TPA e TV Zimbo “rendem-se”

As televisões públicas do MPLA, (TPA e TV Zimbo) disseram hoje que vão retomar a cobertura das actividades da UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda permite, depois de terem recebido garantias de protecção dos jornalistas nas suas actividades políticas. Traduzindo, depois de o Presidente do MPLA, João Lourenço, ter dado essas ordens e mandado os seus sipaios da Direcção do MPLA ir dar uma volta ao “bilhar grande”.

O entendimento entre a Televisão Pública de Angola, a TV Zimbo e a UNITA foi alcançado – isto é um eufemismo – numa reunião promovida pelo Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (Minttics), após o Presidente João Lourenço, ter ordenado à TPA e à TV Zimbo para moderarem os decibéis da bajulação ao MPLA.

O Minttics endereçou então um convite à UNITA para ultrapassar o “ambiente de crispação”, sublinhando a necessidade de “criar condições anímicas e de tolerância que restabeleçam o relacionamento profissional entre as partes (…) e em benefício da efectivação plena do direito constitucional de informar e ser informado”.

Em causa estava o anúncio das duas televisões do MPLA (feito em bajulação ao Presidente do partido, João Lourenço) de boicote às actividades da UNITA, enquanto a sua direcção não apresentasse um pedido de desculpas públicas, por uma alegada agressão de jornalistas, durante uma manifestação, no sábado passado, e que levou a TPA e a TV Zimbo a ilustrar a agressão com a imagem de um jornalista guineense agredido, em Bissau, em Março passado.

Em declarações à imprensa no final do encontro, o secretário-geral da UNITA, Álvaro Daniel, disse que os comunicados criaram um clima menos bom para o ambiente político, social e emocional que se pretende, numa altura em que o país caminha para os 46 anos de independência e 20 anos de paz.

“Num momento em que estamos a escassos meses para as próximas eleições, as pessoas querem ir para as eleições tranquilas, num ambiente de aceitação da diferença e de um debate aberto, debate de ideias sobre o que devemos fazer para desenvolvermos o nosso país nas várias vertentes, na economia, na política e da própria democracia em si só”, afirmou Álvaro Daniel.

Segundo o secretário-geral da UNITA, foi transmitido no encontro que “o grande problema não é o mal-estar que se criou com estas duas televisões”, mas sim “um mal-estar que se vem arrastando”, havendo um défice de diálogo que permitiu que as coisas chegassem até esse ponto.

Álvaro Daniel frisou que ficou o entendimento de que as televisões vão continuar a cobrir as iniciativas do partido, porque é um órgão público (em termos de sustentabilidade financeira e privado em matéria de dono – o MPLA) que todos vão trabalhar “para que em casos desses ou de aglomerações, seja preservada a vida dos profissionais e não profissionais”.

“Esta é a garantia que ficou aqui assumida e todos nós vamos trabalhar para isso, direcções das televisões e nós enquanto partido político”, indicou.

Por sua vez, o secretário de Estado da Comunicação Social, Nuno Carnaval, classificou como bastante positivo o encontro, no qual apelou e recomendou aos órgãos para que assegurem a concretização de um direito constitucional, que é de informar e formar os cidadãos, sem distinção dos partidos.

“Devem cobrir as actividades, dar tratamento à informação de todos os partidos políticos, organizações, sociedade civil e sobretudo a programação institucional do Governo”, realçou.

Nuno Carnaval considerou que nesta fase, “um momento sensível”, os órgãos de comunicação social desempenham um papel proeminente, insubstituível, na construção e na consolidação do Estado democrático e de direito.

“Nós registamos esta preocupação e com bastante satisfação a garantia da direcção do partido UNITA da necessidade da salvaguarda da integridade física dos profissionais da comunicação social, de maior empenho e engajamento na interacção (…) para que a comunicação social possa estar cada vez mais plural e isenta naquilo que são as questões inerentes à participação e inclusão e todos”, salientou.

Por sua vez, o director da TV Zimbo, Amílcar Xavier, disse que a decisão de bloqueio às actividades da UNITA foi tomada depois de ouvido o Conselho de Redacção e a Direcção de Informação, tendo sido “os jornalistas indignados que disseram que não mais iriam cobrir actos do género, porque estava em causa a sua integridade física”.

“As garantias foram dadas pela UNITA nesta reunião, houve razoabilidade, bom senso”, referiu Amílcar Xavier.

Já o administrador para a Área de Conteúdos da TPA, Neto Júnior, destacou que o encontro serviu para “derrubar muros e construir uma ponte de diálogo” entre a TPA e a UNITA.

“Mas o fundamental aqui é que estão dadas garantias para que se proteja a integridade física e moral dos jornalistas em contexto de cobertura jornalística em actividade política promovida pelo partido UNITA”, declarou.

“Esta é a garantia que a TPA gostava de ter tido e a tem, passando, como é evidente, a enviar os seus jornalistas para todas as actividades, percebendo que esses jornalistas sairão desta actividade com a garantia da sua integridade física e moral”, acrescentou.

Recorde-se que, por falta de voluntários (mesmo que bem pagos), a TPA e a TV Zimbo (com o canino apoio do deputado João Pinto, do MPLA) tiveram de recrutar a imagem do jornalista guineense Adão Ramalho, que foi espancado no passado dia 12 de Março, em Bissau.

O posicionamento dos sipaios da TPA e da TV Zimbo, no cumprimento das ordens superiores do MPLA, foi transmitido no horário nobre das duas estações televisivas do MPLA (embora, corrobore-se, sustentadas com dinheiro roubado aos autóctones, nomeadamente aos nossos 20 milhões de pobres) com os respectivos autómatos a anunciarem a decisão das administrações dos dois órgãos de abandonarem a cobertura das actividades promovidas pela UNITA, não entrevistar os seus dirigentes, nem militantes ou outros responsáveis do partido e exigindo retractação e desculpas públicas da direcção da UNITA.

Folha 8 com Lusa

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