Jovens manifestantes angolanos (ou seriam do ISIS-K?) queixam-se de terem sido impedidos pela Polícia Nacional (do MPLA) de se concentrarem hoje defronte à Assembleia Nacional (Parlamento, do MPLA), onde pretendiam “exigir justiça e transparência” na discussão das leis de alteração ao pacote eleitoral em Angola.
Mais de 20 jovens activistas (certamente – a fazer fé no histórico comportamento do MPLA – “perigosos terroristas”) dizem que não lhes foi permitido chegar junto do portão sul da Assembleia Nacional, a entrada principal, onde pretendiam concentrar-se em protesto contra o diploma eleitoral em discussão pelas comissões de especialidade.
Hoje, contrariamente aos dias anteriores, a Polícia Nacional (sucursal do MPLA desde que foi criada) montou um extenso cordão de segurança em todo o perímetro da Assembleia Nacional e locais adjacentes, incluindo efectivos da brigada de cavalaria e agentes à paisana. É que, tal como faz parte do ADN do MPLA, não importa a força da razão mas apenas e só (lembram-se dos massacres de milhares de angolanos no 27 de Maio de 1977?) a razão da força.
A 200 metros da entrada principal da sede da Assembleia Nacional, os órgãos de informação presenciaram a detenção de várias pessoas e acções de revistas e interpelações, sobretudo de jovens que ali circulavam.
Cidadãos que por ali passavam lamentaram as detenções de vários activistas considerando que a corporação estava a passar uma “imagem muito feia” à sociedade.
Em declarações aos jornalistas, o jovem activista Joaquim Manuel (talvez tenha sido… confundido pela Polícia Nacional como um perigoso líder do ISIS-K, o Estado Islâmico do Curdistão, ou Daesh-K) condenou a interdição da marcha dos manifestantes que se dirigiam à sede do Parlamento, queixando-se de alguma “petulância” por parte de efectivos da Polícia angolana no local.
“A Polícia está mais uma vez a interditar a nossa marcha, pretendemos chegar até ao portão sul da Assembleia Nacional para podermos efectivar a realização da nossa manifestação que visa exigir aos nossos deputados que votem uma lei justa que possa garantir eleições transparente no nosso país”, afirmou Joaquim Manuel.
Mas “na verdade”, indicou, “a Polícia está aqui já de forma petulante e inclusive um dos agentes tentou disparar contra nós”, realçou o activista. Só tentou? Ainda vai ser exonerado…
O activista Nelson Adelino Dembo “Gansgta”, que se viu igualmente impedido de chegar defronte à Assembleia Nacional (que, como se sabe, é propriedade privada do MPLA), classificou a pressão e o impedimento policial como uma violação sistemática dos direitos fundamentais dos cidadãos. Mas, afinal, desde quando é que os cidadãos angolanos têm direitos e não apenas deveres, como quaisquer bons escravos que são?
“Estamos a ser impedidos numa distância de quase 200 metros, então isso é contra aquilo que é legitimado pela Constituição, há um atropelo sistemático, imagine-se em 300 metros já somos impedidos o que é que significa aquilo que se vai aprovar lá”, questionou o activista.
Os deputados simularam hoje a discussão, nas comissões de especialidade, do projecto de lei orgânica de alteração à lei orgânica sobre as Eleições Gerais, iniciativa do grupo parlamentar da UNITA (partido a oposição que o MPLA ainda permite), o projecto de lei que altera a Lei Orgânica das Eleições Gerais, iniciativa do grupo parlamentar do MPLA (organização que, por ter comprado o reino em 1975, é a sua proprietária exclusiva) e o projecto de lei de alteração da Lei do Registo Eleitoral Oficioso, iniciativa do MPLA.
A discussão dos referidos diplomas tem merecido acesos debates entre os deputados, que procuram consensos com vista às eleições gerais previstas (não mais do que isso) para 2022.
Para o activista Gangsta, a aprovação de leis eleitorais traduz-se na “aprovação do futuro” de Angola: “Mas um futuro manipulado, e que vai montar ou se encaixar dentro daquele quadro da política de manutenção do poder, esse é o único objectivo”.
“Porque se podemos implementar o PIIM (Plano Integrado de Intervenção nos Municípios) a nível dos municípios, porque é que não podemos fazer a contagem dos votos a nível dos municípios?”, questionou ainda o activista. Simples. Porque o MPLA não quer. E não quer porquê? Porque, como se sabe, o MPLA é Angola e Angola é do MPLA.
Efectivos da Polícia do MPLA mantiveram-se durante horas em grande número defronte da sede do Parlamento e nas principais vias de acesso e secundárias que circundam o edifício.
Será que quem não é do MPLA é do ISIS-K?
O ISIS-K é o mais extremista e violento de todos os grupos militantes jihadistas no Afeganistão, tendo também presença no Paquistão. Provavelmente o MPLA deve ter informações (talvez oriundas de algum sipaio dissidente da UNITA) de alguns dos seus elementos integram o “núcleo duro” de Adalberto da Costa Júnior.
Foi criado em Janeiro de 2015, no auge do poder do Estado Islâmico no Iraque e na Síria, antes do seu autoproclamado califado ter sido derrotado e desmantelado por uma coligação liderada pelos EUA.
O ISIS-K recruta tanto jihadistas afegãos como paquistaneses, especialmente membros desertores dos talibãs afegãos. O grupo está sediado na província oriental de Nangarhar, perto de rotas de tráfico de drogas e de pessoas dentro e fora do Paquistão.
No seu auge, contavam com cerca de 3.000 combatentes — mas foram registadas baixas significativas em confrontos. As últimas estimativas apontam para um mínimo de 500 a alguns milhares de combatentes, de acordo com a ONU.
Este grupo tem sido responsabilizado por algumas das piores atrocidades dos últimos anos: ataques a escolas, hospitais e até uma maternidade onde alegadamente mataram a tiro mulheres grávidas e enfermeiras.
Ao contrário dos talibãs, cujo interesse está confinado ao Afeganistão, o ISIS-K faz parte da rede global do Estado Islâmico que procura levar a cabo ataques contra alvos ocidentais, internacionais e humanitários, onde quer que estejam.
O ISIS-K tem grandes diferenças com os talibãs, acusando-os de abandonar a Jihad — a guerra santa — e o campo de batalha a favor de um acordo de paz negociado com os EUA, com vista a regalias.
Por isso, os militantes do ISIS-K representam agora um grande desafio de segurança para o novo governo talibã, algo que a respectiva liderança partilha em comum com as agências ocidentais de inteligência. Por outro lado, estes grupos apresentam grandes diferenças quanto à estratégia dos seus actos, bem como ao nível teológico.
Além disso, os dois grupos têm ligação através de uma terceira organização, a rede Haqqani, ligada ao movimento talibã. Khalil Haqqani, homem responsável, da parte dos talibãs, pela segurança em Cabul, é apontado como o líder desta rede.
Folha 8 com Lusa