JORNALISTAS LUSÓFONOS  CONTINUAM A DORMIR

Domingos Simões Pereira, então secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), incentivou no dia 12 de Março de 2009 a criação de uma associação de jornalistas no espaço lusófono que pudesse contribuir para uma maior comunicação entre os Estados membros da instituição.

Até pareceu uma boa ideia. E pareceu, desde logo, porque partia de um organismo que enquanto tal não existe e, é claro, porque respeita a uma profissão – veja-se o caso angolano – que tende a deixar de existir.

À delegação que o informou sobre o processo (miragem, desejo, devaneio) de criação da Federação de Jornalistas lusófonos, Domingos Simões Pereira referiu o papel decisivo da comunicação social na divulgação da CPLP e dos seus objectivos.

Simões Pereira pôs, e bem, a tónica no que pensava ser (e de facto é cada vez mais isso) o jornalismo: divulgação das verdades oficiais. Há, é claro, quem chame a isso propaganda, publicidade ou algo similar.

Simões Pereira adiantou que uma associação de jornalistas, que integrasse profissionais dos países membros da CPLP “agilizaria” a circulação de informação na comunidade ultrapassando alguns problemas registados nesta área.

Não seria, escrevemos na altura, a associação que “agilizaria” a circulação de informação. O que tornaria mais ágil essa circulação seria a criação nos países lusófonos de meios para que o jornalismo deixasse de ser uma profissão em vias de extinção.

A delegação que esteve reunida com o então secretário executivo da CPLP, na sede da organização em Lisboa, incluiu dois jornalistas angolanos e uma brasileira, mandatados pela reunião realizada na capital de Cabo Verde, que marcou para 29 de Maio de 2009, na cidade angolana de Sumbe, a constituição formal da Federação de Jornalistas da CPLP.

Segundo disse à Agência Lusa o jornalista angolano Messias Constantino, o objectivo da federação era fomentar o diálogo, intercâmbio, cooperação e interacção entre jornalistas dos países de língua portuguesa.

A longo-prazo, a referida federação poderia concretizar projectos mais ambiciosos, como a eventual criação de uma “agência noticiosa ou de um canal de televisão da CPLP”, avançou Messias Constantino.

Problemas que os profissionais da comunicação social enfrentam no dia-a-dia de cada um dos países membros da CPLP, nomeadamente questões relacionadas com a liberdade de informação, a ética e deontologia serão também objecto de reflexão para a nova associação de jornalistas, afirmaram por seu turno as jornalistas Luísa Rogério (angolana) e Mónica Delicato (brasileira).

Ora então… recordemos

A concentração da propriedade dos meios de informação, a crescente precariedade das relações de trabalho, e os obstáculos à livre circulação dos jornalistas foram alguns dos temas abordados pelo então Presidente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) de Portugal, Alfredo Maia (hoje deputado do PCP), na sessão pública de anúncio da criação da Federação de Jornalistas de Língua Portuguesa (FJLP), realizada no dia 5 de Dezembro de 2009, com a presença do Secretário Executivo da CPLP.

A assembleia, em que participam organizações de jornalistas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e S. Tomé e Príncipe, começou por aprovar o relatório da Comissão Ah Hoc da Federação de Jornalistas de Língua Portuguesa, a que se seguiu um período de informação sobre a situação profissional dos jornalistas e as condições para o exercício da profissão nos vários países.

Os trabalhos prosseguiram com a sessão pública de anúncio da criação da FJLP. Na cerimónia participaram, entre outros, o Secretário Executivo da CPLP, Simões Pereira; o Director do Cenjor, Fernando Cascais; o Presidente do Conselho Deontológico, Orlando César; e o Presidente do Conselho Geral, José Carlos Vasconcelos.

Coube ao então Presidente do SJ, Alfredo Maia, lembrar o longo caminho percorrido para se chegar à criação da FJLP e os problemas que os jornalistas enfrentam num mundo cada vez mais globalizado, onde a “concentração da propriedade dos meios de informação, que está na origem de um clube restrito de grupos económicos que controla todas as grandes publicações, as televisões e as principais rádios não representa apenas o domínio da capacidade de recolher, tratar e difundir informação e um enorme poder de intervenção no espaço público”, mas também o “controlo do mercado do trabalho dos jornalistas e outros trabalhadores, estabelecendo e impondo as regras sobre quem entra, quem permanece e quem sai das empresas, que é como quem diz da profissão”.

Na sua intervenção, Alfredo Maia sublinhou a necessidade urgente de “organizar e globalizar a resistência” a esta situação, nomeadamente através da “criação, manutenção e expansão de organizações internacionais fortes, coesas, activas e influentes, que dêem força às organizações filiadas, projectem os seus problemas e as suas lutas para fora das suas fronteiras e lhes emprestem a voz junto dos poderes e organismos internacionais”.

Foi neste contexto que surgiu a FJLP, disse, que é de “jornalistas de língua portuguesa e reflecte as realidades e os projectos de uma comunidade concreta, perspectivando uma efectiva cooperação, desinteressada e fraterna, assente na complexa história comum das pátrias onde nos foi dado nascer e no património linguístico partilhado por 225 milhões de falantes do Português”.

O Secretário Executivo da CPLP, por seu turno, agradeceu o facto de a CPLP se poder “sentir parte” desta iniciativa e sublinhou a importância de serem os próprios jornalistas a “fazer o diagnóstico” do que deve ser feito, no âmbito da Comunidade, para ultrapassar problemas que se colocam à cooperação dos profissionais da comunicação social lusófona.

Na sua intervenção, e respondendo a uma questão colocada pelo Presidente do SJ sobre os obstáculos que se colocam à livre circulação dos jornalistas, Simões Pereira reconheceu que, embora a “livre circulação seja uma questão que interessa a todos” e que “todos estão empenhados em resolver”, subsistem “implicações ao nível interno dos estados que é preciso resolver”.

Um primeiro passo foi dado com a criação da Assembleia Parlamentar, em Abril de 2009, disse, um novo passo está a ser dado com a criação da FJLP, importando agora conjugar esforços para “sensibilizar os decisores políticos”.

Na sessão interveio ainda Messias Constantino, Presidente da AJECO, dizendo que o “dia 5 de Dezembro de 2009 marca um ponto de viragem na relação dos jornalistas de língua portuguesa”, pois com a formação da FJLP abre-se um “espaço de diálogo, intercâmbio e cooperação” entre os profissionais dos média dos países lusófonos.

Afirmando que a Federação quer ser “um parceiro privilegiado da CPLP”, Messias Constantino manifestou a esperança de que, juntas, as duas organizações possam influenciar os estados para a implementação de órgãos de comunicação para a lusofonia.

Hoje, como ontem e como amanhã, para nós, se o Jornalista não procura saber o que se passa é um imbecil. Se sabe o que se passa e se cala é um criminoso. Daí a nossa oposição total aos imbecis e criminosos. E, é claro, não temos culpa de, em Angola, a maioria dos imbecis e criminosos, para além de corruptos, estar no MPLA.

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