BICEFALIA SALVARIA O MPLA, AUTORITARISMO AFUNDA-O

Bicefalia, não! Bicefalia, sim! Bicefalia, não! Ganharam as mentes ofuscas, ressentidas, raivosas, odientas. Perdeu, uma vez mais, para desgraça colectiva, o futuro definido, o bom senso, os visionários, para o futuro do indefinido. O presente, hipotecado nas mãos de um comandante cuja bússola tem os ponteiros truncados, direcciona a nau para porto inseguro.

Por William Tonet

A bicefalia nunca havia emergido tanto no léxico partidário, como no final de 2017 e princípio de 2018. Os prós e contras esgrimiam argumentos, sendo que o crónico hábito de ter um super chefe (autoritário, intolerante) ofuscava a mente, até de intelectuais antes vistos como ponderados, por acreditarem ser melhor, para o MPLA e regime, uma ruptura, com o passado Eduardista, para inaugurar uma auto-estrada ao novo líder, sem de forma desapaixonada terem tido a preocupação de escrutinar os pergaminhos, deixados por onde este passou, ao longo de 46 anos.

Hoje, o país “controlado”, nos últimos cinco anos, pelo “homem-esperança”, inicialmente, apontado como ponderado, renovador, conciliador e democrático, regrediu, em todos os itens, incluindo a ditadura, três vezes mais, ante a excessiva concentração de super poderes.

Mais grave foi assistir à degradação, como nunca antes (depois de 1991), da vida partidária, com a proibição do Tribunal Constitucional (convertido, ostensivamente, depois de 2018, em apêndice do presidente do partido no poder), legalizar partidos políticos da oposição, com pretensão de tomada do poder, pela via democrática, como o PRA JA SERVIR ANGOLA de Abel Chivukuvuku, que reunindo e cumprindo todos procedimentos legais foi vergonhosamente, chumbado.

Esta decisão, ao invés de constituir um alívio político, ao afastar um líder eloquente, credível e mobilizador, foi um dos maiores erros políticos de João Lourenço e da sua entourage, pois permitiu, que Abel se aproximasse mais cedo de Adalberto e da UNITA, impensável se legalizado. Nesta condição, na luta sem quartel, movida contra o líder do Galo Negro, poderia o Presidente da República, eventualmente, contar com a solidariedade ou neutralidade de Chivuku…

Agora, início de 2022, ano eleitoral, com a concentração e união dos maiores “monstros” políticos da oposição, JLO caminha(rá), orgulhosamente, sozinho no deserto e nem o desgarrado e ruidoso exército de bajuladores, conseguirá contornar, com lisura e transparência, a crescente insatisfação popular, para inverter o quadro dantesco sócio-económico, que leva milhões, famintos, a recorrer aos contentores de lixo, para comer.

Diante deste quadro desumano e criminoso, os desempregados, os pobres, os famintos, os discriminados, os desmobilizados das Forças Armadas, sem reforma, os professores descontentes, os médicos discriminados, os taxistas, as zungueiras, os roboteiros, os jovens, todas estas classes, marginalizadas, nos últimos 5 anos, deixaram de acreditar nas promessas de João Lourenço, preparando uma “onda atacante”, para exercerem a soberania eleitoral em Agosto/2022.

O eleitor está consciente de estar a viver, três vezes pior, que no tempo de José Eduardo dos Santos e, num ambiente de autêntico golpe de Estado, dado pelo Presidente da República, com a alteração pontual da Constituição e da Lei Eleitoral, para beneficiar um concorrente e um partido, com ciência de que sem este malabarismo político de batota eleitoral, o segundo mandato está(rá) seriamente comprometido.

O MPLA nunca cavou tão fundo a própria sepultura, começando com a promoção da divisão da “grande família”, podendo João Lourenço converter-se no coveiro-chefe, na ânsia de controlar tudo e todos, queimando cabos eleitorais, em praça pública, acusando-os de corruptos e destruindo as empresas de camaradas, geradoras de emprego.

O objectivo era, foi, e é o de afastar, todos quanto, no partido, sejam uma ameaça à “chefiatura”, tanto assim é que não teve pejo de, ostensivamente, diabolizar e caluniar, o presidente emérito, mostrando ser um partido sem memória e moral, tornando banal ridicularizar dirigentes em hasta pública, pela consolidação do poder.

Tanto assim é que José Eduardo dos Santos, que tornou o MPLA no partido mais rico do mundo, com acções em milhares de empresas, bancos e imóveis, viu-se cercado e humilhado, por aquele a quem ele entregou o poder de bandeja… Depois a caça selectiva, dirigiu-se aos filhos, irmãos, familiares e colaboradores próximos, tais como Dino, Kopelipa e outros, que viram as contas bancárias congeladas, o arresto de bens móveis e imóveis e o encerramento de empresas. Estas acções não visa(va)m um imparcial e sério combate à corrupção, a recuperação justa e devida do delapidado ao Estado, mas atemorizar, afastar, empobrecer, reduzindo a capacidade financeira destes constituírem uma alternativa uma alternativa à sua liderança. Tanto assim é que, cinco anos depois, a PGR (do MPLA), ainda não sabe o “quantum” (valor), Isabel, Tchizé, Zenu, Coreon Dú e os generais delapidaram o Estado, sendo as acusações, prisões e condenações selectivas, baseadas em meras suposições e elucubrações jurídicas de magistrados partidocratas.

A credibilização e a imparcialidade da acusação, assentariam numa clara definição do montante individual desviado, o recuperado e a sua colocação numa conta pública gerida por personalidade independente, que os iria alocar em projectos sociais prioritários, através de concursos públicos… Não sendo assim, o regabofe continua e de forma mais perniciosa, porquanto, agora, até os magistrados, que deveriam ser independentes e imparciais, têm interesses e são partes nos processos, ao terem legislado, uma participação de 10%, no montante recuperado de cada crime.

É o verdadeiro delírio criminal dos togados de preto, num momento em que a maioria dos autóctones assiste impávida e serena à institucionalização da vingança, ódio, autoritarismo, intolerância, discriminação, subversão dos órgãos de justiça, militar, policial, prisões arbitrárias, processos selectivos, assassinatos de carácter e reais, além de genocídios (Kafunfu-Lunda Norte), como modus operandi do Executivo.

João Lourenço poderá vir a ser cobrado, no futuro, por ter feito, em cinco anos, o que José Eduardo dos Santos não fez em 38 anos de consulado; assassinar cidadãos pacíficos e desarmados, durante as manifestações, como ocorreu com a zungueira, Joana Cafrique, o finalista de engenharia, Inocêncio da Mata, as centenas (mais de 150), em Kafunfu. Têm sido momentos sanguinários de extrema barbárie, com jurisprudência, para no assumir de uma nova casta, muito provavelmente, a sua família, mulher, filhos, irmãos, próximos, lhes ser assacada a mesma prática de perseguição e retirada compulsiva de património. Igualmente, as empresas que do dia para a noite, hoje, só recebem ouro e mais ouro, como a Carrinho, Omatapalo e outras, terão as portas encerradas e os trabalhadores mandados para o desemprego, num ciclo diabólico sem precedentes, que só a eleição de outros actores com carácter, visão republicana, democrática e defensores da imparcialidade da justiça e dos órgãos de defesa e segurança, serão capazes de emprestar ao país.

O Luanda Leaks, um suspeito e parcial consórcio de jornalistas, que terá contado com a nobre colaboração dos serviços de segurança e PGR de Angola, aos 19 de Janeiro de 2020, apresentando em Lisboa, como era de esperar em assimilados e complexados, 715 mil ficheiros informáticos, não, como era expectável, informação geral e abstracta, sobre o modus operandi dos gatunos de colarinho branco, todos “celestial” e exclusivamente, membros do MPLA, durante os 46 anos de tenebroso consulado, mas cingindo-se, apenas na gestão de Isabel dos Santos, menos de dois anos à frente da SONANGOL e do marido, Sindika Dokolo (falecido), como sendo os únicos que desviaram dinheiro público. Uma suspeição de parcialidade e encomenda investigativa, que não consegue afastar, nestes dois anos, a denúncia, cada vez mais blindada, de Rui Pinto ter recebido das novas autoridades angolanas, cerca de 4 milhões de euros, para assumir a paternidade de um dossier, que nunca antes havia denunciado, sendo o mais quente, onde poderia também, tentar extorquir e chantagear, SONANGOL e Isabel dos Santos, não o fez, como aos três grandes clubes portugueses, que intentaram acções, justificativas da sua actual prisão, onde apenas está a deletar (denunciar), esquemas de corrupção em Portugal. Estranho! Suspeito. Muito!

A montanha de combate à corrupção, pariu um ratinho, por sinal mimado e vingativo, que banaliza as leis, colocando ou mantendo adversários nas fedorentas masmorras do regime, por mero capricho. Augusto Tomás é preso político, uma vez o acórdão não provar ter feito desvio financeiro, para proveito próprio. Zenu dos Santos, foi mixeiro (intermediário), não praticou acto como membro do executivo, Walter Filipe, enquanto governador do BNA cumpriu ordens superiores, Jorge Gaudens apresentou um financiador. Nenhum destes teve o dinheiro: 500 milhões (primeira tranche, num total de três de igual montante), mais os 69 milhões de despesas da operação, nas suas contas bancárias. Mais, na qualidade de cabeça-de-lista, José Eduardo dos Santos informou da operação do eventual financiamento de 30 mil milhões de dólares, a JLO, quer na qualidade de cabeça-de-lista, como depois já nomeado Presidente da República… A lei penal actual, fala da reparação de danos, excluir a criminalização do agente, logo, não se justifica a condenação e manutenção na cadeia destes.

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