LOURENÇO “ASSASSINA” RECONCILIAÇÃO E PREPARA ARMAS PARA A GUERRA

A velha geração de dirigentes africanos, muitos oriundos dos movimentos de libertação, no poder faz mais de quatro décadas, autênticos ditadores e corruptos, que resistem à alternância democrática do poder, são uma verdadeira comédia. A União Africana longe de representar os povos é um clube de compadres, unidos pela institucionalização da ladroagem e da ditadura. Juntos, são uma vergonha. Assassinos dos sonhos, da democracia, do desenvolvimento social e económico dos países e respectivos povos. Realizar eleições e contar com observadores africanos, lamentavelmente é o mesmo que contar com cegos e analfabetos, pois eles sempre terão um só lado, o da ditadura.

Por William Tonet

A União Africana ao conceder o título de “Campeão para a Reconciliação e Paz em África”, ao Presidente da República de Angola, João Lourenço ofendeu uma grande parte dos angolanos e cidadãos dos países africanos, quando se conhece a sua veia mental de intolerância, autoritarismo e aversão à reconciliação.

Quais os critérios para se atribuir um prémio a quem, nem o próprio partido: MPLA, conseguiu reconciliar?

A quem implantou um sistema de justiça selectiva, ignóbil, que persegue impiedosamente adversários políticos e os encarcera, nas fedorentas masmorras, sem provas, atribuindo-lhes, “ab initio” a presunção de culpa, autêntica visão das ditaduras?

Como atribuir um prémio de reconciliação, a quem chama os opositores e adversários políticos, pejorativamente, de malandros (em Moçambique), marimbondos, burros e espertos?

Com este curriculum, nem no espaço lusófono consegue reconciliar os divergentes e oponentes, como em Moçambique: Frelimo (aliado) e Renamo (que não lhe reconhece autoridade e isenção moral), que o descarta de cruz, por a ter ofendido e nunca ter pedido desculpas.

Na Guiné-Bissau: PAIGC (partido aliado do MPLA) e o Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), do Presidente Sissoco, que não lhe debita confiança, aliás, foi o primeiro líder africano a condená-lo directa e publicamente, pela forma como persegue Eduardo dos Santos e família, que diz, ter-lhe entregue, de bandeja e agora cospe no prato que lhe deu de comer, daí o epíteto de ingrato.

Então de que África está a falar a União Africana, quando até mesmo a Guiné Equatorial condena a forma como ele persegue Dos Santos e o presidente Teodoro se ofereceu para custear as despesas deste em Barcelona, tendo em 2021, doado três milhões de dólares…

A nível interno o Presidente Lourenço não consegue estabelecer pontes de reconciliação com a oposição e persegue o líder do maior partido: UNITA, Adalberto da Costa Júnior… Inviabiliza a legalização de partidos políticos com projecto de poder. No final do mandato, escandalosamente, são reconhecidos partidos políticos fantoches que não fizeram campanha de recolha de assinaturas, aliás terão aproveitados processos do ilegalizado PRA-JA de Abel Chivukuvuku. Uma vergonha e fraca reconciliação nacional.

O que fez, ainda no capítulo de reconciliação, o Presidente quando trata Cabinda como uma colónia, não permite associação dos Direitos Humanos, não admite conversações com a sociedade civil, aprisiona jovens inocentes, por reclamarem igualdade de tratamento, emprego e melhores condições de vida. Igualmente não conversa com os jovens e populações da Lunda votados à miséria e indigência, quando eles vêm todos os dias os diamantes saírem das suas terras…

Poderia, a UA, com o devido respeito, “vender” outro certificado, mas não este!

A UA passa, doravante, a ser vista como uma organização perniciosa, que aloja muitos covardes, maldosos e corruptos, que por dinheiro, inventam qualquer titulação.

Já agora, qual o grau dado ao ditador da Guiné Equatorial, 43 anos no poder, que albergou o evento? “Campeão da Democracia ditatorial e assassina”? Não seria mau!

Sois uma perversa e anti-democrática comédia.

A barbárie não pode ser brindada, nem ter pedestal, salvo, para os masoquistas.

Um prémio de “Campeão para a Reconciliação e paz em África” deve atender ao viés totalitário ou democrático?

A capacidade do político ter capacidade de dialogar e reconciliar as diferenças internas, não contam nos itens de apuramento?

Sabe a UA, que mais de 68% da população angolana vive em pobreza extrema e que a taxa estimada de analfabetismo é de 58%?

Que a maioria dos dirigentes vive como nababos, indiferentes à fome e seca que grassa pelo país, principalmente, no sul? Estes dados, obviamente, não sensibilizam a UA e os ditadores de colarinho branco.

Ademais, a falta de espírito de reconciliação leva a que se tire aos angolanos para se entregar a soberania comercial e industrial angolana a governantes corruptos, investidores e especuladores estrangeiros, que subtraíram mais de 90% da riqueza nacional privada do erário público, concentrada em menos de 0,5% de negociantes.

Como considerar alguém campeão da Reconciliação, quando para ele os heróis só são os do MPLA, partido no poder? Um partido que privatiza bens públicos a seu favor, como, por exemplo, neste momento (Maio 22), período eleitoral (eleições realizam-se em Agosto), ocupou, abusiva e arrogantemente, o Largo da Independência e demais praças públicas, até Setembro, tudo para inviabilizar a utilização, por outros partidos e sociedade civil.

Quem é incapaz de homenagear, reconhecer e conceder honrarias a Holden Roberto, líder da FNLA, partido que a 15 de Março de 1961, iniciou a verdadeira luta de libertação nacional, escamoteada pelo MPLA e Jonas Savimbi da UNITA, ambos líderes que se bateram, tal como Agostinho Neto, do MPLA, também, pela independência nacional, espelham a falta de espírito de reconciliação. João Lourenço, enquanto líder do MPLA, ao longo dos 46 anos de poder, apenas atribuem nomes de ruas, avenidas, largos, escolas, universidades, hospitais a Agostinho Neto, em detrimento dos demais, ostensivamente, excluídos, numa clara demonstração de falta de espírito de reconciliação nacional.

Se com este acervo, um presidente se pode candidatar, a um galardão, que deveria ter o mínimo de critérios de exigência, ética, respeito pelas liberdades e carácter democrático, então os critérios da União Africana, são nivelados por baixo.

O Presidente da República que poderia ser “Campeão para a Reconciliação e Paz em África”, apenas governou por seis meses, período de ilusão óptica, pois de lá para cá, o seu consulado é marcado, pela intolerância, raiva, discriminação, injustiças, controlo e monopólio dos meios de comunicação social públicos e afins, numa clara demonstração de falta de políticas de reconciliação nacional.

O consulado do presidente João Lourenço, nos cinco anos, está manchado por um conjunto de políticas de raiva, ódio, injustiças, sangue, assassinatos de manifestantes, perseguição aos adversários políticos, brindados, todos os dias, com uma forte campanha de diabolização, nos órgãos de comunicação social públicos.

A justiça não é independente, estando ao serviço exclusivo do líder do partido no poder, que a utiliza como arma de arremesso aos opositores.
Os juízes têm o pensamento não atrelado à Constituição, leis e justiça, mas às mordomias, destacando-se viaturas milionárias de marca Jaguar, condicionante de subserviência partidocrata.

A União Africana e a maioria dos líderes dos Estados, demonstraram em Malabo, capital de um país, onde reina uma feroz ditadura, não muito diferente da de Angola, não terem o cérebro conectado com as práticas do bem, liberdade e democracia.

A UA é indiferente a existência de “Estados vampiros”, liderados por elites predadoras, autênticos gatunos do erário público, que engordam através da corrupção, sugando o sangue dos povos, remetidos a mais abjecta indigência.

A UA não poderia realizar conferências relevantes em países liderados por ditadores, genocidas ou títeres, como forma de estimular as boas práticas de governação e respeito ao bem comum, a liberdade, a existência de instituições fortes, garantes de verdadeira alternância. As organizações devem ser verdadeiramente independentes e não marionetas dos antigos regimes coloniais, integrando as organizações criadas pelas antigas metrópoles coloniais, como Londres, Paris e Lisboa, que através de assimilados e complexados, continuam a mandar e impor regras de neocolonização, subjugando os valores, línguas, culturas e tradições africanas.

Hoje, mais do que nunca se vê a necessidade urgente de as novas gerações terem de se unir, para repensar África, sem os caducos continuadores do pensamento colonial, que, hoje se vê, apenas lutaram para ocupar o lugar deixado pelo branco europeu opressor, que lhes deu apenas a independência material.

A nova geração precisa de libertar o continente, elegendo líderes comprometidos com o combate ao subdesenvolvimento, o derrube dos bairros de lata (bidon ville), o combate à ditadura, o fim da batota eleitoral, institucionalizando órgãos de soberania apartidários.

A despartidarização da justiça, a criação de uma moeda africana, não dependente de nenhum país colonial, a adopção de novas regras de gestão da coisa pública, a obrigatoriedade de em 10 anos, cada país garantir auto-suficiência alimentar, a transformação local das matérias-primas, a criação de um mercado comercial e financeiro africano, a exportação de produtos manufacturados, para o mundo, o fomento da educação, de novos sistemas de saúde, a criação de uma nova União Africana, integrada exclusivamente, por países que adoptem práticas verdadeiramente democráticas, escrutinadas por comissões independentes, a eleição de um parlamento africano, cujos membros sejam eleitos democraticamente, pelos povos. Estas deverão ser as novas imagens de marca e não a perpetuação da ditadura. Se isso ocorrer cada país aderente, destas novas práticas, terá como tarefa pioneira a proclamação da “Independência Imaterial”!

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