CABINDENSES (AINDA) NÃO DEIXARAM DE LUTAR

A visita de João Lourenço a Cabinda edificou-me e ajudou-me a tirar dúvidas sobre dois aspectos sócio-políticos que muitas vezes semeiam dúvidas nas mentes de todos aqueles que de uma forma ou de outra lutam pela autodeterminação de Cabinda.

Por Osvaldo Franque Buela (*)

Esta visita mostrou-nos desde a primeira hora que há agora de um lado, um grupo de falsos vencedores que se aproveitam e bem dos feitos e gestos de comunicação do regime e do outro lado, uma população, unida em torno de seu ideal de liberdade, soberania, independência e anti-guerra, que, mesmo impotente e fraca diante de um exército violento e brutal ao estilo russo, que não desarma e se recusa a ajoelhar-se diante da ditadura ocupacionista e da máfia financeira de Luanda.

Este primeiro grupo de falsos vencedores são os Cabindenses do MPLA, estes activistas cívicos e políticos (que é um direito deles) que acreditam e tentam fazer crer que todas as infra-estruturas sociais inauguradas são uma dádiva do regime e do seu Presidente ao povo Cabindês, o que é totalmente falso.

Em termos de repercussões coloniais, estas infra-estruturas são bem-vindas, e não sejamos ingratos em ignorá-las porque nos pertencem por direito, e isto é apenas uma continuidade do exercício do poder, mas o que mais surpreendeu foi a forma como alguns Cabindenses tiveram problemas de explicar a fonte de financiamento nas redes sociais. Tudo isto não muda nada porque são os nossos recursos que vão pagar a factura e a sobretaxa aplicada pela máfia do MPLA.

A nossa população e o nosso território precisam destas infra-estruturas sociais, mas basta-nos diluir a nossa história e a nossa identidade em bens e serviços de que temos pleno direito a beneficiar, como legítimos proprietários dos recursos que são explorados injustamente, dos quais os rendimentos estão distribuídos de forma desigual para o nosso território?

MATURIDADE E COERÊNCIA POLÍTICA INTERNA

Mesmo divididos, os líderes dos movimentos políticos provaram desta vez por sua comunicação unificadora que o regime não é capaz de resolver a substância do conflito pela raiz, ou seja, dialogar em vez de fugir da realidade do conflito.

Saúdo solenemente o apelo corajoso desses movimentos políticos de dentro, que colocaram o cursor político onde deveria estar, sem complexidade e sem restrições, diante de um presidente que pratica saltos de gazela onde deveria sentar, conversar e olhar para um ao outro cara a cara.

Ao defender o diálogo como solução e ao apelar ao fim do conflito militar que envenena o clima político, os movimentos Cabindenses provaram-nos que a unidade na diversidade é possível e que não são estas infra-estruturas sociais que irão diluir a nossa sede de liberdade, o nosso desejo de viver juntos e a nossa amizade fraterna com o povo angolano que também é escravizado como nós, e que podemos ter um destino e um futuro comuns com um regime político aberto, democrático e eleito com toda a transparência, não o de o incompetente no lugar.

Será que a FLEC-FAC foi enganada pelos serviços de inteligência?

A visita de João Sapato de Crocodilo a Cabinda foi apenas uma resposta à FLEC-FAC que se recusou a submeter-se, que se recusou a travar um diálogo surdo e enganador sem as outras forças vivas do território, e, aqui também lhes presto um vibrante homenagem, mesmo se não sou partidário da luta armada.

A FLEC-FAC tem agora a prova de que qualquer tentativa de diálogo, convites e outros encontros realizados, tanto em Kinshasa como na Europa, só serviram para entretê-la e permitir que os serviços de inteligência fizessem um sucesso da visita de João Lourenço a Cabinda , sem grandes incidentes, como prova o governador do MPLA em Cabinda que negou vergonhosamente os actos de guerra, inicialmente reconhecidos pelo Ministro do Interior, Eugénio Laborinho

A arrogância de João Lourenço ficou clara quando a negação do diálogo, tanto com os dirigentes da FLEC quanto com as demais forças vivas do território.

Mas a força da razão sempre nos levará a dizer a nós mesmos, como na Ucrânia, que só a luta liberta e como eu tinha lido muitas vezes no blog Alto Hama do Orlando Castro só é derrotado, aquele de deixa de lutar.

A luta continua e pátria ou morte, venceremos. Que Deus abençoe Cabinda e o seu Povo.

(*) Activista e refugiado político na França

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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