A Cedesa, entidade que analisa assuntos políticos e económicos de Angola, considerou que “é possível encarar” a criação de um banco de investimento e fomento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), atribuindo a paternidade da ideia ao Presidente angolano. Mentira completa. João Lourenço limitou-se a plagiar a ideia.
Num documento a que a Lusa teve acesso, a Cedesa propõe que, para isso, que este banco de investimento e fomento, que seria “um instrumento de financiamento do desenvolvimento” dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), deveria pretender concretizar “o pilar económico da CPLP”.
“A nossa conclusão é que é possível encarar a criação de um banco de investimento e fomento da CPLP com capitais mistos e uma estrutura razoavelmente independente e eficiente, com fontes de financiamento diversas e plurais”, aponta a entidade no documento.
A Cedesa sugere que a instituição teria como objectivos o financiamento de grandes obras e infra-estruturas que aproximem os PALOP, o desenvolvimento das respectivas economias e dos mercados de acesso comum e o levantamento da qualidade de vida das populações com mais carências.
Para isso, a estratégia da instituição teria de sustentar-se em “três grandes eixos estratégicos que se transformariam, na prática, em três linhas de crédito consignadas”.
O primeiro seria dedicado a infra-estruturas – como estruturas e redes digitais, portos, aeroportos ou estradas -, o segundo para projectos de crescimento económico – fábricas, empresas e actividades económicas promotoras do crescimento – e o último para o desenvolvimento económico e social – construção de hospitais, escolas, formação de recursos humanos.
A constituição do capital social do banco seria dividida pela subscrição dos Estados-membros (1.000 milhões de euros), dos observadores associados (500 milhões de euros) e por privados (250 milhões de euros), sendo que a instituição “produziria dividendos das suas actividades mutuárias” e “só financiaria projectos nos países subscritores de capital social”.
“Acredita-se que este pode ser um esboço de uma instituição vocacionada para os PALOP, conjugando as vantagens da propriedade pública e privada em simultâneo, derivando de várias fontes de financiamento, permitindo integrar melhor os mercados lusófonos, fazer crescer cada um dos países e melhorar as condições de vida das populações que falam português, no final, o objectivo último desta iniciativa.”, conclui a Cedesa.
Segundo a Lusa – Agência de Notícias de Portugal, “o Presidente angolano, João Lourenço, sugeriu, no passado dia 17, a criação de um banco de investimento para a CPLP para desenvolver o potencial económico dos países que integram a organização”.
“Podemos ser uma força económica relevante se trabalharmos para isso, deixamos o desafio de se começar a pensar na pertinência e viabilidade de criação de um banco de investimentos da CPLP”, sugeriu João Lourenço, no discurso de encerramento da XIII Conferencia de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, que decorreu em Luanda, diz a Lusa.
A criação de um potencial banco está alinhada com a intenção de inclusão de um novo pilar económico e empresarial, uma das prioridades da presidência angolana da CPLP.
Plagiar é fácil e barato
A ideia do banco, apresentada por João Lourenço, é um plágio porque já fora apresentada, em 2015, pelo então secretário Executivo da CPLP, embaixador Murade Isaac Murargy.
A proposta da criação de um banco de investimentos para a CPLP – repita-se – plagiada pelo Presidente João Lourenço já fora proposta, em 2015, pelo então secretário Executivo, em Díli, embaixador Murade Isaac Murargy.
“Podemos ser uma força económica relevante se trabalharmos para isso, deixamos o desafio de se começar a pensar na pertinência e viabilidade de criação de um banco de investimentos da CPLP”, sugeriu João Lourenço, no discurso de encerramento da XIII Conferencia de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, que decorreu em Luanda.
Retrocedamos a 25 de Julho de 2015. A CPLP deve criar um banco ou agência multilateral de investimento para dar maior apoio às empresas dos Estados-membros, consolidando assim o papel de “intervenção económica” da organização, defendeu nesse dia o seu secretário Executivo.
“A CPLP deve ser não um bloco económico mas um bloco com intervenção económica. É um bloco essencialmente político e diplomático mas com intervenção económica”, disse em Díli, Timor-Leste, o embaixador Murade Isaac Murargy.
“O papel da CPLP, do secretariado, dos Estados-membros, é apoiar o empresariado, criar condições, criar um ambiente de negócios propício para que eles livremente possam actuar, fomentando e promovendo os investimentos”, afirmou.
Murade Isaac Murargy falava depois da XX reunião do Conselho de Ministros que analisou estes e outros temas no âmbito do debate sobre a nova visão estratégica da CPLP, com muitos sectores a defenderem que a organização deve procurar ser mais prática e eficaz, com acções que beneficiem os seus cidadãos.
Os responsáveis destacaram o desenvolvimento de maiores laços económicos, capitalizando na marca CPLP e na sua posição geográfica em quatro continentes.
Como exemplo das medidas que podiam ser postas em prática, e já apresentada a Timor-Leste, Murade Isaac Murargy referiu a “criação de um banco de investimento, uma agência multilateral de investimentos, que possa permitir um apoio as empresas”.
“Criar uma instituição dessa natureza ao nível da CPLP em que todos os Estados-membros, os países, os bancos, sejam accionistas desse banco, e onde podem entrar o Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD) ou outros. Algo que permita colaborar com as empresas que queiram intervir nas nossas áreas”, destacou.
O objectivo principal da presença da CPLP na Ásia, por exemplo, é exactamente, destacou, “atrair os empresários da ASEAN para que colaborem também com as empresas” lusófonas.
No que toca à visão estratégica, Murade Isaac Murargy disse que deve ter “uma componente mais política, mais económica e empresarial”, procurando ouvir não apenas as opiniões dos Estados-membros mas também a sociedade civil, o mundo empresarial e os académicos.
“Uma visão abrangente em que o cidadão da CPLP se sinta também envolvido no futuro da CPLP”, disse.
Igualmente importante, destacou, é fomentar a aproximação com o crescente número de Estados que querem ser observadores associados. Já na mesa estão propostas do Uruguai, Peru e Israel, juntando-se à mais antiga de Marrocos.
A criação de um potencial banco estava já então alinhada com a intenção de inclusão de um novo pilar económico e empresarial, uma das prioridades da presidência angolana da CPLP, que começou nessa altura.
Folha 8 com Lusa