Os Estados Unidos estão a acompanhar o processo eleitoral angolano e vão disponibilizar quatro milhões de dólares para actividades de promoção da tolerância política, anunciou o embaixador norte-americano em Luanda, Tulinabo Mushingi. Boa! Que percentagem será alocada à cabidela? E aos que, como defende o general Francisco Furtado, se preparam para “dar no focinho a quem tem posições contrárias ao MPLA”?
Citado pelo Jornal de Angola, Tulinabo Mushingi, que falou aos jornalistas após uma audiência conjunta que lhe foi especialmente concedida pelo Presidente da República, João Lourenço, pelo Presidente e recandidato do MPLA, João Lourenço, e pelo Titular do Poder Executivo, João Lourenço, em Luanda, disse que os EUA acompanham, há muito tempo, o processo eleitoral angolano, para o qual disponibilizou “apoio financeiro modesto”.
O diplomata indicou que a verba será canalizada para promover a tolerância política e aceitação das regras do jogo pelos concorrentes (se fosse verdade ao MPLA não caberia nem um kwanza), para que “no final do pleito, vencedores e vencidos se lembrem que todos são filhos da mesma pátria”.
Na reunião, acrescenta o diário do MPLA, foram também avaliados pormenores relativos à realização da cimeira EUA-África, a decorrer em Washington, de 13 a 15 de Dezembro deste ano.
A cimeira, anunciada recentemente, pelo Presidente norte-americano, Joe Biden, pretende sentar à mesma mesa líderes africanos e norte-americanos, para a discussão de questões de interesse comum e fortalecimento das relações.
Segundo Tulinabo Mushingi, “o evento não será apenas aquilo que os Estados Unidos querem debater, mas o que os africanos desejam discutir, sobretudo a forma para continuar a avançar com as parcerias, rumo ao progresso de ambos os lados”.
O embaixador dos Estados Unidos da América afirmou ter também avaliado com o Presidente da República a possibilidade de 16 novas empresas norte-americanas investirem no país, em diferentes sectores económicos.
O diplomata referiu que o valor de 2 mil milhões de dólares (1,97 mil milhões de euros), anunciado pelo Presidente Joe Biden, para apoiar projectos de energias renováveis em diversas regiões angolanas, já está a ser operacionalizado através da companhia norte-americana Sun África, que, em consórcio com a portuguesa MCA, está a construir as primeiras centrais fotovoltaicas no país, nomeadamente a do Biópio e a de Baía Farta, na província de Benguela, recentemente inauguradas.
“Estou em Angola há quatro meses, e já vi que há alguns sinais de resultados positivos nas reformas que o Governo angolano começou a implementar em poucos anos”, afirmou, salientando que “só não vê quem não quer”.
Joe Biden é rico e mal-agradecido
Segundo o DIP (Departamento de Informação e Propaganda do MPLA), via Jornal de Angola, vários temas de interesse comum entre Angola e os Estados Unidos da América estiveram em análise, em Washington, durante o encontro – Setembro de 2021 – que o Presidente João Lourenço teve com o conselheiro de Segurança americano, Jake Sullivan.
O encontro, com a duração de mais de uma hora, diz o DIP, foi considerado “excelente” pela então embaixadora dos Estados Unidos em Angola, Nina Maria Fite, que lamentou a impossibilidade de Joe Biden estar presente devido a compromissos inadiáveis (tinha ido ao barbeiro).
“Foi uma reunião excelente. Eles tiveram uma discussão muito ampla sobre vários temas de interesse mútuo”, sublinhou a diplomata, que destacou o papel chave de Jake Sullivan na Administração do Presidente Joe Biden. Aliás, é de crer que Jake Sullivan é, na verdade, tão ou mais importante do que Joe Biden. Se assim não fosse, presume-se, João Lourenço não aceitaria tirar uma fotografia com um funcionário… menor.
Por ser uma pessoa muito importante (muito, muito, disse o MPLA) na Casa Branca, acrescentou Nina Maria Fite, isso significa também uma grande vantagem para Angola e para o Presidente João Lourenço ter este tipo de discussão.
Segundo Nina Fite, o encontro foi enquadrado na cooperação estratégica entre os dois países, que mostra, cada vez mais, como os EUA e Angola têm esta “cooperação profunda”. Joe Biden terá mesmo equacionado adiar o corte de cabelo para estar com o Presidente do MPLA.
Os Estados Unidos têm destacado o papel de liderança do MPLA na pacificação da Região dos Grandes Lagos, bem como no fim da escravatura. Na qualidade de presidente da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos, Angola já organizou três mini-cimeiras sobre a situação de paz e segurança na República Centro-Africana.
Em 2019, Angola foi um dos facilitadores, juntamente com a República Democrática do Congo (RDC), do Memorando de Entendimento, assinado em Luanda, entre o Rwanda e o Uganda.
O encontro com o conselheiro de Segurança dos Estados Unidos marcou na altura o início da agenda oficial do Presidente João Lourenço em Washington. O Chefe de Estado angolano, não nominalmente eleito (coisa menor para os EUA), foi homenageado pela Fundação Internacional para a Conservação do Ambiente (ICCF), pelo seu envolvimento em iniciativas de defesa do ambiente.
Presume-se que João Lourenço, na versão Presidente do MPLA, terá dado como exemplo o êxito conseguido no vegetarianismo dos jacarés angolanos que, depois de 2017, só mantiveram a opção carnívora quando tinham fome.
Em declarações à imprensa, no final da visita que efectuou ao Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana, que na altura assinalava o 5º aniversário, o Chefe de Estado disse ter sido tocado, profundamente, pelo que viu. “O que vimos é algo bastante emocionante, porque isto é parte da nossa História comum, dos africanos e os da diáspora”, sublinhou.
“Todo o sofrimento por que os nossos irmãos passaram ao longo dos séculos, desde o tempo do esclavagismo, toca profundamente o nosso coração e, por esta razão, temos de estabelecer uma ligação mais próxima entre os países africanos e a nossa diáspora africana, parte da qual está nos Estados Unidos”, reforçou.
Provavelmente João Lourenço poderia emocionar-se de igual modo se visitasse as valas comuns onde foram enterrados os milhares de angolanos que o seu herói nacional, Agostinho Neto, mandou assassinar nos massacres de 27 de Maio de 1977. Ou não?
Questionado se a aproximação passaria pelo retorno desta diáspora, o Chefe de Estado, que esteve acompanhado da Primeira-Dama, Ana Dias Lourenço, colocou de parte a ideia de um regresso definitivo, mas sim a manutenção de uma ligação com as origens que, provavelmente, remontam ao tempo do primeiro militante do MPLA, Diogo Cão.
“Neste domínio dei um passo concreto, acabei de convidar a família Tucker a visitar Angola para partilharem a sua experiência com o Arquivo Nacional de Angola, com as universidades e com as nossas comunidades. Isso vai acontecer proximamente. Hoje é esta família, amanhã pode ser outra, de forma que possam manter a ligação com as suas origens, que é o continente africano”, concluiu.
A família Tucker é descendente dos primeiros escravos que foram levados para os Estados Unidos, originários de Angola, em 1619. É claro que, por uma questão de identidade, o MPLA continua a aumentar o número de escravos internos (20 milhões de pobres), garantindo assim que o seu ADN não será adulterado por uma qualquer opção democrática.
O Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana é um edifício imponente, situado nas proximidades da Casa Branca, construído para a conservação do legado dos afro-descendentes nos EUA. Nos vários compartimentos, narra o percurso dos escravos trazidos para América, o papel de alguns soberanos africanos, incluindo a Rainha Ginga Mbande, cujo retrato é exposto, em grande plano, na entrada de uma das galerias.
“O museu narra a história dos afro-americanos, desde a chegada dos primeiros escravos, às colónias americanas, independência americana e o paradoxo da liberdade, participação dos escravos na construção da Casa Branca e Capitólio, surgimento do movimento abolicionista, luta pelas liberdades civis, bem como a ascensão de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos e muito mais”, escreveu o enviado do DIP/MPLA (Jornal de Angola).
Folha 8 com Lusa