AO CONTRÁRIO DE RAQUEL, JOÃO ABRIU AS PERNAS

O secretário de Estado norte-americano agradeceu à presidência de Angola pela sua “liderança em desafios regionais e reformas democráticas”. Claramente Antony Blinken não diz o que sabe nem sabe o que diz. A não ser que, e se calhar é mesmo, os EUA queiram que Angola aumente o número de pobres (só são, nesta altura, 20 milhões), continue a ser um dos países mais corruptos do mundo, tenha dos mais altos índices de mortalidade do mundo e continue a ensinar os seus cidadãos a viver sem… comer.

Antony Blinken, juntamente com o secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin, encontraram-se com João Lourenço em Washington, à margem da Cimeira EUA-África onde discutiram objectivos comuns.

“Os Estados Unidos dão grande importância ao relacionamento com Angola, relacionamento esse que se tem fortalecido cada vez mais, principalmente sob a sua liderança. E, senhor Presidente, também apreciamos muito a liderança que Angola tem demonstrado na região, tentando acabar com os conflitos, trazer a paz, sobretudo no que diz respeito à situação no leste da República Democrática do Congo”, disse Antony Blinken a João Lourenço, citado no ‘site’ oficial do Governo norte-americano.

De acordo com o secretário de Estado, a parceria entre Washington e Luanda está “ainda mais forte” e os laços comerciais e de investimento “cada vez mais profundos”.

Já Lloyd Austin indicou que o Departamento de Defesa norte-americano valoriza a “crescente parceria” com Angola e reconheceu que a liderança do MPLA continua a ser fundamental para fortalecer a paz, a segurança e a governação em todo o continente.

“Angola é um líder-chave no continente. (…) Ficamos satisfeitos por saber que Angola está interessada em possíveis compras aos Estados Unidos e estamos a trabalhar com o Departamento de Estado para responder ao seu pedido”, acrescentou, sem apresentar mais detalhes sobre essas compras. Provavelmente serão compras de rebuçados (“balas” em português do Brasil) que, em Angola, servem para assassinar cidadãos indefesos.

João Lourenço, por sua vez, afirmou que Angola tem interesse em reforçar a sua cooperação com os EUA, admitindo existir uma “mudança de jogo”.

“Não duvidem das nossas boas intenções relativamente a este passo muito sensível que estamos a dar se quisermos olhar para o passado histórico dos nossos relacionamentos”, afirmou o líder angolano, citado pelo Governo norte-americano.

João Lourenço aproveitou ainda para fazer referência ao posicionamento geográfico estratégico de Angola, aos seus esforços para atrair investimento estrangeiro para Angola, sobretudo de norte-americanos, e aos “novos ‘players'” que começam a surgir em diferentes sectores como telecomunicações e produção de energia solar.

“Assim, os investidores norte-americanos virão a Angola para investir em todas as áreas do seu interesse sem qualquer excepção, não só no sector da energia, não só na exploração de recursos minerais de todo o tipo, incluindo diamantes e outros, que são minerais preciosos raros. Em todas essas áreas, o investimento norte-americano é bem-vindo. Isso inclui também telecomunicações, tecnologias da informação, 5G. Esperamos que as empresas norte-americanas possam dar atenção ao 5G em Angola, que é importante para o nosso desenvolvimento”, sublinhou.

Antes de ser interrompido por Antony Blinken, que pediu a João Lourenço que suspendesse as declarações até a imprensa sair da sala (um sinónimo de democracia avançada), o Presidente angolano mencionou ainda o novo aeroporto internacional de Luanda e a previsão da sua conclusão para 2023, assim como a compra de novas aeronaves da Boeing.

Como bons anfitriões, Antony Blinken e Lloyd Austin “pediram” ao Presidente da República de Angola que transmitisse as saudações da Administração Biden ao Presidente do MPLA e ao Titular do Poder Executivo…

Recorde-se que Antony Blinken felicitou no dia 9 de Setembro o Presidente do MPLA, João Lourenço, pela reeleição, comprometendo-se a reforçar a “relação vital” entre os dois países.

Recorde-se também que Margaret Thatcher (primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990 ) proibiu em 1979 o seu enviado especial à então Rodésia de se encontrar com Robert Mugabe. O argumento era o de que “não se discute com terroristas antes de serem primeiros-ministros”…

Numa nota a propósito das eleições (não presidenciais mas legislativas, não transparentes) em Angola, que se realizaram a 24 de Agosto e deram na secretaria a vitória por maioria absoluta ao MPLA (no Poder há 47 anos), Antony Blinken (que certamente nem sabe que é eleito presidente o cabeça-de-lista do partido vencedor) elogiou “os milhões de eleitores angolanos que votaram nestas eleições e, ao fazê-lo, demonstraram o seu empenho no fortalecimento da democracia”.

Recorde-se que também Barack Obama elogiou o então “querido líder” José Eduardo dos Santos, ou, ainda, o facto de Sarah Palin, na altura governadora do Alaska e candidata derrotada à vice-presidência dos EUA, ter dito que África era um… país.

“Esperamos trabalhar em parceria com os líderes eleitos de Angola para forjar um amanhã melhor para todos os angolanos e americanos”, referiu o secretário de Estado norte-americano na missiva.

E acrescentou: “Continuaremos a colaborar estreitamente com o governo angolano e o povo angolano para promover os nossos objectivos comuns, à medida que trabalhamos em conjunto para promover um futuro mais sustentável, seguro, inclusivo e próspero”.

Antony Blinken esquece-se que, como dizia Lenine e como demonstrou João Lourenço, de forma clara e inequívoca em 24 de Agosto, “não importa como os eleitores votam, só importa como serão contados os votos”.

Para amenizar (ou até acabar) com as críticas dos EUA
e com a falta de investimentos, João Lourenço viu-se obrigado
a fazer o que, sem sucesso, os polícias do ministro Eugénio Laborinho
queriam que a zungueira assassinada,
Raquel Kalupe, fizesse: baixar as calças e abrir as pernas.

O Departamento de Estado norte-americano durante os últimos anos publicou relatórios sobre Angola sem que estes, como mandam as regras da cooperação bilateral, sejam previamente visados pela Comissão de Censura do MPLA. Não admira, por isso, que o Presidente do MPLA, João Lourenço, comece a ficar irritado…

Segundo esses relatório, no reino do MPLA (Angola) ainda há “homicídios arbitrários ou ilegais, incluindo mortes extrajudiciais, pelas forças de segurança governamentais”, para além de “sérias restrições à imprensa e à livre expressão”, entre outros abusos.

Onde será que os EUA descobriram estas falsidades? Washington deveria saber que desde 27 de Maio de 1977 todos os homicídios, assassinatos, massacres visaram impedir golpes de Estado e foram todos protagonizados por cidadãos estrangeiros que foram abatidos pelas forças democráticas, patrióticas e nacionalistas do MPLA.

O Departamento de Estado norte-americano diz no relatório, que Angola deu “passos significativos” para punir governantes que cometeram abusos, mas salientou que a “cultura de impunidade” e a “corrupção no governo” mantêm-se. É tudo falso. Pelo menos a nível dos dirigentes do MPLA, dos que ontem veneravam José Eduardo dos Santos – caso do próprio João Lourenço – e que hoje idolatram o novo messias, não existe crime de corrupção. E não existe porque, para esses, a corrupção deixou de ser crime.

O executivo presidido por João Lourenço, que também é Presidente do MPLA e da República (não nominalmente eleito) “também despediu e acusou ministros, governadores de província, oficiais militares de topo e outros oficiais por corrupção e crimes financeiros”, refere o texto sobre as práticas de Angola em 2020, e disponível no site do Departamento Estado, que funciona à semelhança dos ministérios dos Negócios Estrangeiros nos países europeus.

“No entanto”, acrescenta, “a responsabilização pelos abusos de direitos humanos foi limitada devido a uma falta de freios e contra-freios, falta de capacidade institucional, cultura de impunidade e corrupção no governo”.

O documento aponta que “as forças de segurança usaram excessiva força quando impuseram as restrições para lidar com a pandemia de Covid-19”, mas elogia que “o Governo responsabilizou as forças de segurança por estes abusos em várias ocasiões”.

O relatório sintetiza que “as autoridades civis mantiveram o controlo sobre as Forças Armadas Angolanas e a polícia nacional”, considerando que a actuação foi, “de forma geral, eficaz, ainda que às vezes brutal, na manutenção da estabilidade”.

Entre as questões de direitos humanos elencadas no relatório estão “homicídios arbitrários ou ilegais, incluindo mortes extrajudiciais, pelas forças de segurança governamentais e casos de tratamento cruel ou desumano e punição pelas forças de segurança governamentais”, para além de “sérias restrições à imprensa e à livre expressão, incluindo violência, ameaças de violência ou detenções injustificadas e falta de responsabilização pela violência sobre as mulheres”.

O extenso relatório passa em revista muitos dos casos que durante o último ano foram largamente difundidos pela comunicação social e pelas redes sociais relativos a actuações da polícia e das forças de segurança, seja durante a actuação nas manifestações, seja para cumprir as normas de distanciamento e protecção social decorrentes da pandemia de Covid-19.

No final de2020, a representante de Angola junto das Nações Unidas e outras organizações internacionais, Margarida Izata, assegurou em Genebra (Suíça), que Angola estava alinhada com o pensamento do Relator Especial e a Declaração feita pelo Grupo Africano que destacam a importância do «Dever de Memória».

A intervenção da embaixadora Margarida Izata centrou-se na temática “Reparação, Verdade e Justiça”, amplamente discutida durante a 45° Sessão do Conselho dos Direitos Humanos da ONU.

Margarida Izata esclareceu que, tendo em consideração a sua própria experiência, Angola reiterou o seu firme apego ao estabelecimento de processos verdadeiramente transitórios que requeiram a apropriação dos principais intervenientes, incluindo a sociedade civil.

Destacou também que foi com este espírito, após ter aderido em 2019 ao 2º Protocolo Adicional às Convenções de Genebra de 1949 (relativas à Protecção das Vítimas de Conflitos Armados Não Internacionais), que o país instituiu a “Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas de Conflitos Políticos” ocorridos entre 11 de Novembro de 1975 e 2 de Abril de 2002.

Margarida Izata, conforme as ordens superiores (que hoje continuam vigentes mas que – supostamente – deixaram de existir com a chegada ao Poder de João Lourenço) esqueceu-se de levar a memória até 27 de Maio de 1977.

“O seu principal objectivo é dar resposta à violência cometida durante este período sombrio da história angolana e prestar uma digna homenagem às vítimas”, enfatizou.

Em Genebra, Angola participou também no debate relacionado com o “Direito ao Desenvolvimento, como um dos principais objectivos do Programa de Desenvolvimento Nacional (PDN).

Quanto a esta questão, o país concorda com o Relator Especial em relação à atenção que deve ser dada ao ser humano em todo processo que envolve o Direito ao Desenvolvimento, acrescentando que o financiamento a este propósito deve significar as prioridades de desenvolvimento das pessoas e comunidades envolvidas.

“É aqui que o Direito ao Desenvolvimento se encontra com os Direitos Humanos e precisa ser plenamente realizado”, asseverou.

Em resumo, para amenizar (ou até acabar) com as críticas dos EUA e com a falta de investimentos, João Lourenço viu-se obrigado a fazer o que, sem sucesso, os polícias do ministro Eugénio Laborinho queriam que a zungueira assassinada, Raquel Kalupe fizesse: baixar as calças e abrir as pernas.

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