A Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana deteve mais de 20 oficiais, entre os quais o comandante da Casa de Segurança do Presidente da República na província do Cuando Cubango. Por este andar, ainda vai ser “detido” o próprio titular da Cada de (in)Segurança, João Lourenço.
Estas detenções, realizada no âmbito da operação “Caranguejo”, iniciada na sequência da detenção, em Luanda, de um major da Casa de Segurança do Presidente da República, encontrado com carradas de somas monetárias em euros, dólares e kwanzas, guardadas em malas na sua residência, foram confirmadas pelo porta-voz da PGR, Álvaro João.
“O mesmo [comandante da Casa de Segurança do Presidente da República no Cuando Cubango) foi detido e diligências continuam para se apurar outras pessoas envolvidas”, disse Álvaro João, em declarações à Rádio Nacional de Angola.
A emissora pública (um dos órgãos ao serviço exclusivo do MPLA), citando uma fonte da PGR, informou que a PGR, através da sua Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal, efectuou mais de 20 detenções, entre as quais do comandante da Casa de Segurança do Presidente da República no Cuando Cubango, coronel Manuel Correia.
Entre os detidos está igualmente o presidente do Cuando Cubango Futebol Clube, capitão Atanásio Lucas José, e seis oficiais ligados à área de pessoal e quadros da Casa de segurança no Cuando Cubango. No acto de detenção, foram também encontradas e apreendidas elevadas somas em kwanzas guardadas em contentores.
A operação da PGR é liderada por oficiais da DNIAP de Luanda, que deverão permanecer em Menongue, capital do Cuando Cubango, durante os próximos dias.
A PGR anunciou a 24 de Maio passado que foi aberto um processo que envolve oficiais das Forças Armadas Angolanas afectos à Casa de Segurança do Presidente da República, por suspeita do cometimento dos crimes de peculato, retenção de moeda, associação criminosa e outros.
A nota da PGR frisava que no âmbito do referido processo foram apreendidos valores monetários “em dinheiro sonante, guardados em caixas e malas, na ordem de milhões, em dólares norte-americanos, em euros e em kwanzas, bem como residências e viaturas”.
O chefe das finanças da banda musical da Presidência da República, major Pedro Lussaty, foi detido em posse de duas malas com dez milhões de dólares e quatro milhões de euros, supostamente a tentar sair do país.
Na sequência da investigação, o Presidente da República exonerou sete oficiais da sua Casa de Segurança e demitiu o responsável máximo e ministro de Estado, também general, Pedro Sebastião.
Jonas Savimbi dizia aos seus seguidores: “Vocês estão a dormir e o MPLA está a enganar-vos”. Pelos vistos, também João Lourenço esteve (e continua a estar) a dormir durante muito tempo e, por isso, o MPLA o enganou. Será? Ou, pelo contrário, este é mais um caso de, citando João Lourenço, alguém que “viu roubar, participou no roubo, beneficiou do roubo mas não é ladrão”?
É que o património roubado pelo major Pedro Lussaty não foi conseguido em meia dúzia de dias, nem poderia ter sido constituído sem a cobertura de muitos altos dirigentes do partido e não apenas de meia dúzia de oficiais superiores das FAA. Também neste escândalo da Casa de Segurança da Presidência, o exemplo deve (devia) partir de cima.
Apesar de ter sido demitido, importa perguntar: O que terá a dizer sobre isto o general Pedro Sebastião, então Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República?
Ao ser detido no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, Pedro Lussaty não conseguiu (ou não quis, ou recebeu ordens para não conseguir) justificar a origem do dinheiro.
Em face de tudo isto, cujo núcleo duro da ladroagem funcionava dentro de própria “casa” de João Lourenço e, pelos vistos, há muito tempo, o Presidente exonerou os seguintes Oficiais Generais:
Tenente-General Ernesto Guerra Pires, do cargo de Consultor do Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República;
Tenente-General Angelino Domingos Vieira, do cargo de Secretário para o Pessoal e Quadros da Casa de Segurança do Presidente da República;
Tenente-General José Manuel Felipe Fernandes, do cargo de Secretário-Geral da Casa de Segurança do Presidente da República;
Tenente-General João Francisco Cristóvão, do cargo de Director de Gabinete do Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República;
Tenente-General Paulo Maria Bravo da Costa, do cargo de Secretário para Logística e Infra-Estruturas da Casa de Segurança do Presidente da República;
Brigadeiro José Barroso Nicolau, do cargo de Assistente Principal da Secretaria para os Assuntos dos Órgãos de Inteligência e Segurança de Estado da Casa de Segurança do Presidente da República.
O regime já não tem voltas a dar. Corroeu, gangrenou e a sobrevivência só é possível, com o recurso ao bico das baionetas, das balas assassinas e das bombas dos canhões, que também tem os dias contados, pois os “disparadores”, tratados como carne para canhão e muitos pós desmobilização, têm como reforma, vegetar nos contentores de lixo, para sobreviver, começam a ganhar consciência de serem usados como meros assassinos, para defender um regime e casta, que não lhes tem respeito e consideração, pois usam-nos apenas em proveito umbilical, para continuarem refastelados na pirâmide de um poder déspota.
O MPLA implantou uma verdadeira desestruturação política do Estado operacionalizada por um regime governamental absolutista que transforma o défice democrático, o “modus operandi” de uma governança acéfala que faz da “violência policial” um mecanismo de contenção das massas sociais, adestrando-as conforme a lógica do medo e da precariedade existencial, tornando-as dóceis e submissas, com o apoio estratégico de um programa ultraliberal, que escancara a economia ao capital estrangeiro, que branqueia a corrupção e a evasão de capitais, numa óptica, completamente avessa ao crivo democrático.
Um cidadão foi exposto, na comunicação social pública, como tendo engendrado de modo próprio um desvio monstruoso e bilionário. Mentira! A cadeia de comando militar é rigorosa e vertical no mando e, tratando-se da Casa de Segurança do Presidência da República, onde existe a dualidade funcional: Presidente da República e Comandante-em-Chefe das FAA, nada pode passar despercebido, durante tanto tempo, sem que as assinaturas decisórias tenham sido apostas nas devidas e competentes autorizações de levantamento dos montantes no Banco Nacional de Angola, visando alimentar a selectiva e corrupta distribuição, entre as estrelas bélicas.
A não ser que estejamos diante de uma completa baderna institucional da Presidência da República, só comparada a um covil de larápios onde impera a lei da ladroagem.
Acreditar que o major Pedro Lussaty chegue, por engenharia mental, a ludibriar mais de 10 generais, incluindo o Comandante- em-Chefe das Forças Armadas, só pode ser uma das mais inverosímeis mentiras e ofensa à maioria dos angolanos de bem.
Lussaty é mais um embuste, construído para ludibriar a não realização das eleições autárquicas, o fracasso do programa económico, a tentativa de adiamento das eleições de 2022, com o adiamento do registo eleitoral e o falhado e selectivo combate à corrupção que gastou mais dinheiro do que recuperou, em quatro anos, com novos milionários, reforçados na classe das magistraturas.
Pedro Lussaty é laranja dos generais, que se fartaram de comer e, como era demais a exposição ao facilitismo, foram completamente incompetentes, porquanto algumas trincheiras indignaram-se e denunciaram o feito, sendo descobertos “infantilmente”, ao ponto de irritarem tanto o chefe máximo, que não teve outra alternativa que não fosse exonerar toda a corte, incluindo o chefe da Casa de Segurança, Pedro Sebastião, excluindo o seu adjunto, o “general-irmão” do Presidente da República que, alegadamente, “assistiu aos roubos, beneficiou com os roubos, mas não é ladrão”, como os demais que foram copiosamente “enxotados” e tratados como tal em hasta pública.
Acreditar ser este acto, uma demonstração da eficácia de João Lourenço no combate aos crimes de corrupção, sai da linha do razoável e torna o ridículo uma pérola propulsora da máquina mental dos membros do bureau político do MPLA, que ante o óbvio: ADN da ladroagem do regime, preferem considerar não que João Lourenço pode ser Deus, mas que é o próprio Deus, pois é isento de errar e tem uma inocência e bondade transcendental.
O que intriga e indigna os angolanos de bem é ver desfilar tanta incompetência, ladroagem, corrupção, no seio de um partido político que tem os códigos dos cofres públicos e os seus membros coloquem em primeiro plano o partido ao invés de Angola. Como pode ser considerado pessoa de bem, um militante do MPLA que se orgulha de em 46 anos de poder absoluto e exclusivo, o partido resistir na não criação de órgãos de soberania fortes, independentes, optando em colocar no topo da pirâmide o MPLA, não como quarto, mas primeiro órgão de soberania que a todos se sobrepõe?
É preciso uma verdadeira reforma mental da elite dirigente deste partido sob pena de sucumbirem, na esquina da nova aurora, pois não podem continuar a demonstrar amar mais o dinheiro que o cidadão.
Como interpretar o fundamento do Mandado de Buscas e Apreensões da Procuradoria da Região Militar de Luanda que, publicamente, vem demonstrar não conhecer sequer o nome dos seus generais, ao ponto do agente, sobre quem impende o mandado ser identificado com a sua alcunha: Tenente General “Maneco”. Insólito! É a justiça que temos…
A insanidade da classe dirigente pode levar à instabilidade de um país, principalmente, quando políticos e intelectuais, hipotecam o saber para idolatrar o poder absoluto de um homem que esvazia os órgãos de soberania. A intelectualidade deve indignar-se e dizer que nenhum presidente, por mais competência que tenha, não pode querer monopolizar tudo e todos, mesmo quando a fome e a miséria avançam para o interior dos cidadãos, que morrem face à brutalidade mental dos dirigentes.
Na maioria das vezes servem de carne de canhão, depois são tratados pior do que leprosos. Os soldados pobres garantem a sobrevivência de poderes e regimes déspotas que se servem deles e depois, como sempre, tratam-nos como cães mendigos, sem ter, sequer uma reforma digna para sobreviver. Este soldado que não é desconhecido para continuar a viver tem como despensa os contentores espalhados por esta Luanda e Angola fora. Deveriam ter vergonha, senhores governantes, pois não vivem para servir, mas para se servir.