O comunicado do Bureau Político do partido que está no Poder em Angola há 45 anos, o MPLA, em relação aos incidentes de Cafunfo, nos quais a UNITA diz terem sido mortas 23 pessoas, enquanto a polícia fala em seis, revela um partido que continua sem soluções, para responder aos principias problemas sociais, afirmam todos aqueles que, ao contrário das ordens superiores do MPLA ainda têm coluna vertebral e se recusam a transferir o cérebro para os intestinos.
Por Orlando Castro (*)
As críticas estendem-se ao facto de o MPLA levantar questões xenófobas, discriminatórias e racistas contra o líder do principal partido da oposição que o MPLA ainda permite (não se sabe se por muito tempo), Adalberto da Costa Júnior, que, para vastos sectores da opinião pública, fazem parte de um jogo político não eficaz num país que, supostamente, adoptou o Estado de Direito e Democrático.
Florindo Chivucute, da organização não-governamental Friends Of Angola (FoA), considera ser uma estratégia política com o intuito de desviar as atenções das mortes de Cafunfo, mas que em nada se justifica por atropelar a ética que se exige no exercício da política e também na harmonia no jogo político, isto se Angola fosse o que ainda não é – Estado de Direito e Democrático.
O activista vai mais longe ao chamar a atenção das lideranças políticas para um maior cuidado e responsabilidade no discurso, sobretudo neste período pré-eleitoral que pode resvalar para cenários dramáticos para a sociedade. Ou seja, pode resvalar para onde o MPLA quer que resvale, seja para 1992 ou até mesmo para Maio de 1977.
Por isso, advoga, é importante que este tipo de comentários seja repudiado pelo próprio Presidente da República e do partido, João Lourenço, que é quem formalmente manda no MPLA, pelos dirigentes do partido dos camaradas e pela sociedade civil para se evitar mais problemas que já não são poucos na sociedade angolana.
A narrativa da falta de seriedade e estratégia política é também apontada pelo coordenador da organização não-governamental OMUNGA.
Joao Malavindele teme que este jogo baixo (dir-se-ia putrefacto) possa beliscar um país que quer ser democrático e que é internacionalmente apresentado como tendo, e tem mesmo, vários partidos mas que, de facto, é de parido único – no caso o MPLA.
Por seu lado, a UNITA classifica de “ataques xenófobos e racistas” o conteúdo do comunicado do Bureau Político do MPLA que, recorde-se, até há muito arregimentou para esta causa alguns sipaios conhecidos, como David Mendes (ex-deputado da UNITA) e Susete Antão uma “coisa” hermafrodita (formalmente presidente da Casa do MPLA em Portugal).
O partido considera de “baixaria” os supostos ataques à figura do seu presidente e lembra que, devido ao conflito armado, muitos dirigentes, incluindo personalidades do partido governante, viram-se forçados a obter duas ou mais nacionalidades, como aconteceu com Adalberto da Costa Júnior, que, prontamente, renunciou à sua segunda cidadania.
O porta-voz da UNITA, Marcial Dachala, minimiza os ataques do MPLA e encoraja os angolanos a continuarem a reivindicar pelos seus direitos. É claro que quem não tem, nem quer ter, força para fazer a “guerra”, tem de minimizar os ataques. Ao contrário de outros tempos, a UNITA está desde 2002 a ir de derrota em derrota até à derrota final. Antes ia de derrota em derrota até à vitória final. Mau grado Marcial Dachala saber que a UNITA não tem a razão da força mas tem a força da razão, rende-se à lagosta… não vá o MPLA decidir pôr os seus dirigentes a comer mandioca ou, até, farelo.
Entretanto, no comunicado, o MPLA refere que quer uma Angola onde impere um verdadeiro Estado Democrático de Direito, onde prevaleça o primado da lei, onde se respeitem as instituições do Estado, onde se respeitem os símbolos nacionais e os mais nobres valores da cultura e da história do país. Daí, recorde-se, ter como único herói nacional o assassino e genocida que foi o primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto.
Acrescenta que pretende uma Angola onde os eleitores não sejam surpreendidos com líderes políticos sem escrúpulos, que afinal são cidadãos estrangeiros e por isso executam uma agenda política contrária aos interesses de Angola e dos angolanos. Luvualu de Carvalho não diria melhor.
Na verdade, os parentes mais próximos dos dirigentes do Bureau Político do MPLA também não são originários de Angola, podendo ser considerados estrangeiros. Está cientificamente provado que esses avoengos se distinguiam pelas pernas relativamente longas, lábios cor-de-rosa e rosto moreno, que se encontravam numa área de cerca de 500 000 quilómetros quadrados da Bacia do Congo, na República Democrática do Congo, sendo popularmente conhecidos pelos seus altos níveis de comportamento sexual, relações tanto heterossexuais quanto homossexuais para apaziguar os conflitos e adquirir status social.
Recorde-se que o deputado David Mendes, putativo militante do MPLA e eventual integrante do executivo do MPLA, afirmou em Novembro do ano passado que o seu problema não era com a UNITA, mas sim com o seu líder, Adalberto da Costa Júnior.
Em Agosto de 2008, o Jornal de Angola guinchou com todos os decibéis disponíveis, dizendo que “Fernando Heitor, com tiques savimbistas de triste memória, com esgares de Jack o Estripador, também falou de milhões de dólares desaparecidos no pântano da corrupção. Heitor e a UNITA devem saber para onde foram os biliões de dólares dos diamantes de sangue”.
Mesmo sem ter frequentado as aulas de educação patriótica, o ex-deputado da UNITA resolveu em 2017 saltar a barricada e passar-se para o lado do MPLA. Não está em questão saber o montante da compra mas, apenas, esperar o que vai dizer o Jornal de Angola sobre essa comprada conversão.
Ainda segundo o Jornal de Angola, “Fernando Heitor, no seu discurso, ainda escorria umas gotas de raiva pelos cantos da boca. Um rapaz desempoeirado apareceu com a camisola do MPLA, disse que “o dinheiro é nosso” e despiu a camisola. Ficou nu da UNITA para cima. O dinheiro dos diamantes de sangue voa baixinho, como o galo negro”.
Pois é. Mas, em 2020, o comportamento de Fernando Heitor foi purificado e o ex-deputado (como outros ex-altos dirigentes da UNITA) passou de besta a bestial. É claro que Fernando Heitor não estava preocupado. Os valores são outros e, como esperado, passou a dizer cobras e lagartos de Jonas Savimbi e acrescentar que nunca ouviu falar dos princípios do Muangai.
Para evitar assassinar os dirigentes que restam à UNITA, o MPLA optou por oferecer e prometer tudo a todos: cargos, carros, motas, bicicletas, comida, bebida, dinheiro etc.. Conseguiu até compram deputados da oposição interna, jornalistas, políticos e magistrados estrangeiros, no caso portugueses…
20 milhões de pobres arrotam à fome
Enquanto Angola for do MPLA e o MPLA for Angola, o MPLA vai continuar a ganhar todos os simulacros eleitorais que por cá se realizarem e sempre com larga vantagem. Se fosse para perder nem simulavam eleições. Todos, a começar pelos angolanos, sabem isso. Quando 20 milhões de pobres arrotam à fome, chega-lhes à boca a solução: votar no regime.
O resultado das eleições de 23 de Agosto de 2017 deram, apesar de tudo, um importante resultado à UNITA e à CASA-CE. Embora derrotados, esperava-se que já tivessem dado sinal claro que, desta vez, não deixariam que os donos da verdade em Angola, bem como os seus congéneres mundiais, com Portugal à cabeça, fizessem de nós estúpidos.
Os angolanos merecem mais respeito. Mas não. Já estão a preparar o Povo com o engodo de uma desforra em… 2022. Até lá, toca a viver à grande e à MPLA.
Há muito que o MPLA, com o apoio de uma vasta máquina internacional, quer policial quer propagandística, prepara o terreno para a sua perpetuação no poder. Usa, volta a usar, sobretudo duas técnicas: comprar e intimidar. Dos tribunais à CNE, das Forças Armadas à Polícia, da Sonangol aos órgãos de comunicação do Estado, dos governadores provinciais aos sobas, tudo está como sempre esteve e estará, controlado ao milímetro.
Tendo garantido a cegueira da comunidade internacional, para quem o essencial não é haver eleições livres mas, apenas isso, haver quem vá votar, o MPLA volta a facturar como quer, onde quer e sempre que quer. O mundo volta a estar preparado, quase sempre comprado, para reconhecer a vitória do MPLA, até mesmo antes de ela acontecer.
Portugal, e tanto faz que o primeiro-ministro seja Passos Coelho ou António Costa, que o Presidente da República seja Cavaco Silva ou Marcelo Rebelo de Sousa, está sempre pronto para reconhecer a vitória do MPLA e para enaltecer a democracia angolana.
O nível de bajulação de Portugal ao regime do MPLA é de tal ordem que, se calhar a bem do reino das ocidentais praias lusitanas, até ficaria bem que o texto encomiástico fosse escrito pelo MPLA e fosse a Lisboa apenas para nele ser colocada a assinatura ou a… impressão digital.
Que as eleições nunca serão nem livres nem justas, todos sabem embora só alguns o digam. Em 1992 já Jonas Savimbi alertava o mundo para essa técnica ancestral dos regimes ditatoriais.
A Oposição vangloria-se (justamente) com o bom resultado conseguido em 2017. Já terão parado para pensar que tiveram a percentagem que o MPLA quis e que, mantendo uma folgada maioria, lhe permite dar um ar de democracia “séria”?
Sendo, como tem acontecido desde a independência, mais papistas do que o papa, os homens do MPLA mostraram serviço ao soba maior, acelerando o processo de manipulação e de compra de votos.
Os especialistas internacionais avisaram o regime que moderasse a amplitude da vitória, seguindo mas não copiando totalmente os resultados eleitorais dos seus mais emblemáticos faróis políticos – Coreia do Norte e Guiné Equatorial. Mesmo assim, a oportunidade de mais uma vez humilharem os adversários, sobretudo os da UNITA (considerados em muitos círculos do poder como uma subespécie de angolanos), ainda deu os seus frutos.
A comunidade internacional aproveitou para voltar a fornecer mais uns quilómetros de corda ao regime do MPLA. Corda essa que, mais uma vez, o MPLA irá usar para enforcar os angolanos de segunda mas também os estrangeiros. Só não vê quem não quer, que os donos do poder em Angola estão-se nas tintas para o chamado modelo ocidental de democracia.
Quanto à UNITA, o Galo Negro voltou a não voar e, mais uma vez, foi apanhar café às ordens dos senhores coloniais. O mesmo se passou com a CASA-CE.
Tirando os conhecidos exemplos da elite partidária, todos aqueles que humildemente ainda são simpatizantes da UNITA e da CASA-CE, incluindo milhares dos que andaram a combater, vão continuar a apanhar café, ou algo que o valha.
Muitos angolanos pensaram que os discípulos de Jonas Savimbi prefeririam a liberdade de barriga vazia do que a escravatura de barriga cheia. Ledo engano.
A UNITA, ou seja – os seus dirigentes, teima em confundir as esquinas da vida com a vida nas esquinas. Continua a preferir ser assassinada pelo elogio do que salva pela crítica. E quando assim é… não há memória que a salve, nem mesmo a do Mais Velho.
Lamenta-se, por isso, que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro.
Também é pena, importa continuar a dizê-lo, que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.
Os portugueses têm um velhinho ditado popular que diz: “quem vai para o mar avia-se em terra”. Em Angola, a UNITA e a CASA-CE criaram um outro: “quem vai para os negócios avia-se no MPLA.”
(*) Com VoA