A NOVA ARQUITECTURA COLONIAL DE JOÃO LOURENÇO

Os patriotas de todas as tribos políticas, incluindo os do MPLA, não poderão, até o final de 2027, continuar impávidos e serenos a assistir à implantação de um sistema económico neoliberal escravocrata, na linha de um “novo colonialismo”, que oprime a maioria dos angolanos através do controlo e domínio da maioria da soberania económica. É preciso uma revolução capaz de enveredar o barco para uma independência imaterial.

Por William Tonet

A maioria dos autóctones discriminados, hoje, mais do que nunca, têm a certeza de estarem a ser conduzidos para uma nova colonização e escravidão, capitaneada, infelizmente, por aqueles que se julgava fazerem parte do trio de libertadores.

Nunca foram!

Porquê? Simples! Sem higiene intelectual e patriótica, prestaram-se, desde 1975, ao mais boçal “capachismo” com o único sonho de se substituírem ao colonialismo branco português, adoptando o típico comportamento complexado e assimilado, com os seus hábitos e costumes, dando continuidade à escravidão dos respectivos povos, com a maior desfaçatez.

A maioria da elite do actual Executivo exultou nestes cinco anos e nada denota que nos próximos será diferente, tanto o abjecto complexo, face à adopção cega de um programa económico que atenta contra a ética e moral dos povos e micronações africanas angolanas, que são forçadas a continuar a reconhecer que os ocidentais são seres superiores e, os angolanos devem ser, eternamente, escravos, até porque a cartilha do MPLA não vai em sentido contrário à lógica de alguns dos seus actuais reputados mentecaptos ideológicos.

Hoje, poucos acreditam e muitos duvidam ter o regime um verdadeiro compromisso com a independência imaterial dos cidadãos angolanos e que estes, possam, um dia, vir a deter o controlo maioritário da soberania económica.

As provas estão à mão de semear, ao percorrer-se as principais avenidas e zonas comerciais onde o verbo proprietário e produtos, se conjugam, em árabe, chinês e ocidental, uma míngua insignificante tem a operação de angolanos seleccionados pela corte partidocrata.

Isto significa que seja adepto da xenofobia? NÃO!

Sou adepto do controlo maioritário da economia por angolanos e nunca contra o investimento externo, mas, este deve ser misto: 51% angolano, 49% estrangeiro, para ajudar empoderar o angolano, primeiro escravizado pelo colonialismo português, depois pelo colonialismo do MPLA e, agora pelo colonialismo financeiro árabe/chino/ocidental.

Em cinco anos de mandato, a maioria dos que, ingenuamente, acreditaram poder ser João Lourenço o grande reformador, conciliador e reconciliador de que o país carecia, decepcionaram-se, redondamente.

E a decepção, abraçada com a covardia, teve expressão, quando este sentimento, buscou no silêncio, coragem de, nas urnas, desferir um rude golpe, ao “camarada presidente, trungungueiro e chico esperto”, direccionando o voto para a oposição, que julgam ter maior compromisso, com a conciliação e reconciliação.

A verdade eleitoral da UNITA/FPU/Adalberto da Costa Júnior, conferiu-lhes legitimidade, mas infelizmente, contrariada pela fraude e batota eleitoral, ao alcandorar, pela lei da força das armas bélicas, o derrotado ao poder, mais uma vez.

O regime tem ciência de a sua estrondosa derrota, que levaria João Lourenço a só cumprir um mandato, assentou na multiplicidade de erros, no infantilismo, na perseguição abjecta a José Eduardo dos Santos, até à morte, nos filhos, próximos, mas e, fundamentalmente, na crónica incompetência, raiva, ódio que levaram o país a atingir os mais altos índices de desemprego, inflação, fome, miséria e injustiça.

Depois seguiu-se o falso combate à corrupção, qual fogo de artifício, apenas para perseguir e amedrontar adversários internos e externos, alguns com julgamentos selectivos, ao arrepio da Constituição e da Lei, que consolidaram, também, os índices de reprovação elevados, mesmo depois de ter sido empossado, para um segundo mandato, iniciado, também, sob o signo do tumulto, com a perseguição a Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, iniciada com a emissão de um decreto, ao arrepio do art.º 37.º da CRA (Constituição) ordenando a nacionalização de um matadouro e um aviário.

Pela contundência do documento, pensava tratar-se de um matadouro convencional, igual ao da Kahama ou outros, mundo afora, mas, afinal, não passam de dois simples contentores frigoríficos, adaptados ao abate de gado.

Foi um estardalhaço! Autêntico!

Neste prisma, em causa não esteve, afinal, a defesa do património público, por incumprimento contratual pleno, mas alógica da humilhação e demonstração de força.

Os dois contentores frigoríficos, do ponto de vista jurídico, ainda estão na esfera do Ministério da Agricultura, que importou 16 contentores frigoríficos para serem instalados à razão de dois em oito (8) províncias. Onde andarão os outros é o grande busílis da questão.

No caso destes dois, estavam num perímetro próximo da fazenda de Nandó, correndo o risco de ser engolidos, pela ravina, o Ministério da Agricultura emite um grito de socorro. Em resposta e solidariedade, o ex-presidente da Assembleia Nacional, compactou e pavimentou a área, fez as canalizações de água e luz, protegendo os contentores, tendo, no final, recebido a promessa do ex-ministro, Marcos Nhunga, de poderem obter o direito de preferência numa futura privatização, mas até lá, a gestão ficaria (está, até hoje) a cargo da Valongo, empresa portuguesa…

Como se vê é tudo muito complicado de aferir quando o diálogo poderia ser a mola de resolução do diferendo, mas é mais fácil defender estrangeiros especuladores, como o polaco Thomaz do grupo Boavida, um dos maiores devedores da banca ou o Eduardo Soria, espanhol, contratado para dirigir a TAAG e que ganha o milionário e ofensivo salário mensal de 68 milhões de Kwanzas, com o único objectivo de desmantelar os aviões Boeing, afundar a companhia, mandar milhares ao desemprego e recrutar estrangeiros, sem qualificação.

É a clara falta de higiene intelectual e sentido anti-patriótico, pois este salário, pago a um estrangeiro, que não dá mais valia à empresa, daria para pagar o salário de 200 professores universitários angolanos, com o grau de doutores, à razão de 340 mil Kwanzas/mês e, quando estes reclamam, o Executivo de João Lourenço alega falta de dinheiro (ver quadro abaixo)…

Daí muitos, justa ou injustamente, mesmo no interior do MPLA, considerarem ser João Lourenço três vezes pior do que José Eduardo dos Santos, não se sabendo se, por maus conselhos, aversão a estes ou petulância. Inicialmente, com um discurso populista e o apoio de muitos, iludidos, que não poupavam nos elogios, incluindo membros da oposição, ter-se-á convencido ser o “rei sol” e, agora, que já está blindado pelas Forças Armadas, Polícia e Segurança de Estado, que é o próprio “deus” da “Muxima dos escravos”.

DEMOCRACIA ACORRENTADA

A política não é um batuque para vaidades umbilicais de quem, a dado momento detém o poder ou pretende exercê-lo.

O Presidente da República parece comprometido em desmatar o sonho de milhões de autóctones, por um país plural, com livros, lápis, carteiras e sem fome, onde o angolano seja o senhor das suas riquezas naturais e não escravo do capital estrangeiro

A caquistocracia, “o governo dos piores” parece orgulhar-se da performance, de humilhar, massacrar e assassinar os pobres, agora sob alegação de estarem a “sujar” as cidades vendendo em qualquer lugar.

Sem mente masoquista fácil se entende, que o(a) vendedor(a) de e na rua, são os excluídos de outras formas empregatícias, cujo fomento deveria ser da responsabilidade do Estado.

O programa do executivo não promove a redução da pobreza nem a igualdade social, mas o incremento dos pobres e a sua conversão à condição de escravos e colonizados dos novos senhores da “monarquia partidocrata” e do capital estrangeiro, protegido pelo regime.

Existem “falhas na melhoria da vida dos angolanos, muito pela mudança e abandono do Plano Económico de viés mais social, que visava fortalecer uma classe empresarial forte, com base na criação de empresas mistas (única condição de investimento estrangeiro do programa do MPLA/JES), visando o empoderamento do empresariado angolano”, diferente de nacional (aqui cabe tudo e todos. No angolano não), o combate à fome, miséria e todos tipos de corrupção.

“Os camaradas do MPLA e os angolanos, no geral, não se devem enganar, estamos mais próximos de um golpe de Estado e implantação de uma ditadura lourenciana, agora que no seu primeiro mandato”, disse o membro do MPLA, Maurício Ambriz.

E se esse processo não for interrompido, tenho dúvidas de que haverá alguma instituição, estatal, partidária ou da sociedade civil, que resistirá a esta investida, iniciada com a tomada de posse, sob forte aparato militar, aos 15 de Setembro de 2022, sem que a CNE fosse capaz de contabilizar os votos, confrontando as Actas-síntese, em sua posse com as da oposição, que levantou legítimas suspeições ou ainda o comportamento cúmplice do Tribunal Constitucional, ao tomar sentença adesão, ao partidarizar a decisão final, a favor do “candidato-camarada”, ao invés de exigir, das partes, o escrupuloso cumprimento da Constituição e da Lei, sem o império da fraude e da batota.

Até aqui as acções do Executivo têm sido completamente inócuas e a canibalização da TAAG, por incompetentes expatriados espanhóis, são a mais clara demonstração de nada interessar o emprego e a vitalidade das empresas angolanas de soberania… Aliás, a cumplicidade comportamental do Titular do Poder Executivo, ante os crimes económicos, consubstanciados, também, com a entrega da soberania comercial, ao capital estrangeiro, atiçam ainda mais o sentimento de indignação geral, capaz de, num futuro próximo, elevar o nível de contestação social, no reino da ditadura.

As razões, são claras: Primeiro os analistas desvalorizaram a bicefalia (inicialmente proposta por JES), que poderia ser a mola de equilíbrio, entre os dois principais e crónicos poderes: presidente do MPLA e Presidente da República, em pessoas distintas e, em segundo lugar, João Lourenço e o seu MPLA têm estado a criar uma nova máquina de apoiantes e bajuladores “juniores”, sedentos de poder, cuja sobrevivência, depende da destruição dos adversários, quer partidários, como da sociedade civil.

E isso nota-se, quando João Lourenço fala, exibindo contracções faciais, que destilam raiva e ódio, monitoradas pelos olhos esbugalhados, demonstrativos de “monarquicamente”, não tolerarem oposições.

Há rudeza comunicacional, afasta o cidadão, por a aproximar mais do fascismo, que não se renova, nem com os erros do passado, que culminaram com a “caçada de José Eduardo dos Santos”, estratégia que esteve na origem da derrota eleitoral.

Hoje, ao invés de tirar lições, opta pelo acirrar da divisão interna, com a perseguição de novos camaradas e oposições, transparecendo a convicção de ter vingado a ditadura e tudo que tem a fazer, daqui para frente é alimentar os exércitos “canino” de bajuladores e snipers.

Se da derrota de mais de 50% foi possível com arreganho bélico, sem contestação dos eleitores e oposição vencedora, a manutenção do poder. Na cabeça do regime navega a lógica de tudo se resolver pela força das armas.

Nesta óptica, acredita o regime, apenas falta-lhes aprimorar algumas arestas, para que a “bíblia fascista” seja, institucionalmente, adoptada, uma vez, terem já o controlo e domínio total das polícias políticas que cegamente cumprem as ordens do “chefe”. A recente onda de exonerações e novas nomeações na Polícia Nacional, visou, também, expurgar prováveis contestatários.

Na outra margem, dos poderes, o Tribunal Constitucional presidido por membro do Bureau Político do MPLA, o Tribunal Supremo, capitaneado por um brigadeiro reformado, do MPLA e a Procuradoria-Geral da República, dirigida por um general do MPLA, recebendo pacotes de mordomias, dentre os quais imóveis, móveis, terras, dinheiro, etc.

Vejamos a dinheirama que garante o embargo de processos e o silêncio dos juízes…

Na lógica do assédio político-jurídico, os três órgãos judiciais, blindam, também, cega e subservientemente o Titular do Poder Executivo, garantindo-lhe uma avenida livre, para o cometimento de todos os excessos, que hoje, mais do que ontem, ameaçam a frágil instituição de Estado e a ordem democrática, carente de verdadeiras lideranças, amantes e escravas da pluralidade e liberdades.

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