SE NEM OS CABINDAS SE ENTENDEM…

A inconsistente hipocrisia e o difícil posicionamento dos Cabindas na cena política angolana e internacional são os males que nos impedem de sair do atoleiro político que herdámos dos pais fundadores de movimentos de luta pela libertação do nosso território, males que temos sustentado e que corremos o risco de, se já não é o caso, passar para a geração mais jovem.

Por Osvaldo Franque Buela (*)

Não consigo entender que num momento em que estamos a aproximar-nos inexoravelmente das eleições de todas as apostas, eleições cujos perigos já estão a ter um impacto muito forte no clima político nacional, nós os Cabindas estamos a dormir de pé enquanto os angolanos estão a remodelar e recompor alianças políticas para os desafios de amanhã.

Depois do tumulto que todos temos observado entre o cancelamento do congresso da UNITA e a reeleição do seu presidente por um novo congresso, o que aprendemos como lição política, já que estes dois (MPLA e UNITA) gigantes da política angolana têm uma influência considerável na nossa vida política, como cabindas que aspiram à liberdade e ao desenvolvimento? NADA!

Queridos irmãos, neste momento em que todos os olhares da comunidade internacional estão virados para Angola em relação ao futuro anti-democrático do MPLA, o nosso posicionamento na cena política angolana e internacional deve ser bem visível para que estes olhares da comunidade possam realmente olhar para nós como um povo genuinamente oprimido, com um desejo sincero de liberdade.

Não podemos ao mesmo tempo aplaudir quando alguns dos nossos irmãos se juntam à UNITA e ao mesmo tempo amaldiçoar os que se juntam ao MPLA. Temos de sair desta imprecisão política que consiste em nos posicionarmos como associações ou movimentos políticos da oposição angolana sem ser da oposição.

Devemos em todas as circunstâncias manter a própria essência da nossa luta inicial e defender a nossa identidade vitalícia, ou seja, permanecermos para sempre uma corrente ou um movimento de luta pela libertação do território de Cabinda nas mãos de Angola.

A nossa crónica indefinição continua a dividir-nos entre aqueles que pensam que o caminho é a independência, lutando de armas nas mãos (que sempre foi a favor do MPLA desde 1975 e que destrói-nos como povo), enquanto outros acreditam no posicionamento nos partidos políticos angolanos, (sem grandes efeitos produtivos) e outros que optaram como lazer, a política de dividir e difamar todos aqueles que pensam diferente.

É nesta infame indefinição que nos caracteriza encontramos aqueles que pensam que os verdadeiros Cabindas são aqueles que vivem e sofrem em Cabinda, que os da diáspora são estrangeiros oportunistas, e na maioria das vezes aplaudem aqueles que se juntam à UNITA xingando aqueles que optam por aderir no MPLA, por motivos não menos distintos entre si.

MAS QUEM SE BENEFICIA COM AS NOSSAS DIVISÕES

Nesta jogada geopolítica pela sobrevivência, o MPLA, embora fraco e dividido pela ganância de João Lourenço, entendeu o jogo e rapidamente renovou o contrato Chevron em Cabinda por mais vinte anos.

Quanto ao nosso actual estado de integração forçada em Angola, continuamos a brilhar através de brigas internas desnecessárias em vez de nos apoderarmos do quadro jurídico que traz a assinatura de Angola, nomeadamente a redefinição do Memorando de Entendimento do Namibe por um diálogo inclusivo, a reestruturação do FCD e sua recuperação das mãos de uma liderança mafiosa e politicamente improdutiva há 15 anos.

A situação é séria queridos irmãos, se não tomarmos as boas decisões colectivas, se os nossos lideres não se comprometerem seriamente a quebrar este ciclo de imobilidade, o que então nos serviu para ter criado a união dos movimentos independentistas de Cabinda para a criação da FLEC em 1963, para reduzi-lo hoje nesta mediocridade política?

Devemos acabar definitivamente com este triste espectáculo de nos atacarmos quando nosso único objectivo é lutar pela recuperação de nossa soberania e pelo bem-estar de nossa população.

As infelizes intrigas nas redes sociais e essa reconciliação enganosa entre indivíduos mafiosos e de baixo moral dentro da FCD são uma vergonha.

Essas pessoas sem moral política, roubaram sem a menor preocupação colectiva, todos os bens que o governo havia disponibilizado para o bom funcionamento da FCD. Os seus esforços são apenas para sequestrar a organização e torná-la uma fonte de estabilidade social para seu próprio bem-estar.

Estes indivíduos sem moral política mostraram os seus limites e, como humanos, já deram o que tinham para dar, mas sem resultados tangíveis 15 anos após a assinatura do memorando do Namibe. Se ainda tivessem um pouco de humanidade, já teriam entendido que é hora de virar a página e deixar que aqueles que ainda podem contribuir com algo para este dossier o façam.

Como é que pessoas que deveriam encontrar soluções por consenso e fazer melhorias no FCD, podem continuar a liderar quando pensam apenas em seus próprios estômagos?

SERA QUE NOSSA LUTA NA VERDADE É UMA SIMPLES ILUSÃO POLÍTICA FORA DO TEMPO?

Esta é uma pergunta, francamente que gostaria de fazer aos vários líderes das FLEC’s, e de outros movimentos que lutam por Cabinda, quando vejo o nível de bloqueio, imobilidade, letargia e ignorância política (de certa forma) que enfraquece e rejeita todos tipos de iniciativas capazes de mudar as coisas e permitir um verdadeiro diálogo entre cabindas para a emergência de uma liderança credível, para não dizer um interlocutor válido do povo.

Sim, já não sou o único a acreditar e a pensar que voltámos ao ponto em que já não temos um interlocutor válido para nos defender, todas as manhãs um indivíduo se levanta e se permite falar em nome do povo de cabinda, o que há de sério em tudo isso?

Tenho a sensação de que cada vez que surge uma oportunidade para fazer algo colectivo, surge um individualismo maligno para destruir os esforços uns dos outros, porque a iniciativa não vem de nós. Por que então a continuar a mentir às pessoas que nós as enganamos, empurrando-as para pegar em armas e ir nas matas, dizendo que estamos a lutar para libertá-las, para libertá-las de quem e de quê? Do nosso egoísmo ou da nossa ganância.

Às vezes somos muitos a pensar de que a alegada luta por Cabinda é uma ilusão, uma miragem. Quando vejo hoje, que certos militares e outros políticos Cabindas acomodados no exército e em certas administrações angolanas a assumirem cargos vazios, aqueles que diziam estarem a lutar e a se sacrificar pela causa, devemos ter vergonha…

É assim que passaram anos a mentir ao povo que faziam guerra aos angolanos do MPLA por um objectivo comum?

Será que vocês tem a mesma impressão como eu de, como se toda essa história tivesse sido inventada apenas para levar pessoas nas matas em benefício de um certo número de oportunistas?

Se o objectivo era apenas cargos, por que é que não se filiaram no partido criminoso ou no governo dos marimbondos muito antes? Em vez de sacrificar famílias nas matas a perder tempo fazendo essa figura hoje?

Ainda me lembro do Presidente Nzita Tiago que uma vez me disse, repito: “Os piores Cabindas são os que vêm da FLEC, porque eles próprios é que irão destruir a FLEC, por que as suas ambições não trarão soluções para a maioria, nem lutaram pela causa de todos….

(*) Activista e refugiado político na França

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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