O poder e a força da… politicagem

O sonho acabou! Definitivamente! “Desacredito”, na capacidade de uma inversão da actual situação sócio-económica, política e financeira, salvo para pior! E o pior será a continuidade da chacina em série… Do Monte Sumi a Kafunfu, com o mesmo no fuzil, abrindo champanhe na mais cruel impunidade… Ontem e hoje!

Por William Tonet

Nunca um regime se orgulhou, em tão pouco tempo (três anos), da paternidade de uma veia genocida, que não respeita o Direito à vida (consagração constitucional), art.º 30.º: “O Estado respeita e protege a vida da pessoa humana, que é inviolável”.

No texto vê-se o tempo do verbo, no gerúndio, mas na prática o fuzil das forças policiais do governo do Estado ASSASSINA e VIOLA a vida dos contrários, no presente do indicativo.

Dúvidas? Até a lista dos últimos, já vai longa: Kassule, MFulumpinga, Kamulingue, Ganga, Sílvio Dala, Inocêncio da Mata, Monte Sumi, todos assassinatos e genocídios onde se banalizou o devido processo legal e desrespeitou os direitos humanos.

Diante desta violência partidocrata, não podem os intelectuais nacionalistas, comprometidos com a vida e o sonho da maioria dos cidadãos, continuar calados, quando a barbárie desfila, impávida e serena.

No MPLA, Marcolino Moco deu, na semana finda, mais um exemplo, preferiu libertar-se das grilhetas que amordaçavam a sua boca, com o cargo de administrador não executivo da SONANGOL. Os outros dirigentes e militantes, ainda se acovardam, diante de tantos erros que debilitam, como nunca antes, a imagem do partido no poder, transformado numa manta de retalhos e em vias de extinção.

O Presidente do MPLA parece demonstrar que tendo o poder das armas, pode prescindir do poder das ideias.

É uma visão perigosa, que começa a descer a Serra da Leba/Huíla, com os calços de travão gastos, esbarrando na insatisfação geral, face ao desemprego, fome e miséria geral, implantada pelo seu regime, cada vez mais entreguista, ao capital estrangeiro.

A má governação, a nomeação de quadros incompetentes, por melhor bajularem o chefe deve indignar e não colher a omissão da maioria, comprometida com a estabilidade social.

O ex-padre e deputado Raul Tati, de Cabinda, em confidência denunciou uma das possíveis razões dos povos de Cabinda e Lunda-Tchokwe pretenderem repristinar os Tratados de Protectorado assinados com o Governo Português: fome, discriminação, intolerância!

“Neste momento em Cabinda, 5k de feijão custa 12.500 kwanzas”, disse Raul Tati, com o coração destroçado, por este valor ser mais de metade do salário mínimo nacional. O alto custo da cesta básica, numa região que contribui com mais de 70% do Produto Interno Bruto nacional é um verdadeiro convite à sublevação social.

Na Lunda, no Kafunfu e arredores o cenário é igual, pois as suas gentes assistem à partida dos diamantes e, em contrapartida, o poder central em Luanda envia-lhes, como sinal de desenvolvimento; sobejos, desprezo, discriminação, fome, desemprego, miséria e morte.

Definitivamente, torna-se insustentável contrariar a tese dos religiosos, que alegam precisar João Lourenço de orações e salvação divina, para o seu consulado não soçobrar nas ruas da amargura, pior do que está a fazer aos seus antigos camaradas de caminhada, todos comedores na gamela, alimentada, com fundos públicos, partidocratamente, delapidados do Estado, nos últimos 45 anos.

Não se trata de defesa dos crimes de corrupção, mas o de se exigir um verdadeiro combate, imparcial, transparente, com leis e magistrados novos, em que todos os dirigentes do MPLA, principalmente os que desempenharam, no passado, funções públicas, incluindo, João Lourenço, enquanto Presidente da República, para dar o exemplo de transparência e seriedade, devem ser escrutinados.

Desviar-se deste horizonte e apontar a selectividade no combate, denota miopia, com mais prejuízos que ganhos, quanto à recuperação efectiva.

Até hoje, não existe um programa de governação, capaz de mobilizar os actores económicos, de tal monta que o volume da roubalheira aumentou consideravelmente, muito fruto da afectação directa de obras públicas, para os amigos, os novos corruptos.

Isso mostra estar Angola a ser governada por uma direcção sem capacidade visionária, de mobilizar os empreendedores do país real, nem dos investidores estrangeiros, face à indefinição das prioridades, concretas, que tenham em conta; regiões, produção, recursos humanos.

A raiva impede o governo unipessoal de reconhecer os erros cometidos em todos os segmentos da sociedade que, temerosa, deixou de confiar nos bancos e na economia, havendo por via disso, milhões de kwanzas nos garrafões e colchões, com medo de um IGAE qualquer e um PGR presidencialista o importunar, por ter dinheiro e querer trabalhar, licitamente.

Nesta senda, o que mais me preocupa é não só “o silêncio dos bons”, que não ajuda João Lourenço por colocá-lo ao feroz escrutínio popular, insatisfeito pela sua governação, apoiada pela falange da bajulação e da comunicação social pública, que fala de uma nova Angola, que só existe nas suas elucubrações.

Eu poderia aconselhar o Presidente da República, meu amigo, mas o problema é de o mesmo não gostar de conselhos, nem ter humildade para reconhecer os erros e borradas que muitos dos seus lugares-tenentes cometem, para sua desgraça futura.

O Kafunfu está aí, numa Lunda que sangra, de fome, miséria, discriminação e falta de tudo, quando das suas entranhas se extrai diamantes, para os colares e brincos das mulheres dos dirigentes do regime, refastelados em Luanda, com seis refeições, muitas com direito a caviar, salmão, bifes do Uruguai e vinhos das melhores adegas francesas, quando o povo é ensinado a viver sem comer.

Meu pai teria vergonha desta gesta de dirigentes, seus camaradas, que na esquina da ambição não se coíbem de eleger, a lei da bala, para a manutenção do poder.

Irascíveis!

Não me revejo na brutalidade humana, que tem impunidade, por isso jamais me calarei, e levarei até às últimas consequências, o dia 30 de Janeiro de 2021, as mais altas instâncias internacionais, as declarações de Eugénio Laborinho e Paulo de Almeida por fazerem apologia a morte… O silêncio do Presidente da República, alguém o evocará…

O MPLA não será nunca capaz de fazer melhor que a politicagem rasca, com o único propósito de satisfazer interesses pessoais e consolidar um poder, cada dia mais contestado.

A lógica do Presidente do MPLA e da República de Angola, nunca nominalmente eleito, por medo da beleza e solenidade da límpida democracia, que abomina a fraude e a batota eleitoral, resiste ao jogo da transparência, através da implantação, sub-reptícia de uma política de terror, que amedronta, adversários internos e dispara contra os opositores externos, através das forças policiais e militares.

É o anúncio da chegada do fascismo.

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