Um grupo de jovens convocou uma manifestação de protesto contra a acumulação do lixo em Luanda, já proibida pelo governo provincial, que acusam de adoptar “dois pesos e duas medidas” consoante as iniciativas.
Israel Campos, um dos promotores da manifestação “Luanda Lixada”, marcada para 1 de Maio, explicou à Lusa que a carta comunicando a realização da manifestação foi endereçada ao Governo Provincial de Luanda (GPL) em 21 de Abril, tendo este respondido “em tempo recorde” no dia seguinte, declinando o pedido.
“Não faz sentido. Ainda há duas semanas houve uma marcha relativa à violência contra as mulheres na qual participei, bem como dirigentes do Estado. Não houve problemas e, no final, até a ministra discursou. Porque é que algumas iniciativas são permitidas e outras não? Porque é que não podemos reclamar da situação do lixo, das moscas e dos mosquitos?”, questionou o jovem jornalista, que também esteve ligado ao protesto contra a brutalidade policial em Setembro de 2020.
Na resposta aos organizadores, o GPL justifica a proibição com o decreto presidencial 77/21, de 26 de Março, que proíbe a concentração de mais de 10 pessoas na via pública devido à Covid-19.
Um critério que, segundo Israel Campos, não tem sido aplicado noutras ocasiões, nomeadamente em iniciativas partidárias que têm ocorrido em todo o país, com enormes aglomerados “onde muitas vezes nem se respeita o distanciamento”.
Na sua página da rede social Instagram, o jovem partilhou imagens recentes de ajuntamentos na marcha das mulheres, em Luanda e de actos partidários com militantes do MPLA, partido do poder, e da UNITA, principal partido da oposição.
Campos disse à Lusa que a pandemia é uma preocupação dos jovens e que vem expressa na comunicação endereçada ao GPL, onde se lê que os promotores da manifestação asseguram o “cumprimento de todas as medidas de biossegurança orientadas pelas autoridades sanitárias nacionais”.
A marcha pacífica prevê iniciar-se às 11:00 no Largo das Heroínas rumando até à marginal onde os jovens pretendem manter-se até as 18:00, em sinal de protesto.
O objectivo é “manifestar a insatisfação pública generalizada pela problemática do lixo em Luanda e das consequências que o aumento considerável de insectos, como as moscas e mosquitos, trarão para a saúde pública, bem como promover uma campanha de educação ambiental para despertar a consciência dos próprios cidadãos”.
O lixo acumulado tem sido uma preocupação para os munícipes da capital angolana, face às toneladas de detritos que têm inundado as ruas e os bairros, desde a suspensão dos contratos com os operadores de gestão dos resíduos, em Dezembro de 2020.
No final de Março, o GPL anunciou que sete empresas iriam começar a fazer a recolha de lixo, mas o problema ainda não está resolvido.