O Presidente da República angolano, João Lourenço, parte hoje para uma missão nos Estados Unidos da América, durante a qual irá participar na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque. Na mala leva uma enciclopédia de auto-elogios e a prova da sua eficiência governativa, mensurável no (in)sucesso da luta contra a corrupção, na (in)segurança da sua Casa de Segurança, nos 20 milhões de pobres e no êxito da alternância na pasta da Economia – quatro ministros em quatro anos.
A etapa inicial do périplo será em Washington, onde será homenageado pelo seu envolvimento em iniciativas de defesa do Ambiente, refere em comunicado a sua Secretaria de Imprensa.
Na capital norte-americana, o Presidente João Lourenço (não nominalmente eleito) participará segunda-feira na Gala anual da Fundação Internacional para a Conservação do Ambiente (ICCF), evento durante o qual proferirá um discurso na presença de altas figuras da política, locais e estrangeiras, com realce para a presença do Presidente da República da Colômbia, Iván Duque Márquez, e numerosos congressistas.
No mesmo dia, Washington vai acolher uma mesa redonda sobre investimentos em Angola, iniciativa da Câmara de Comércio Estados Unidos da América-Angola, refere o comunicado, adiantando que “no evento sobre negócios, o Presidente João Lourenço falará aos empresários norte-americanos presentes”, mostrando o sucesso das suas apostas onde, por regra, os empresários entram com os dólares e o MPLA (que é o dono do país) entra com a experiência. Depois, os investidores ficam com a experiência e o MPLA (o partido com mais corruptos por metro quadrado) fica com o dinheiro.
No último dia da etapa em Washington, o chefe de Estado irá ao Capitólio para um encontro com a líder do Congresso, Nancy Pelosi.
Faz parte do programa em Washington também uma visita ao Museu de História Afro-Americana, durante a qual está previsto “um encontro com descendentes de escravos idos de Angola há 400 anos e que se estabeleceram na região da Virgínia, tendo tido participação relevante na conformação do que hoje se conhece como os Estados Unidos da América”. Mais exactamente, o que os EUA são hoje devem-no também ao MPLA pois os angolanos de então constituíam já o embrião do partido…
João Lourenço chegará a Nova Iorque na próxima quarta-feira, onde fará o seu discurso na tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas na manhã de quinta-feira, sendo o quinto orador do dia, depois dos líderes da África do Sul, Guiana, Botswana e Cuba.
“Além da participação no debate geral anual da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, o Presidente da República desenvolverá intensa actividade diplomática, mantendo encontros com líderes de vários países presentes em Nova Iorque”, refere o comunicado.
Setembro de 2019. 74ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. A palavra a João Lourenço, com o texto que o Folha 8 publicou na altura:
«O chefe de Estado angolano vai cumprir “uma intensa agenda” durante a sua estada em Nova Iorque participando em eventos ligados à economia, ao clima e à diplomacia, bem como encontros com personalidades relevantes do mundo da política, da alta finança e da filantropia.
O comunicado (da Casa Civil) adianta que vão acompanhar João Lourenço vários ministros, que terão participações em painéis de debate, relacionados com a economia, meio ambiente, desenvolvimento sustentável, universo bancário e financeiro, investimentos, negócios e energia, entre outros.
Na sua primeira intervenção na Assembleia Geral da ONU, e no dia em que celebrava o primeiro aniversário como Presidente, João Lourenço destacou a “experiência única” de Angola na construção de uma paz duradoura, o que pode servir de exemplo para o resto do mundo.
João Lourenço aproveitou o discurso para prestar tributo a “duas figuras da política mundial” e “dois filhos de África”, Nelson Mandela, antigo Presidente sul-africano, e Koffi Annan, antigo secretário-geral da ONU.
“Acreditamos que a experiência de Angola na construção da paz e da reconciliação foi positiva para as Nações Unidas e para algumas regiões do mundo”, afirmou o Presidente angolano.
Centrando-se naquilo que, para si, deveriam ser as prioridades da ONU, João Lourenço chamou a atenção para questões que “podem pôr em causa a própria sobrevivência da humanidade”, como a “fome e miséria” (algo em que o partido de João Lourenço, o MPLA, pode falar de cátedra) o aquecimento global, as migrações em massa, o tráfico humano, a intolerância religiosa e o extremismo” ou “a proliferação e descontrolo das armas nucleares”. Relativamente a este último aspecto, o Presidente angolano reconheceu os avanços alcançados na “desnuclearização da Península da Coreia”.
Elogiando também o papel da ONU (para além do MPLA) no fim do colonialismo”, João Lourenço disse que a organização está ainda “longe de cumprir o que está na sua carta”. Em concreto, o chefe de Estado, presidente do MPLA (partido no governo há 44 anos) e Titular do Poder Executivo falou dos “velhos conflitos ainda por resolver”, como por exemplo, entre Israel e Palestina, cuja solução “só pode ser a de dois Estados a conviverem lado a lado e de forma pacífica”. Por isso, disse, “muitas têm sido as vozes que exigem reformas profundas na ONU”.
Apesar disso, “Angola manifesta toda a sua disponibilidade para continuar a apoiar todos os esforços na promoção da cooperação entre as nações todos de todo mundo e na consolidação da paz”.»
Recordemos, entretanto, o 40º aniversário da admissão da República de Angola na Organização das Nações Unidas, ocorrida no dia 1 de Dezembro de 1976. O acto foi presidido pelo Representante Permanente de Angola junto das Nações Unidas, embaixador Ismael Gaspar Martins, e contou com a participação do representante Permanente adjunto, Embaixador Hélder Lucas, a embaixatriz Luzia Gaspar Martins e funcionários da Missão Permanente.
Na ocasião, o embaixador Ismael Martins descreveu o percurso de Angola desde a luta pela sua independência até à admissão na Organização das Nações Unidas.
Durante a singela cerimónia, decorrida nas instalações da Missão Permanente, o embaixador Ismael Martins exortou os funcionários a continuarem a primar pelo patriotismo e preservação das importantes conquistas do país na arena interna e internacional.
Angola foi admitida como Membro da ONU durante a 31ª sessão da Assembleia Geral, presidida por Hamilton Shirley Amerasinghe (Sri Lanka) e na qual o país participou com uma delegação chefiada pelo então ministro das Relações Exteriores e depois Presidente da República durante 38 anos, José Eduardo dos Santos. A cerimónia foi presenciada pelo ex-Secretário-Geral das Nações Unidas, Kurt Waldheim.
Na altura, José Eduardo dos Santos recordou aos presentes as inúmeras dificuldades enfrentadas pelo povo angolano para alcançar a Independência Nacional, e expressou gratidão aos Estados Membros da ONU que apoiaram esses esforços de liberdade.
Desde a sua admissão na ONU, Angola tem sido um membro activo e interventivo, tendo integrado vários órgãos, com realce para o Conselho de Segurança (2003-2004 e 2015-2016), Conselho de Direitos Humanos e Conselho Económico e Social.
Folha 8 com Lusa