A Edições Novembro, empresa do MPLA que é proprietária – entre outros meios de propaganda do regime- do Jornal de Angola, vai ter em circulação, até aos próximos meses, 11 títulos, entre os quais sete regionais, de acordo com o seu presidente do Conselho de Administração, Drumond Jaime.
A informação foi avançada, em Mbanza Kongo, província do Zaire, durante a cerimónia de celebração dos 45 anos da empresa, que coincidiu com o lançamento do quinto título regional, o jornal Nkanda, que vai cobrir as províncias do Zaire, Uíge e Cabinda. Em circulação estão já o Metropolitano (Luanda), Planalto (Huambo e Bié), Ventos do Sul (Huíla, Namibe, Cunene e Cuando Cubango) e Angoleme (Bengo, Cuanza-Norte e Malanje). Em breve, a empresa prevê lançar um jornal para cobrir Moxico, Lunda-Sul e Lunda-Norte, além de outro para Benguela e Cuanza-Sul.
Consta, aliás, que o MPLA vai passar a oferecer estes meios de propaganda em todos os locais onde os nossos 20 milhões de pobres recorrem à distribuição gratuita de alimentos – as lixeiras.
“Começámos assim, há 45 anos, ainda com o Jornal de Angola, o principal título da nossa empresa. Hoje queremos mais. Lançamos títulos especializados (“Jornal dos Desportos”, “Jornal de Economia e Finanças” e “Cultura – Jornal Angolano de Artes e Letras”), mas estamos, também, empenhados nos jornais regionais.”, referiu o presidente do Conselho de Administração da Edições Novembro.
Drumond Jaime sublinhou que, no caso do jornal “Nkanda” é uma carta que vai registar as realizações das gerações actuais desta região histórica, que engloba o Uíge, Zaire e Cabinda, nos domínios político, económico e cultural, para as gerações vindouras. “É um jornal de todos, onde os empresários, o Governo e a população destas províncias poderão apresentar os seus anseios, projectos e, também, as suas críticas sobre aquilo que vai mal e agradecer o que vai bem”, realçou.
Quinto título regional editado pela Edições Novembro, depois do Metropolitano de Luanda, O Planalto, Ventos do Sul, Angoleme, “Nkanda” significa carta. Trata-se de um título recheado de simbolismo na fixação da memória ancestral do Reino do Kongo, um dos maiores e mais importantes Estados constituídos na África Austral. Com a chegada dos ocidentais, em 1482, começa, no reino, a apropriação massiva da língua e da escrita portuguesa. Dá-se início à fixação da memória do reino e dos seus povos, com um conjunto de Mikanda (plural de Nkanda), que circulavam dentro e fora do reino.
As cartas dos reis do Kongo, que atravessaram os mares do continente e foram até à Europa, umas vezes para balizar os termos do relacionamento entre Estados, outras para reclamar os excessos dos súbditos dos reis ocidentais ou, ainda, para agradecer os apoios, atravessaram os tempos e podem ser encontradas, até hoje, em locais de conservação de memória, desde Luanda a Lisboa, passando por Paris e Nova Iorque. São verdadeiros documentos conducentes ao entendimento de certos fenómenos da vida. De acordo com o PCA da Edições Novembro, Drumond Jaime, o jornal Nkanda é, no fundo, uma “Carta” de “fixação da actualidade, onde ficará marcado todo o esforço das actuais gerações em prol do progresso de uma região bem determinada do nosso país”.
Na primeira edição, o jornal traz, como destaque, uma reportagem ao Centro Histórico de Mbanza Kongo, o único Património Mundial da Humanidade que Angola conseguiu inscrever, até ao momento, na Unesco. Há também entrevistas aos governadores das três províncias (também eles servos vinculados ao MPLA, que é quem os escolhe já que as eleições autárquicas, 45 anos depois da independência, são ainda uma embrionária miragem), que falam das potencialidades, mas também dos desafios e dos projectos para o bem-estar da população, objectivos a concretizar nos próximos 55 anos…
O leitor pode também encontrar histórias como de Gilberto das Neves, que aos 39 anos decidiu seguir os trilhos dos avós e investiu na produção do café no Uíge. Com a sua marca “Tumbwaza”, pretende mostrar o café do Uíge ao mundo. Ainda este ano, o empreendedor pretende apresentar-se na bolsa dos Emirados Árabes Unidos, no Dubai, onde quer organizar uma feira de degustação do café do Uíge. Outra história interessante é de um empresário que, depois de constatar a falta de uma instituição do ensino superior em Maquela do Zombo, decidiu transformar o seu hotel em universidade. Há também relatos de agricultores em Tomboco, no Zaire, que assistem a produção a estragar-se por falta de escoamento e de fábrica de transformação de fruta e de populares que falam do que faz falta nas suas aldeias.
O secretário de Estado para Comunicação Social felicitou a Edições Novembro, por ter trazido ao público leitor (mesmo que funcionalmente analfabeto) mais um jornal, tendo considerado o relançamento da imprensa regional um marco assinalável para facilitar o diálogo, a cidadania e participação dos cidadãos das diversas comunidades do Zaire, Cabinda e Uíge na vida social e política do país.
“O sector da Comunicação Social assume um papel insubstituível na mediação entre os governantes e governados, tomando uma posição de interlocutor directo na difusão de matérias de interesse público aos cidadãos”, disse Nuno Caldas Albino.
O secretário de Estado, que representou o ministro Manuel Homem, disse ser intenção do Executivo levar a informação com pluralismo e isenção a todos os cidadãos do país e desafiou a Edições Novembro a reservar, igualmente, algumas páginas dos jornais regionais para as línguas locais.
“É um marco assinalável para o reforço da expansão da imprensa, através de mais um título que a Edições Novembro coloca à disposição do cidadão comum, das comunidades e da sociedade”, disse, ao mesmo tempo que pediu empenho aos profissionais para que o jornal cumpra os propósitos para os quais foi criado. Propósitos obviamente vocacionados para um jornalismo patriótico, mensurável pelo nível se subserviência ao patrão, o MPLA.
A empresa proprietária do Jornal de Angola e outros títulos decidiu apadrinhar as crianças do Centro de Acolhimento e Formação Frei Giorgio Zullianelo, em Mbanza Kongo, na província do Zaire.
Criado em 2001, o centro tem 80 crianças, dos quatro aos 18 anos. Na visita enquadrada nas celebrações dos 45 anos da empresa, as crianças receberam bens alimentares, bolas e livros, entregues pelo jornalista Rui Ramos.
Na visita, da qual fizeram parte o secretário de Estado para a Comunicação Social, Nuno Caldas Albino, e pela vice-governadora do Zaire para a Área Política, Económico e Social, Fernanda Sumbo Guerra, ficou a promessa de a empresa Edições Novembro passar a acompanhar com a atenção necessária a evolução do centro e das crianças que ali vivem, que precisam de carinho e amparo para crescerem saudáveis e poderem contribuir para o desenvolvimento económico e social do país.
Um dos pontos altos da estada da delegação da Edições Novembro em Mbanza Kongo, foi a visita ao Lumbu, um tribunal tradicional situado no espaço contíguo ao Museu dos Reis do Kongo, onde recebeu a bênção dos representantes da corte real. A visita estendeu-se, também, ao “Kulumbimbi”, primeiro templo da Igreja Católica construído em África a Sul do Sahara.
A par da bênção, os visitantes, incluindo Nuno Caldas Albino, foram informados pelo coordenador do núcleo das autoridades tradicionais do Lumbu, Afonso Mendes, dos principais problemas que afectam as populações locais, em particular no sector da Comunicação Social, nomeadamente a limitação de circulação dos títulos da Edições Novembro, reduzido alcance do sinal da Televisão Pública de Angola (TPA) e da Rádio Nacional de Angola (RNA)
Afonso Mendes encorajou o Conselho de Administração da Edições Novembro a prosseguir com a edição de jornais regionais, para que as populações locais possam ter acesso a uma informação variada e equilibrada, sobre questões de interesse público.
Os membros da delegação da Edições Novembro ouviram, igualmente, histórias curiosas sobre a árvore milenar “Yala Nkuwu”, que, segundo relatos dos nativos, quando lhe é feito um corte, jorra uma seiva vermelha que se assemelha ao sangue.
As comemorações dos 45 anos da Edições Novembro coincidiram com o 4º aniversário do jornal Metropolitano, que trata de aspectos ligados à capital do país. Único jornal no país dirigido por uma mulher, a jornalista Rosalina Mateta, o Metropolitano foi lançado no dia 26 de Junho de 2017 para abordar, com mais profundidade, os assuntos de Luanda que mais interessem ao MPLA.
Em representação do governador provincial do Zaire, Makita Armando Júlia, a vice-governadora para o sector Político, Económico e Social, Fernanda Sumbo Guerra, disse que o surgimento deste título representa uma nova página na vida da população que habita a região Norte do país.
Fernanda Guerra manifestou a convicção de que o jornal Nkanda vai dar mais visibilidade à região, que tem potencialidades que precisam de ser divulgadas para a captação de mais investimentos. Ao mesmo tempo, solicitou mais abordagem dos problemas das comunidades.
Para a vice-governadora, o jornal Nkanda vai servir de veículo para partilha de conhecimentos e divulgação do grande acervo cultural e turístico, além dos problemas e desafios da província.
Folha 8 com Jornal de Angola