Para o MPLA, governar é… destruir a UNITA

A UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite (não se sabe por quanto tempo) que exista em Angola, acusou hoje o Governo do MPLA (que só está no Poder há 45 anos) de ter “um plano para acomodar os que se oferecem em diabolizar” o seu líder, afirmando que combater Adalberto da Costa Júnior “é a sua única agenda de governação”. Isto, acrescente-se, para além do apoio ao mercado imobiliário já que cada sipaio da UNITA que diga mal do seu líder poderá ser gratificado com uma casa.

Segundo o presidente do grupo parlamentar da UNITA, Liberty Chiyaka, “os angolanos estão preocupados” porque “o Governo não está a governar e está sem agenda de governação”. Errado. Para o MPLA, governar é fazer tudo para que a UNITA nunca seja governo. Aliás, nessa estratégia estará com certeza outras duas regras de ouro do MPLA: 27 de Maio de 1977 e concluir o “processo” de extinção da UNITA iniciado em 1992.

“A agenda do Governo é combater o líder da UNITA”, acusou o deputado do partido do “Galo Negro” numa declaração política na abertura da sétima reunião plenária extraordinária da quarta sessão legislativa da quarta legislatura do Parlamento do MPLA.

“O nosso Governo nem sequer consegue ter um plano para a limpeza da nossa cidade capital que tanto amamos, com enormes focos de lixo, nas ruas, passeios e estacionamentos, mas tem um plano para acomodar aqueles que se oferecem em diabolizar o líder da UNITA”, disse.

Adalberto da Costa Júnior, presidente da UNITA, tem sido alvo de diversas acusações veiculadas em órgãos públicos (ou seja, do MPLA) de comunicação social e nas redes sociais, na sequência de posicionamentos públicos de alegados militantes deste partido.

Os deputados angolanos discutiram e aprovaram hoje vários diplomas legais, numa sessão em que foi também empossado um membro indicado pela UNITA, Lourenço Bento António, para a sucursal (mais uma) do MPLA que dá pelo nome de Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA).

Liberty Chiyaka congratulou-se com a posse do novo membro da ERCA e enalteceu o papel que está a ser desempenhado pela Comissão de Carteira e Ética dos Jornalistas, mas apelou às duas entidades para “reflectirem profundamente sobre a regressão da liberdade de imprensa”.

“Pluralidade e respeito pelo contraditório. Angola desviou-se do rumo e encaminha-se para uma nova República que não é democrática”, sublinhou.

Numa intervenção eminentemente “pan-africanista”, na sequência das celebrações do Dia da Libertação da África Austral, assinalado na terça-feira, Chiyaka apresentou a sua visão sobre uma África desenvolvida, democrática, próspera e respeitada pelo mundo.

Para o líder parlamentar da UNITA, as lideranças africanas “falharam” e “África falhou, o colonialismo foi substituído pelo autoritarismo, a subjugação dos povos foi substituída pela corrupção das elites”.

Os propósitos das lutas pelas independências em África, os desafios de Angola, da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, sigla em inglês) e da União Africana foram também assinalados pelo político da UNITA.

O deputado recordou que África lutou pela democracia, igualdade política e jurídica, exercício pleno da cidadania, pela soberania dos povos, mas hoje grassam pelo continente a fome, pobreza, autoritarismo, injustiça social, racismo, tribalismo, entre outros.

Instituições democráticas fortes, infra-estruturas de qualidade, consciência de serviço público temporário e continuidade da acção do Estado, cultura de trabalho, rigor, excelência, investigação, democracia, respeito pelo Estado de direito e boa governação foram apontados pelo político como alguns dos “pilares para o desenvolvimento sustentável” de África.

“África precisa de líderes com sensibilidade humana (…). Sem sensibilidade humana não se pode governar, África precisa de líderes que governam e não líderes que fazem gestão do poder, precisa de líderes com visão, integridade, grandeza moral e ética”, defendeu.

“Temos tudo para realizarmos os nossos sonhos, os sonhos adiados”, afirmou Chiyaka, considerando que o continente africano, com um povo maioritariamente jovem e subsolo potencialmente rico, “precisa de renascer”.

“Por isso o nosso apelo à União Africana: “Transformemos a união de chefes de Estado em união dos povos africanos, portanto uma verdadeira comunidade”, rematou.

A UNITA também afirmou que a situação política do país é hoje marcada pelo “recrudescimento dos atentados à paz e ao Estado de direito e democrático”.

Numa declaração política, lida pelo porta-voz da UNITA, Marcial Dachala, numa conferência de imprensa em Luanda, o partido defendeu que a situação que marca actualmente a vida política do país “constitui um assinalável recuo na construção de uma pátria unida e para todos”.

“Hoje, trinta anos depois dos Acordos de Bicesse, os angolanos constatam que o partido-Estado continua a manifestar a mesma natureza divisionista, antipatriótica, corporativa, corrupta e corruptora”, foi referido.

Segundo a UNITA, “a prática de monopolizar e utilizar os espaços e bens públicos para benefício do partido-Estado e seus agentes corruptos, bem como para diabolizar e inviabilizar a acção dos seus principais adversários políticos continua na ordem do dia, subvertendo a ordem jurídico-constitucional instituída”, sublinha-se no documento.

“Assim, em pleno ano pré-eleitoral, os órgãos de comunicação social do Estado, pagos com dinheiros de todos nós, foram instruídos e elegeram o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, como alvo a abater”, salientou. E se não resultar entrarão em cena Eugénio Laborinho, Paulo de Almeida e outros mercenários.

De acordo com a UNITA, “felizmente”, os angolanos começam a perceber que “o regime oligárquico que capturou o Estado para roubar Angola e empobrecer os angolanos, após sinais de regeneração em 2017, está hoje em decadência, desorientado e com medo da alternância”.

“Os angolanos estão convictos que o regime actual chegou ao seu fim e já não tem soluções para os graves problemas do país, nem já para a recolha de lixo em Luanda tem solução”, realçou, no documento.

Para a UNITA, promover a difamação e o assassínio de carácter dos promotores da mudança são actos de claro desespero, que não dignificam a democracia, e que “não vão impedir a alternância democrática em 2022”.

Do porta-voz do MPLA à voz da porta do MPLA

O MPLA (que só está no poder há 45 anos) reconheceu hoje que muitas empresas e cidadãos angolanos vivem “situações de penúria” e exortou as famílias a esperar dias melhores e “disciplinarem os seus membros a controlar os ânimos”, observando que “manifestações não geram empregos”.

“Reconhecemos (…) que muitas das empresas e famílias ainda vivem situações de escassez, de penúria, de desemprego para a juventude, que exige trabalho e melhores condições, este é um desafio que é colocado nas mãos de todos os angolanos para, em conjunto, ultrapassarmos todas as dificuldades”, afirmou o presidente do grupo parlamentar do MPLA, Américo Kuononoca (ex-Américo Cuononoca).

O posicionamento do político do MPLA foi apresentado hoje na sua declaração política alusiva à sétima reunião plenária extraordinária da quarta sessão legislativa da quarta legislatura da Assembleia Nacional (do MPLA).

Temendo o resultado das dificuldades socioeconómicas por que passam diariamente várias famílias (20 milhões de pobres) e empresas pelo país, o sipaio Américo Kuononoca (ex-Américo Cuononoca) exortou, sobretudo os jovens, a observarem a “disciplina e obediência”, considerando que, embora sendo um direito, “as manifestações não geram emprego”.

“Nunca são as manifestações que resolvem outras necessidades das nossas populações, mas sim a vontade de superar, com espírito patriótico, com a competência profissional, a disciplina, a obediência, a oferta e a cooperação entre trabalhadores e entidade patronal, isto sim é que nos permite superar”, defendeu o candidato a chefe de posto.

Cidadãos de diferentes estratos sociais, sobretudo jovens, têm promovido nos últimos tempos várias manifestações, em Luanda e no interior de Angola, exigindo melhores condições de vida e emprego, melhoria das condições de vida e realização de eleições autárquicas, entre outros. Estes manifestantes esquecem-se, importa reconhecer, que o MPLA ainda não conseguiu resolver estes problemas porque está no Poder há pouco tempo… só 45 anos.

(Auxiliar de leitura para Américo Kuononoca, ex-Américo Cuononoca:
se se descalçar consegue contar até 20.
Se pedir ajuda a Hidulika Kambami chega a 40.
Com mais cinco da Luísa Damião perfaz os tais 45.
Ou seja, 20+20+5)

Américo Kuononoca exortou ainda os jovens a superar as dificuldades “com resiliência” e “nunca com ódio entre classes ou grupos”. Os mais abastados “devem solidarizar-se com os que menos têm, o Estado deve exercer a sua função e as famílias devem educar e disciplinar os seus membros a controlar os ânimos esperando por dias melhores”, incentivou, embora omitindo que esse é um desiderato que só será atingido quando o MPLA chegar aos 100 anos de governação ininterrupta. Já só faltam 55.

“Não afrontando autoridades, não injuriando ou ameaçando outros cidadãos, não fazendo zombaria sobre a condição dos outros em agonia ou aflição, mas promovendo o espírito e a dignidade de cada um de nós”, acrescentou.

A revisão pontual da Constituição proposta pelo Presidente do MPLA, João Lourenço, foi igualmente um dos temas elencados na intervenção de Américo Kuononoca para quem o chefe de Estado é “a razão da estabilidade política” no país. No país, no continente, na Terra e até em Marte, segundo os mais recentes dados enviados pela Sonda Perseverance.

Para o deputado do MPLA, a iniciativa de revisão pontual da Constituição sinaliza “respostas que João Lourenço tem dado a diferentes situações apresentadas pela sociedade civil”, de que são exemplos a libertação da África Austral, da Alemanha do jugo de Hitler, o fim da segregação racial nos EUA, a descoberta da roda, do Raio X, da Penicilina, do computador, da máquina a vapor, da pólvora, do telégrafo e do caminho marítimo (para o Huambo).

“Ouvimos e lemos mensagens precipitadas que se apressam em encontrar falhas ou nos impor doutrinas que não colhem na nossa sociedade, com desconfianças e suspeições imaginadas pelos profetas do cepticismo e do pessimismo, por discordarem ou não compreenderem o sentido da iniciativa do Presidente da República”, reverenciou o sipaio Kuononoca.

Folha 8 com Lusa

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