CÁ SE FAZEM, CÁ SE PAGAM

Na entrevista à CNN Portugal, Tchizé dos Santos não tirou o dedo do gatilho e só parava para recarregar a metralhadora. Nem mesmo a correcção da mira alterou o ritmo dos tiros. O alvo principal foi João Lourenço, mas nem mesmo os governantes portugueses escaparam. Esteve igual a si própria. Populista, oportuna, assertiva e – reconheça-se – na maioria das afirmações com razão.

Importa, mais do que analisar a mensageira, atentar na mensagem. É claro que, do ponto de vista de João Lourenço, o mais importante é mesmo “matar” a mensageira, filha daquele que foi – segundo o próprio João Lourenço – o marimbondo chefe que deixou os cofres do país vazios, José Eduardo dos Santos.

Vejamos, então, a mensagem:
«Eu não fiz nenhuma acusação de envenenamento, eu pedi uma investigação de homicídio.

Uma das afirmações que consta nos autos é que o meu pai ficou 16 horas sem comer.

Foi-me negada a possibilidade de pôr um enfermeiro a tempo inteiro na casa do meu pai.

É curioso que os jornalistas tenham acesso a mais informação (autópsia) do que eu, que interpus a acção. É muito curioso que João Lourenço tenha ficado a saber do falecimento do meu pai e tenha anunciado primeiro do que eu.

Eu fiquei a saber pelo senhor Lourenço do falecimento do meu pai. O que me chocou tremendamente.

Nenhum médico conseguiu explicar como é que o meu pai conseguiu chegar de Angola com 30 quilos a menos. Filhos nunca foram informados que o pai estava a perder muito peso.

Eu contei (investigação à morte do pai) com o apoio de alguns irmãos e um deles, inclusive, deu o seu testemunho, mas na hora da assinatura da queixa recomendaram que eu a fizesse sozinha.

Eu não sei mentir, assumo que fiz a queixa formalmente sozinha.

A saúde e a vida do meu pai eram da responsabilidade de qualquer um deles como da minha.

Eu deixei muito claro que não negoceio com criminosos. O governo de Angola é criminoso, liderado por um criminoso. Que viola a separação de poderes e que viola a constituição de Angola.
A Ana Paula dos Santos para mim é uma impostora, não é esposa de ninguém.

(Sobre se teve o apoio dos irmãos na recusa de enviar o corpo do pai para Angola) Eu não lhe vou dizer de que irmãos me dão apoio. Só lhe posso dizer que tenho apoio de alguns irmãos, que não são a minoria.

Eu acho que isto foi tudo premeditado.

João Lourenço “até na morte alheia quer competir o protagonismo com o falecido.

Se o meu pai estivesse feliz e se sentisse seguro em Angola, não passaria a maior parte do tempo na Europa.

Eu acho que o meu pai morreu por não ter apoiado João Lourenço.

(Sobre a realização de um funeral de Estado) O meu pai deixou uma vontade expressa de não mais voltar a ser humilhado por João Lourenço e não mais voltaria a Angola.

O meu pai mostrou-se extremamente arrependido de ir a Angola. (…) O meu pai não queria ser enterrado por João Lourenço.

O presidente de Angola é um ditador corrupto. (…) Eu não vou vender o corpo do meu pai para lado nenhum.

Eu não irei pôr o pé em nenhuma instituição de Angola enquanto o João Lourenço for presidente de Angola. (…) Eu corro perigo de vida em qualquer sítio onde ele tenha controlo.

Sou cidadã portuguesa e não sinto segurança jurídica para estar em Portugal, porque o Governo português já baixou as orelhas ao governo de João Lourenço.

Eu não estou em Barcelona, estou em Espanha, perto da residência. (…) Eu temia por estar nas mãos de pessoas que são subordinados directos de alguém que persegue.

Olhe, eu não sei (ida de Isabel a Luanda para o funeral), de certeza absoluta que não, a menos que cometa o grande erro de chegar a algum tipo de acordo. (…) Se ela for, vai ser vista como uma grande traidora.

O povo angolano está a pedir que os filhos não entreguem o corpo. O povo de Angola está a sentir-se humilhado.

Neste momento, o governo de Angola deve-me uma indemnização brutal. Tudo o que eu fiz em Angola foi proveitoso e beneficiou o Estado.

O Estado português também me deve uma indemnização e vai pagar uma indemnização porque também tem estado a difamar através dos seus tribunais.»

Importa, nesta altura, reconhecer que esta mensagem é subscrita por milhões de angolanos, muitos dos quais próximos de João Lourenço e que, na melhor oportunidade, lhe farão o mesmo que ele fez ao seu mentor, José Eduardo dos Santos: apunhalá-lo pelas costas, cobardemente, “matando” aqueles cujo sofrimento mais dor causa a um pai – os filhos.

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