis Conhecidos e Anónimos da Causa da UNITA”, e rejeitavam o nome do coordenador do projecto político PRA-JA Servir Angola, ex-dirigente da UNITA e candidato a vice-presidente: “Abel Chivukuvuvku e os seus Sequazes na Lista da UNITA Não!”.

“Não Façam da UNITA o Meio para Salvar os Preguiçosos”, “O Partido não é Propriedade do ACJ para Fazer e Desfazer, o Partido é Propriedade dos Angolanos. Todos os Angolanos Inspirados no Pensamento do Dr. Savimbi”, eram algumas das frases nos cartazes empunhados pelos manifestantes.

Sobre este facto, Álvaro Daniel considerou normal que num Estado de Direito, num partido em que a liberdade de expressão é total, as pessoas se manifestem.

“Nós, de facto, vimos ali alguns cidadãos, muitos dos quais nem sequer são militantes da UNITA, ainda que fossem não representam uma milésima parte do universo de militantes do partido, pelo que não nos preocupa a nós dar-lhes a liberdade de se manifestarem”, salientou.

Segundo o secretário-geral do partido, a lista apresentada, além de marcar uma transição geracional, assinala a inclusão, pelo que constam da mesma “várias sensibilidades políticas”.

“Sejam elas de outras forças políticas, algumas legais, outras em forma de projecto, como também poderão ver sensibilidades da sociedade civil, sem cor partidária. Não se admirem se encontrarem nessa lista alguém que tenha simpatia com o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, partido no poder há 46 anos], porque a nossa lista é mesmo de inclusão”, frisou.

Álvaro Daniel confirmou os nomes de Abel Chivukuvuku e do empresário Francisco Viana, antigo militante do MPLA, recentemente desvinculado na lista de candidatos à Assembleia Nacional.

“Fazem parte de uma estratégia do nosso partido e os manifestantes que gostariam de vê-los fora são livres em pensar, mas também a UNITA é livre em traçar a sua estratégia e implementá-la”, referiu o político, realçando que o partido pretende “fazer uma Angola nova, Angola para todos”.

“Estamos a demonstrá-lo com a nossa lista e, se este povo der confiança à UNITA, vamos demonstrá-lo na forma de governar. Vamos governar com todos sem excepção e a nossa lista é exactamente a demonstração do que havemos de fazer se este povo conceder à lista da UNITA a oportunidade de vencer as eleições próximas e formar Governo”, vincou.

A UNITA foi fundada, em 1966, por Jonas Savimbi como movimento de libertação, antes de passar à rebelião armada após a Independência nacional de 11 de Novembro de 1975.

A guerra civil do pós-independência conheceu uma pausa, primeiro com o acordo do Alto Kauango, assinado a 19 de Maio de 1991 por Arlindo Chenda Pena “Ben Ben” (da UNITA), Higino Carneiro (do MPLA) e William Tonet como jornalista e mediador do acordo, e depois com os Acordos de Paz de Bicesse de 31 de Maio de 1991, em Portugal, que puseram fim ao sistema de partido único então vigente, no país.

Já transformada em partido político, a UNITA participou em todos os simulacros eleitorais já realizados em Angola, desde a primeira edição, em Setembro de 1992, quando conquistou 70 dos 220 deputados em disputa ou 34,1 por cento dos votos.

Esse resultado fez do partido de Jonas Savimbi a segunda maior força política do país, atrás do MPLA (129) e à frente do Partido de Renovação Social (PRS, 5)

O conflito armado que se seguiu à crise pós-eleitoral de 1992 interrompeu, contudo, a regularidade do processo eleitoral, até 2008, ano das segundas eleições gerais, depois do fim da guerra com a morte em combate de Jonas Savimbi, em 22 de Fevereiro de 2002.

Recorde-se com a crise de 1992 resultou no aniquilamento de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, onde morreram 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.

Nos pleitos eleitorais seguintes, a UNITA, já liderada por Isaías Samakuva, obteve sucessivamente 16 deputados (2008), 32 em 2012 e 51 em 2017.

Folha 8 com Lusa

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