João Lourenço, líder do MPLA, Presidente angolano e Titular do Poder Executivo, candidato a renovar o mandato nas eleições gerais de 24 de Agosto, apelou aos eleitores a votarem no seu partido, o único que dá “garantia de governar Angola”. Explicou que não debate nada com o seu principal adversário, que considera inimigo, Adalberto da Costa Júnior, porque “os debates não põem comida na mesa” e mandou o seu ministro de Estado e Chefe da Casa Militar, general Francisco Furtado, avisar que quem criticar o MPLA “leva no focinho”.
“Vocês, eleitores, ponham-se no lugar de um empresário. As eleições são para governar Angola, imaginem que Angola é uma grande empresa, Angola é um grande projecto, todos nós queremos o sucesso desse projecto Angola”, disse o líder do MPLA (partido que está no Poder apenas há… 46 anos), João Lourenço, durante um discurso no Sumbe, capital da província do Cuanza Sul, no âmbito da campanha eleitoral.
Segundo João Lourenço, se os angolanos quiserem “viver bem” têm que querer “o sucesso do projecto Angola”. Sucesso esse que, a fazer fé nas provas dadas, só estará concluído quando o MPLA festejar 100 anos de governação interrupta. Já só faltam 54 anos…
“Então, quando algum partido político vos bater à porta a vos pedir o voto, façam essa pergunta: o que é que você já fez que me dá a garantia de que você vai levar a bom porto o projecto Angola?”, exortou João Lourenço.
“Nós, MPLA, estamos preparados a todo o momento para responder, nós damo-vos a garantia de governar bem Angola, damos-vos a garantia de fazer com que o projecto Angola seja um sucesso”, disse o líder do partido no poder desde 1975, ano em que o país alcançou a sua independência. Não citou, mas poderia fazê-lo com toda a propriedade, um exemplo paradigmático dado pelo único herói nacional, Agostinho Neto, quando em Maio de 1977 mandou fuzilar milhares e milhares de angolanos.
O cabeça-de-lista da candidatura do MPLA referiu que as infra-estruturas no Sumbe estão muito degradadas, devido à excessiva utilização das ruas interiores da cidade do Sumbe pela camionagem que liga a cidade de Luanda às cidades do Lobito, Benguela, Lubango e Cunene, realçando que “as estradas nacionais não devem passar dentro das cidades”. O brilhantismo deste raciocínio deve, pois, levar a que sejam as cidades a passar dentro das estradas nacionais.
“Vamos intervir quase que em simultâneo nas infra-estruturas integradas no Sumbe, mas também e necessariamente na circular do Sumbe”, prometeu. Desta vez esqueceu-se de dizer que o mau estado das estradas se deve aos colonialistas portugueses, apesar de eles já cá não estarem há quase 47 anos. Foram substituídos pelos colonialistas do MPLA.
João Lourenço afirmou que vai ser feita, no próximo mandato, a reabilitação da estrada que sai da ponte sobre o Rio Longa para a ponte sobre o Rio Keve. Provavelmente também será no próximo mandato que irá construir o porto de águas profundas no… Huambo.
“Nesta Estrada Nacional 100, que é de extrema importância, é um troço cuja resolução vai resolver o problema não apenas na circulação interna, aqui no Cuanza Sul, mas vai resolver o problema da ligação com as províncias vizinhas, nomeadamente com a província de Benguela, sul, e com a província de Luanda, norte”, sublinhou.
SÓ SÃO LADRÕES… HÁ 46 ANOS
Depois de ter cuspido no prato em que se alimentou à grande e à francesa durante décadas, João Lourenço descobriu a “pedra filosofal” ao ordenar a substituição dos pratos de latão por louça de porcelana da mais alta qualidade. Tal como fazem nos países da Europa, nos EUA, ou (para alguns) na Rússia.
O Povo, inicialmente, gostou da ideia. Vinte milhões de pobres aplaudiram. Hoje, contudo, constatam que o prato – embora de porcelana – está sempre vazio. Acrescentam ainda que preferiam os pratos antigos, de latão, de lata ou de plástico desde que tivessem um pouco de fuba e algum peixe, mesmo que podre…
João Lourenço, com assinalável êxito mediático, mas efémero, transformou o seu patrono, José Eduardo dos Santos, no principal responsável pela crise. Para estripar o problema tratou de exonerar, poucos meses depois de lhe ser outorgada a licença de proprietário do país, os filhos do ex-presidente e confiscar-lhe bens.
A 4 de Setembro de 2018, em conferência de imprensa, a UNITA questionou para onde ia o excedente do petróleo em Angola, cujos números apontavam para uma acumulação de muitos milhões de dólares.
Na ocasião, o líder do grupo parlamentar da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, referiu que o preço médio do barril de petróleo no mercado internacional, segundo dados da OPEP, cifrou-se em 67 dólares (58 euros) enquanto o preço de referência no Orçamento Geral do Estado (OGE) angolano era de 50 dólares (43 euros), o que dava um diferencial positivo de 17 dólares (14 euros) por barril.
“Os angolanos precisam de saber, pois este valor deveria ir para a reserva estratégica do Estado”, exortou Adalberto da Costa Júnior, denunciando que a “falta de transparência” é a causa do desaparecimento de mais de 600 mil milhões de dólares (520 mil milhões de euros) das “múltiplas reservas estratégicas e que os angolanos ficam sem saber o destino”.
Quando entendia, e entendia quase sempre com raro e afinado sentido de oportunidade, Isabel dos Santos utilizou as redes sociais para pôr os nervos de João Lourenço à flor da pele e demonstrar que, afinal, o Presidente não é um Estadista mas tão só um político mediano, vulgar. Foi isso que fez quando criticou (e bem) a falta de atractividade externa de Angola. Na altura João Lourenço estava na Europa a tentar captar investidores estrangeiros, prometendo que, se necessário, até poria o rio Kwanza a nascer na… foz.
Isabel dos Santos, exonerada da Sonangol (sem razões técnicas objectivas) por João Lourenço, questionava e continua a questionar a atractividade do país, do ponto de vista dos investidores estrangeiros.
Desde que foi exonerada da Sonangol, por – repita-se – decisão mais política do que técnica, mais pessoal do que colectiva, mais por interesses pessoais do que empresariais, Isabel dos Santos foi visada regularmente por várias notícias sobre alegadas irregularidades nos 17 meses de administração na petrolífera… do MPLA.
No entanto, Isabel dos Santos não levou desaforo para casa e, por exemplo, referiu-se à situação na Sonangol, acusando na altura a administração liderada por Carlos Saturnino, de “despedimentos em massa”, nomeadamente de colaboradores que lhe eram próximos.
Recorde-se que, em 2015, após a apresentação por Francisco Lemos, então PCA da Sonangol, do “Relatório Resgate da Eficiência Empresarial”, o Executivo angolano tomou conhecimento da gravidade do problema da Sonangol.
“A Sonangol, que supostamente deveria ser a segunda maior empresa de Africa, soube-se de repente que estava falida, e incapaz de pagar a sua dívida bancária”, disse Isabel dos Santos, explicando que, “em consequência deste facto, o Executivo angolano tomou a decisão de criar a Comissão de Reestruturação do Sector dos Petróleos, e de contratar um grupo de consultores externos”.
“A Comissão de Reestruturação do Sector dos Petróleos criada por Decreto Presidencial 86/15 Data 26.10.2015, foi composta por: Ministro dos Petróleos, Ministro das Finanças, Governador do BNA, PCA da Sonangol, Ministro da Casa Civil da Presidência da República”, recorda Isabel dos Santos.
A arrogância pessoal de Carlos Saturnino, que mais pareceu um (mais um) acerto pessoal de contas, pôs em causa as decisões tomadas pelo governo angolano em 2015 e 2016, pôs em causa a presença de consultores, pôs suspeitas sobre o trabalho realizado e pagamentos feitos, negando – ou branqueando – o facto de que a Sonangol estava falida.
“Pôr em causa a decisão do Governo angolano em querer reestruturar a Sonangol, e tentar manipular a opinião pública, para que se pense que a Administração anterior trouxe os consultores por falta de competência ou por interesses privados, significa querer reescrever a história, e atribuir a outros as responsabilidades da falência da Sonangol”, afirmou Isabel dos Santos.
E acrescentou: “Esta manipulação dos factos assemelha-se a um autêntico revisionismo, e só pode ter como objectivo, o regresso em força do que convém chamar como “a antiga escola” da Sonangol”.
Indesmentível parece ser que o resultado da gestão de Isabel dos Santos até 15 de Novembro de 2017, resultou num aumentou de lucros da Sonangol em 177% e que a divida foi reduzida em 50%.
Importa ainda realçar, não esquecer, que – segundo Isabel dos Santos – “a campanha generalizada e politizada contra mim, faz-me acreditar que estão de retorno os interesses das pessoas que enriqueceram bilhões à custa da Sonangol. São estes, que hoje fomentam e agitam a opinião pública de forma a poder retomar os seus velhos hábitos”. João Lourenço ficou com as orelhas a arder.
Folha 8 com Lusa