Segundo o “Vatican News”, em Dezembro de 2020 o presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), D. Filomeno do Nascimento Viera Dias, terá dito que “o foco no pobre permanece uma prioridade da igreja”.
“O foco no pobre permanece uma prioridade, devemos pensar juntos o que podemos fazer por eles, de forma organizada, sistematizada e programada, cada um pense qual o lugar do pobre na sua vida e no seu carisma e como se comprometer com ele, não de modo ocasional, circunstancial, mas ordinário e inciso”, disse Filomeno do Nascimento Viera Dias.
Recorrendo-se da Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, D. Filomeno do Nascimento Viera Dias disse que a caridade é acompanhar uma pessoa que sofre.
“Outro sonho neste nosso peregrinar de família é a pastoral vocacional, muito espero que a pastoral vocacional seja transversal a toda a vida diocesana e merece o mesmo enfoque que as outras pastorais”, afirmou, por outro lado o pastor da Igreja Católica em Luanda.
Em Março de 2020, o porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé afirmou que o país estava “numa penúria” há 7 anos, mas garantiu que “brevemente ou a seu tempo” as autoridades competentes vão responder. E enquanto não respondem, muitos angolanos vão confirmar que não lhes foi possível viver sem comer. Isto porque, entretanto, morreram.
Os bispos católicos angolanos anunciaram na altura que o Presidente João Lourenço (não se sabe se na qualidade de líder do MPLA ou de Titular do Poder Executivo) assegurou que “em breve” seriam conhecidos os resultados do processo de repatriamento de capitais ilícitos, considerando que Angola está num contexto de “penúria e muita delicadeza”. É claro que a penúria não é generalizada. Membros do Governo e bispos não sabem o que é uma situação de grande pobreza, de indigência, de falta do que é necessário (penúria).
“O contexto sociopolítico do país é, de facto, de muita delicadeza. Quando há pobreza, há crise, todo mundo pede, todo mundo chora, mas as repostas tornam-se muito difíceis, porque não estamos na abundância do passado, mas estamos numa penúria que já nos leva há mais de sete anos”, afirmou o porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Belmiro Chissengueti.
Em declarações, no Palácio Presidencial, em Luanda, após os prelados católicos serem recebidos, em audiência, por João Lourenço, o bispo Belmiro Chissengueti deu conta que o repatriamento de capitais ilícitos foi um dos pontos abordados.
Sobre o assunto, o também bispo de Cabinda fez saber que João Lourenço garantiu aos bispos da CEAST, presentes no encontro, que “brevemente ou a seu tempo” as autoridades competentes empenhadas nesse processo, nomeadamente a Procuradoria-Geral da República e o Ministério das Finanças, “darão a informação pontual a respeito disso”.
O “difícil” quadro socioeconómico do país, “agravado com a queda do preço do petróleo”, o suporte quase exclusivo da economia angolana, também constitui preocupação dos bispos católicos apresentada ao Presidente angolano. “De maneira que temos de tomar consciência de tempos de bastante austeridade e dificuldade e que exigirão a compreensão e colaboração de todos”, sustentou.
Será que os dirigentes da Igreja Católica (do Governo não vale a pena falar) vão abdicar de alguma das – pelo menos três – refeições que têm por dia para compartilhar com aqueles, também angolanos, que foram gerados com fome, nasceram com fome e que vão morrer com… fome?
Para o porta-voz da CEAST, no quadro de “muita dificuldade” que o país vive, atenção especial deve ser dada “às franjas mais vulneráveis da população para que não sejam muito atingidas” pelo flagelo. “Vimos também a questão da ordem social que é necessário ajudar a garantir e também outras opções que o Estado deve tomar para que se possa salvaguardar a paz e a reconciliação nacional”, acrescentou.
No domínio eclesial, frisou, o Presidente da República (não nominalmente eleito), Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, garantiu aos 17 bispos presentes no encontro que, apesar das limitações conjunturais, a requalificação do santuário da Muxima, maior centro mariano da África subsaariana, cujas obras foram adjudicadas em 2018, “é para andar”.
O Governo previa gastar mais de 260 milhões de euros com a requalificação da via e do santuário da Muxima, município da Quiçama, em Luanda, empreitadas que avançam ao fim de 10 anos e que vão envolver as construtoras de origem portuguesa Somague e Casais.
A informação consta de quatro despachos assinados por João Lourenço, em 19 de Dezembro de 2018, autorizando a contratação das construtoras para as empreitadas, nomeadamente a edificação da basílica para 4.600 fiéis.
O bispo Belmiro Chissengueti assinalou ainda que a basílica da Muxima vai contribuir para o turismo religioso, será um espaço “gerador de empregos directos e indirectos” e durante a vida do empreendimento “muitos irão de encontrar ali o seu ganha-pão”.
Este projecto foi lançado em 2008 pelo então Presidente José Eduardo dos Santos que, cerca de um ano depois, aquando da visita pastoral de Bento XVI a Angola, mostrou a maqueta ao papa e ofereceu a futura basílica à Santa Sé.
A verdade da mentira
Novembro de 2015. Filomeno do Nascimento Vieira Dias passava a ser o presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), em substituição de Gabriel Mbilingue, arcebispo do Lubango.
Que tal irmos à memória buscar factos que importa não esquecer? Desde logo porque a verdade não prescreve.
Embora de vez em quando surjam revoltas dentro da própria Igreja Católica, certo é que a sua hierarquia em Angola continuava a fazer o jogo do regime, esquecendo que o rebanho é que precisa de ser protegido.
Contrariando os seus mais basilares princípios, a Igreja Católica angolana esteve (será que deixou de estar?) claramente “vendida” ao regime, sendo conivente nas acções de dominação, de prepotência, de desrespeito pelos direitos humanos. Aliás, a tese da libertação foi há muito – mas sobretudo nos últimos anos – mandada às malvas pela hierarquia católica.
Por muitas que sejam as vezes em que os responsáveis católicos comunguem, o pecado – por exemplo – do acordo celebrado em 2011 entre o MPLA e a Igreja Católica para que esta o apoiasse na campanha eleitoral de 2012 pode ser perdoado mas não pode ser esquecido.
“Da parte do partido no poder agenciou o acordo Manuel Vicente, na condição de PCA da Sonangol a mando de Eduardo dos Santos, ao passo que da parte da Igreja estiveram alguns bispos do regime, Dom Damião Franklim e a Filomeno Vieira Dias de Cabinda, com orientações do militante cardeal Alexandre do Nascimento”, relatam notícias da época, nunca desmentidas.
Que a hierarquia da Igreja Católica de Angola continuava a querer agradar a Deus (José Eduardo dos Santos) e ao Diabo (José Eduardo dos Santos), aviltando os seus mais sublimes fundamentos de luta pela verdade e do espírito de missão, que deveria ser o de dar voz a quem a não tem, não era – nem é – novidade.
A 3 de Maio de 2010, D. Filomeno Vieira Dias dissera que a liberdade de informar e de ser informado é um direito fundamental que não deve ser subalternizado.
Ouvi-lo a falar de liberdade de informar quando, em todo o país, se era (e continua a ser) detido por ter ideias diferentes, sendo que em muitos casos se era preso só porque as autoridades pensavam que alguém tinha ideias diferentes, é algo macabro.
D. Filomeno Vieira Dias disse então que a informação joga um papel fundamental na vida da sociedade, por isso os comunicadores devem fazê-lo com responsabilidade.
Será a responsabilidade a que aludia D. Filomeno Vieira Dias, dizer apenas a verdade oficial do regime? Seria ser-se livre para ter apenas a liberdade de concordar com as arbitrariedades deste regime neocolonial?
“A liberdade de imprensa é um direito ligado às liberdades fundamentais do homem”, sublinhou na altura o prelado, falando a propósito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, proclamado pela UNESCO em 1993.
É um direito mas, note-se, apenas nos Estados de Direito, coisa que Angola (ainda) não é de facto, embora de jure o queira parecer. Aliás, nenhum Estado de Direito viola os direitos humanos de forma tão soez e execrável como fez, faz e continuará a fazer o regime angolano do MPLA.
O regime do MPLA – perante a criminosa indiferença da comunidade internacional – já elaborou o seu plano e já estão contratados os “assassinos” para eliminar sem deixar rasto todos os que teimem em pensar pela própria cabeça, todos os que teimem em dizer o que pensam ser a verdade, dando voz a quem a não tem. Os jornalistas não serão excepção. Os do Folha 8 estão na lista. É uma questão de tempo e de oportunidade.
O principal visado foi, é e continua a ser, o nosso director, William Tonet, “pela rudeza dos escritos, no seu jornal, onde não falta a regularidade de publicação de segredos do Estado, calúnia e difamação, contra o camarada Presidente, sua família e dirigentes do partido, o MPLA, e membros do governo”, justificam, no documento considerado secreto, os algozes do regime.
Os avisos são recorrentes e já fazem parte do nosso quotidiano. E alguns até merecem, talvez por serem pouco originais e repetitivos, a nossa condescendência. Também nós matemos a certeza de que a luta continua e a vitória será certa!
Os algozes do regime continuam apostados em matar os mensageiros. Ainda não se convenceram que matar o mensageiro não resulta. A liberdade continua viva e não há mísseis intercontinentais, sejam de Paulo de Almeida ou de Eugénio Laborinho, capaz de a destruir.